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Ao dividir cargos por religião, política do Líbano favorece a corrupção

10.08.20 17:48

O professor de engenharia libanês Hassan Diab (foto) renunciou ao cargo de primeiro-ministro de seu país nesta segunda, 10. No seu discurso pela televisão, ele fez um duro ataque à corrupção. “Eu disse anteriormente que o sistema de corrupção está profundamente enraizado em todas as funções do estado. No entanto, descobri que o sistema corrupto é maior que o estado”, disse Diab. “Um dos muitos exemplos de corrupção explodiu no porto de Beirute, e a calamidade se abateu sobre o Líbano. Mas os casos de corrupção são generalizados no cenário político e administrativo do país.”

Em grande parte, a corrupção no Líbano é causada pelo sistema político chamado de confessionalismo, em que cargos no governo, no Congresso e em outras instituições são preenchidos de acordo com a religião. O presidente sempre deve ser um cristão maronita. O primeiro-ministro, um muçulmano sunita. O porta-voz do Parlamento, um muçulmano sunita. O vice-presidente do Parlamento, cristão ortodoxo. O chefe das Forças Armadas, druso. “Esse é um sistema muito antigo na história do país, que ajuda a garantir a representação das minorias”, diz Mario Schettino Valente, professor de relações internacionais do Ibmec, em Belo Horizonte. “O problema é que ele também gera corrupção ao reduzir a competição por esses postos e favorecer o clientelismo.”

Quando uma posição é aberta, um determinado grupo religioso fica responsável por ocupá-la. Mas há poucos candidatos com capacidade para a função dentro de uma mesma denominação. A escolha, no final, acaba ficando nas mãos de uma elite, que distribui entre si os postos oficiais que lhe cabem. Depois, ao assumir o seu cargo, o escolhido passa a se preocupar principalmente com o grupo que o colocou no poder, o que acaba propiciando o clientelismo. “Embora os libaneses manifestem sua insatisfação com o atual sistema, por causa da corrupção e da perpetuação dos mesmos grupos no poder, não há ainda uma alternativa de reforma profunda do estado”, diz Valente.

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