O enredo fantástico do bolsonarismo (e o fiasco lulista)
Tudo que Bolsonaro deseja é se apropriar da Constituição e de palavras como liberdade e democracia. Quanto a Lula, o seu fiasco não fez diferença. O protagonismo do dia era do presidente
A notícia deste domingo foi uma não-notícia: Jair Bolsonaro (foto) decidiu guardar as armas nas manifestações do Dia do Trabalho organizadas por seus seguidores. Em Brasília, ele fez uma rápida caminhada para cumprimentar apoiadores e gravou um vídeo curto. Também foi por vídeo sua participação no evento de São Paulo. Ele nada disse contra o Supremo, o TSE ou seus ministros. Nem fez referências ao suposto papel eleitoral das Forças Armadas. Nas duas gravações lacônicas, ele dedicou o dia à celebração "da Constituição, da democracia e da liberdade".
Lula, o outro personagem do dia, subiu ao palco em São Paulo e falou por cerca de quinze minutos. A plateia, formada por sindicalistas e militantes de esquerda, era rala - um fiasco. Ele pediu desculpas por uma asneira dita no sábado, quando deu a entender que policiais, bem, não são gente. Agrediu o presidente da República com termos como "genocida" e "miliciano". Abordou pontos fracos do governo, como desemprego, inflação e políticas sociais. Agiu, enfim, como um candidato de oposição.
O público era pouco e Lula hoje soa velho. Mas nada disso fez muita diferença. Desde sempre, esteve nas mãos de Bolsonaro definir a temperatura do dia, e ele optou por deixá-lo morno.
Não vejo razões para comemorar. Esse momento de contenção, que já havia sido ensaiado no meio da semana, quando Bolsonaro disse que jamais foi sua intenção "peitar o STF", não representa uma mudança de estilo há poucos meses das eleições.
Uma maneira de descrever o governo Bolsonaro é como um esforço prolongado para inverter o sentido da Constituição brasileira, bem como de palavras como liberdade e democracia, empregadas por ele nas falas deste domingo. Pouco importa que a Constituição de 1988 represente a antítese da ditadura militar que a antecedeu, que votações indiretas sejam incompatíveis com democracia, que liberdade não conviva com tortura. Para o bolsonarismo, é num regime autoritário que o bem e a felicidade se consumam.
Na última semana, Bolsonaro conseguiu uma vitória inegável em seu embate com o STF. Defendeu um deputado, conquistando a simpatia do Congresso, e fez valer sua visão da liberdade de expressão contra um tribunal que só 24% dos brasileiros consideram ter uma atuação boa ou ótima, segundo o Datafolha. O domingo serviu para que ele consolidasse a sua vitória, não como um bárbaro que ataca as instituições de fora, rugindo contra juízes, parlamentares e quaisquer outros inimigos, mas como o sereno campeão da democracia, o legítimo intérprete do texto constitucional.
Tudo que Bolsonaro deseja é chegar às vésperas das eleições deste ano podendo dizer que uma contestação do resultado das urnas não representa uma ruptura selvagem da ordem democrática, mas sim um movimento para preservar a liberdade dos brasileiros e para deter aqueles que desejam "jogar fora das quatro linhas da Constituição". Ele sonha, enfim, em discursar como fizeram os golpistas de 1964. A moderação deste domingo colabora com esse enredo fantástico. Novas contestações das urnas eletrônicas e da confiabilidade do sistema eleitoral virão nos próximos capítulos.
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Comentários (10)
Paulo Ferreira
2022-05-03 07:40:30Jornalista e vidente, com trocadilho. Vou checar com mãe Dinah as suas predições.
Marina
2022-05-02 18:39:20É uma tragédia anunciada.
NELSON VIDAL GOMES
2022-05-02 18:30:17Mas a bem da verdade diga-se que Bolsonaro já tende a passar Lula nas pesquisas eleitorais, goste-se mais ou menos. Namastê!
NELSON VIDAL GOMES
2022-05-02 18:07:06Falta esta Revista que tanto admiramos e a qual somos gratos por existir, reconhecer, como de costume, a verdade do fato, gostemos ou não, para mim é indiferente por que tendo a votar em branco, que Bolsonaro, a seu turno, já tende a passar à frente de Lula nas pesquisas eleitorais para à eleição presidencial . Namastê!
Alberto de Araújo
2022-05-02 17:59:47A prisão gangrenou o velho cérebro do Lula. Dá sinais de alzheimer. Esquece o que diz.Não está convicto de sua liberdade e nem de sua inocência. As provas contra ele estão bem vivas. Foi solto por um contorcionismo do STF. A política substituiu a toga dos ministros do STF.
Levi Braga Granado
2022-05-02 17:47:04Um deputado do baixissimo clero, sem proposta,desconhecido de todo o pais, torna-se lider, de uma nação, sem exemplo desde 1500. Que pais e este??????
CARLOS HENRIQUE
2022-05-02 17:45:19Aí é que está o potencial da TERCEIRA VIA! Se MORO não puder concorrer, sugiro PAULO HARTUNG, o competente ex-governador do Espírito Santo!
HansRudolf Zollinger
2022-05-02 15:21:27Povo na rua: SERGIO MORO Presidente! É a última chance para um Brasil democrático, sem corruptos!
Elcio Morais de Oliveira
2022-05-02 15:14:19Em outubro, nem Lula nem Bolsonaro. Simples assim!
Osmar
2022-05-02 14:54:39A Crusoe virou a casaca e esqueceu que os semideuses do STF já a censuraram uma vez! Quem é o perígo real pra democracia? Está na cara e não opinião popular que é o STF com seus semideuses rasgando a constituição pra defender os bandidos das suas gangues políticas! São 2 pesos e 2 medidas para o STF, isto está claríssimo…. Pode roubar como os ladroes que pilharam a Petrobras que estão soltos e até candidatos defendidos por eles! Crusoe onde está mesmo o perigo pra democracia???