Por que Bolsonaro tem medo da PF?
Ao deixar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz Sergio Moro escancarou as tentativas do presidente Jair Bolsonaro (foto) de interferir em nomeações e, também, ter acesso a informações sobre investigações em andamento na Polícia Federal. Na coletiva em que confirmou seu pedido de demissão, o ex-titular dos processos da Lava...
Ao deixar o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz Sergio Moro escancarou as tentativas do presidente Jair Bolsonaro (foto) de interferir em nomeações e, também, ter acesso a informações sobre investigações em andamento na Polícia Federal.
Na coletiva em que confirmou seu pedido de demissão, o ex-titular dos processos da Lava Jato citou a intenção do presidente de indicar os superintendentes em Pernambuco e no Rio de Janeiro e, também, o medo dele de investigações em trâmite no Supremo Tribunal Federal, o STF. Para resolver a situação, Bolsonaro queria um diretor-geral da PF com quem tivesse “contato pessoal” para poder ligar e ter acesso a informações e relatórios de inteligência.
No caso do STF, Bolsonaro poderá, com a indicação para o comando da PF, trocar a equipe que atua nos processos em trâmite na corte superior. Hoje, na sede da corporação, funciona o Serviço de Inquéritos Especiais, o Sinq, onde estão todas investigações envolvendo pessoas com foro privilegiado. Como mostrou Crusoé, o presidente está preocupado com os andamentos dos inquéritos que investigam grupos organizados nas redes que espalham notícias falsas e atacam outras instituições.
Em Pernambuco, onde quer ter um nome seu no comando da PF, ao menos duas investigações são de interesse do presidente e de seus aliados. Uma delas tem como objeto fatos relacionados ao grupo político de Fernando Bezerra, líder do governo no Senado Federal. O parlamentar tem sido um dos principais nomes da gestão Bolsonaro no diálogo político com o Congresso. Ele já foi citado em delações e é acusado de desviar dinheiro de obras públicas à época que foi ministro da era PT.
Outro na mira da PF pernambucana é o ex-aliado de Bolsonaro, Luciano Bivar, no caso envolvendo candidaturas laranjas do PSL. Os fatos são da época em que o presidente era filiado ao partido e Gustavo Bebianno, falecido ex-ministro, comandava a sigla.
O Rio de Janeiro, onde, segundo Moro, Bolsonaro também quer trocar o superintendente, é a base eleitoral do presidente e onde está um dos seus principais adversários políticos, o governador Wilson Witzel. Há tempo ele vinha cobrando uma postura mais firme da PF para investigar seus rivais, em especial, nos gastos envolvendo a pandemia de coronavírus.
Além disso, a PF do Rio é uma das instituições que recebeu do Conselho de Controle da Atividade Financeira, o Coaf, os dados sobre as transações suspeitas de Flávio Bolsonaro e Fabrício de Queiroz. O documento, na corporação, deu origem à Operação Furna da Onça, que prendeu vários deputados.
Também no Rio, estão as principais frentes de apuração da PF sobre a atuação das milícias. Desde o início da gestão de Moro no Ministério da Justiça, esse tipo de organização criminosa passou a ter prioridade nas investigações.
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