Falso cônsul e borracheiro no esquema de venda de sentenças na Bahia
O esquema de venda de sentenças na Bahia desbaratado nesta terça-feira, 19, pela Operação Faroeste, envolvia um casal que se passava por representante da Guiné-Bissau no estado, um borracheiro que afirmava ser dono de uma área equivalente a cinco vezes o tamanho de Salvador, e compras de automóveis de luxo por um assessor do presidente...
O esquema de venda de sentenças na Bahia desbaratado nesta terça-feira, 19, pela Operação Faroeste, envolvia um casal que se passava por representante da Guiné-Bissau no estado, um borracheiro que afirmava ser dono de uma área equivalente a cinco vezes o tamanho de Salvador, e compras de automóveis de luxo por um assessor do presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Gesivaldo Britto.
O Ministério Público Federal aponta que Gesivaldo foi o responsável por indicar os juízes que atuaram no processo de reintegração de posse na primeira instância, emitindo decisões favoráveis ao borracheiro José Valter Dias, que reivindicava a posse de uma fazenda de 360 mil hectares. É uma das maiores disputas de terra no país, que se arrasta desde a década de 1980, em Formosa do Rio Preto, no oeste baiano.
Nos últimos anos, Dias obteve decisões favoráveis na Justiça estadual na Bahia, que chegou a editar uma portaria cancelando as matrículas dos demais agricultores na região. A portaria foi cancelada pelo Conselho Nacional de Justiça em março. O presidente do TJ-BA pediu ao CNJ que revisse a decisão.
Alvo de mandado de prisão, o secretário judiciário do TJ da Bahia e principal assessor de Gesivaldo, Antônio Roque do Nascimento Neves, apresentou movimentação financeira muito superior aos seus vencimentos desde 2013 até hoje: mais de 10 milhões de reais, dos quais apenas 1 milhão de reais recebidos como pagamento de salários.
Nascimento seria o operador da venda de decisões judiciais e das indicações de magistrados para atuar nas comarcas do interior. Além disso, o secretário foi flagrado em escutas telefônicas comprando automóveis de luxo e acessando informações sigilosas de processos o que, para os investigadores, indica que ele atuava para lavar dinheiro para Gesivaldo.
Em um dos grampos, o presidente do tribunal recebe um telefonema do funcionário de uma concessionária das marcas Jaguar e Land Rover perguntando sobre um veículo que ele teria adquirido. Ao ser abordado, o desembargador passa a ligação para Antonio Roque que, segundo o magistrado, seria a pessoa que estava usando o carro.
Na organização criminosa, segundo as investigações, estariam também Adailton Maturino (foto), que se apresentava como cônsul da Guiné-Bissau, e sua mulher Geciane Maturino, que denominava-se diplomata do país e seria próxima dos juízes envolvidos.
Segundo a PF e o Ministério Público Federal, Adailton afirmava ser juiz aposentado e mediador de conflitos, negociando acordos com os proprietários de terra envolvidos na disputa. Mas o casal nunca foi autorizado a atuar como representantes do país africano no Brasil, e Adailton possui apenas o registro de estagiário da OAB, de acordo com o levantamento feito na Operação Faroeste. O casal movimentou mais de 80 milhões de reais desde 2013, e vinha tentando transferir veículos de luxo para a embaixada de Guiné-Bissau. Os dois tiveram a prisão temporária decretada pelo STJ.
Responsável pelos mandados de prisão e de busca e apreensão realizados hoje, o ministro Og Fernandes, do Superior Tribunal de Justiça, considerou que o caso "apresenta alta gravidade, com indícios veementes de desvios na atuação funcional de desembargadores e juízes de direitos investigados" e que os ilícitos teriam continuado a ocorrer até mesmo durante as investigações da Polícia Federal e Ministério Público Federal. "É inaceitável que os magistrados investigados, aparentemente descambando para a ilegalidade, valham-se das relevantes funções que o estado lhes confiou para enriquecer ilicitamente, em prejuízo da justiça que deveriam fazer prevalecer", assinala o ministro.
O Tribunal de Justiça da Bahia informou que "foi surpreendido" com a ação de hoje. "A investigação está em andamento, mas todas as informações dos integrantes do TJ-BA serão prestadas posteriormente com base nos princípios constitucionais", acrescenta a nota. Com o afastamento de Gesivaldo, a presidência será assumida pelo desembargador Augusto de Lima Bispo, primeiro vice-presidente, segundo o comunicado.
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Comentários (10)
HERBERTON
2019-11-20 14:37:45Taí a prova de que Lava-Toga não precisa de CPI!
Heloisa
2019-11-20 14:36:36Faria bem reler o conto de Hans Christian Andersen, A Roupa Nova do Rei e gritar "O rei está nu!" Uma pessoa alega ser cônsul e todos acreditam, a mesma pessoa alega ser juiz aposentado e todos acreditam. Chega a ser cômico!
Emanuel
2019-11-20 12:47:40Lava-toga já em todos os TJs do Brasil!
Marc
2019-11-20 08:20:59Brasil sil sil!
Adriano
2019-11-19 23:57:17Um “homem da lei”, pessoa em cargo destinado a servir e a proteger o cidadão, como juízes, policiais, desembargadores, delegados...que se corrompem, não poderiam responder com penas comuns pelos seus crimes. Deveria ser enquadrado em crime hediondo, ou algo de maior contundência.
Anarquista
2019-11-19 18:35:38Q feio! Vender sentença e enrolados por gente assim. Foi muita vontade de se agarrar em algun$$$$. Mas qdo os tais HCs chegarem ao gimar, sera mais um assunto morto
Carlos
2019-11-19 18:29:53Bando de vagabundos investidos em carreiras de alta relevância usando o cargo pra roubar. Imagine o que já fizeram de maldade desfe que ingressaram na função. Decrépitos infames.
Alberto
2019-11-19 18:22:51Como è foi surpreendido pela notícia?. Que velhaco. É lógico que todo mundo sabia. Ou se fazia de surdo ou levava no esquema. Picaretas
IRacema
2019-11-19 17:57:11Bom que se investigue a fundo. Tem os escândalos dos super salários que é uma aberração. Em quantos os juízes da primeira instância trabalham sem nenhuma estrutura, o TJ vive esbanjando mordomias.
Herbert
2019-11-19 17:23:08Só tem uma maneira de reduzir a criminalidade no País. MATANDO SOB AS PENAS DA LEI todos os Ladrões, Assassinos, pedófilos, Lavadores de dinheiro, Contrabandistas, Assaltantes de todos os gêneros, Traficantes de drogas e pessoas, Políticos corruptos, Aliás, todo tipo de corrupto. Temos que alterar o artigo da Constituição que diz, "proibido a pena capital" para determinar a pena capital em casos específicos.