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Massa domina o debate mas sem a cereja do bolo

O ministro da Economia da Argentina e candidato à Presidência da Nação pela situação, Sergio Massa, ditou o ritmo do único debate presidencial do segundo turno das eleições deste ano ontem, 12 de novembro. Durante quase toda a primeira metade, que foi a mais agitada, Massa buscou o confronto ao insistir em fazer uma série...

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Caio Mattos, De Buenos Aires
6 minutos de leitura 13.11.2023 09:45 comentários 1
Javier Milei e Sergio Massa se enfrentam no debate presidencial do segundo turno das eleições argentinas de 2023, na Faculdade de Direito de Buenos Aires - 12/11/23. Reprodução/Televisión Pública

O ministro da Economia da Argentina e candidato à Presidência da Nação pela situação, Sergio Massa, ditou o ritmo do único debate presidencial do segundo turno das eleições deste ano ontem, 12 de novembro.

Durante quase toda a primeira metade, que foi a mais agitada, Massa buscou o confronto ao insistir em fazer uma série de perguntas ao seu rival, Javier Milei.

O libertário ficou acuado.

Essa dinâmica marcou, em especial, os dois primeiros blocos do debate, cujos temas foram Economia e Relações Exteriores — ao todo, foram seis blocos.

Economia

Em Economia, Massa repetiu três vezes uma série de perguntas fechadas, com a fórmula "por sí o por no..." (sim ou não, em português), sobre as propostas do candidato libertário.

O momento foi tão chamativo que a expressão "por sí o por no" chegou aos trending topics do X, rede social anteriormente conhecida como Twitter.

Com essa estratégia, o ministro da Economia, um dos principais responsáveis pela atual crise econômica, conseguiu neutralizar o libertário no tema em que tinha a maior desvantagem.

Milei foi forçado a dar explicações sobre suas propostas e a contradizer o seu discurso mais radical do primeiro turno, simbolizado pela motosserra.

E, mais importante, Massa não precisou defender a sua gestão de uma Economia, com inflação anualizada de cerca de 140% — Milei se contentou a trazer estatísticas obscuras sobre a crise econômica que só são compreensíveis para um economista, como é o libertário.

O timing do debate não favoreceu também a discussão. A inflação oficial referente ao mês outubro sai apenas nesta segunda, 13 de novembro.

Malvinas

No bloco de Relações Exteriores, Massa soube explorar a admiração de Milei pela ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, uma heroína para alguns liberais econômicos.

O problema em louvar Thatcher na Argentina é que ela foi a primeira-ministra que comandou o Reino Unido na Guerra das Malvinas, um tema delicado para os argentinos por atingir à soberania nacional.

 

https://twitter.com/o_antagonista/status/1724078422903673217

 

Além disso, a potencial ministra de Relações Exteriores de Milei, a deputada-eleita Diana Mondino, já afirmou considerar a soberania britânica sobre o arquipélago, em quase um ato de suicídio político.

"Os habitantes das ilhas têm os mesmos direitos que qualquer argentino", disse Mondino. Mais de 96% da população local, majoritariamente britânica, votou a favor de permanecer no Reino Unido, em um referendo em 2013.

Massa perguntou a Milei sobre seu apreço por Thatcher e a soberania argentina sobre as Malvinas.

Atordoado, o libertário comparou a guerra, que vitimou cerca de 650 argentinos e 255 britânicos, a futebol.

Ele citou a performance da seleção argentina na Copa de 1974 e disse que, pela mesma lógica, os argentinos não poderiam gostar do ídolo do futebol mundial Johan Cruyff, que liderou uma goleada contra a Argentina na ocasião.

Milei ainda chegou a confundir a seleção de Cruyff — é a Holanda, e não a Alemanha.

Brasil

Um momento de menor importância para o eleitorado argentino, mas relevante aos brasileiros, foi a menção às relações comerciais com o Brasil. O tema foi abordado no mesmo bloco, Relações Exteriores.

Massa pressionou Milei a falar sobre suas posições sobre não estimular negócios com Brasil e China pelas posições ideológicas de seus chefes de Estado.

Milei insiste em não conversar com Lula e mencionou a relação hostil entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ainda mandatário argentino, Alberto Fernández.

 

https://twitter.com/o_antagonista/status/1724076882918805961

 

O peronista deu uma aula ao libertário sobre comércio exterior ao explicar a importância dos governos nacionais na negociação de acordos comerciais para facilitar as relações entre entes privados.

Não adianta apenas, como Milei defende, deixar os agentes privados negociar livremente. Afinal, sem negociações entre governos, não há como um Estado controlar as barreiras tarifárias e não tarifárias do outro.

É importante ressaltar que, com a atual crise econômica argentina, temas alheios à vida mundana não afetam o eleitorado argentino. Esse é o caso das relações comerciais internacionais, mesmo que, de fato, impactem a economia.

A única matéria de política externa que pode, sim, atingir os eleitores é a questão da soberania sobre as Malvinas.

Teste do psicotécnico

Durante todo o debate, em especial na primeira metade, Massa tentou provocar um episódio de surto em Milei que pudesse lhe custar muitos votos em 19 de novembro.

Um episódio-chave nessa tentativa ocorreu durante o terceiro e último bloco da primeira metade, Educação e Saúde.

Massa voltou a questionar a integridade psicológica de Milei ao demandar-lhe um teste psicotécnico.

O peronista, então, relembrou que o libertário, quando jovem, realizara um estágio no Banco Central da República Argentina e que não fora renovado no cargo.

Massa induziu que Milei teria sido reprovado em um teste psicotécnico e, desde então, criou rancor sobre o Banco Central. O ministro da Economia não apresentou nenhuma evidência para suas acusações.

O libertário deu uma resposta elegante. Ele afirmou que todos têm fracassos na vida e o importante é seguir em frente.

 

https://twitter.com/o_antagonista/status/1724079105115574518

 

Impacto sobre o eleitorado

De fato, Milei perdeu o debate. Pelo menos, e como se fosse algo para comemorar, não cometeu nenhuma gafe grave o suficiente para mobilizar contra si os cerca de 7% de indecisos ou os seus eleitores não convictos.

Os debates presidenciais têm pouca tradição na Argentina — o governo precisou torná-los obrigatórios em 2016.

A expectativa é que um debate só mobilize, de maneira significativa, o eleitorado se ocorre algum vexame por parte de um candidato ou outro. Isso não aconteceu ontem.

Entretanto, em uma eleição prevista para ser bem acirrada, cada voto conta.

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Caio Mattos, De Buenos Aires

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Comentários (1)

ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES

2023-11-13 23:13:31

Torço pelo Milei e torço para que faça um bom governo. Com os peronistas e esquerdistas, o fracasso é garantido!


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