O que diz o Exército israelense sobre destruição de prédio de jornalistas em Gaza
O major Roni Kaplan, de origem uruguaia, é um dos porta-vozes das Forças Armadas de Israel. Em entrevista a Crusoé, ele comentou sobre o bombardeio no sábado, 15, do edifício Jalaa (foto), de onze andares, onde funcionavam as redações da Associated Press, Al Jazeera, TV Al Aqsa, Russia Today, Dubai Channel 12 e de outros veículos de imprensa....
O major Roni Kaplan, de origem uruguaia, é um dos porta-vozes das Forças Armadas de Israel. Em entrevista a Crusoé, ele comentou sobre o bombardeio no sábado, 15, do edifício Jalaa (foto), de onze andares, onde funcionavam as redações da Associated Press, Al Jazeera, TV Al Aqsa, Russia Today, Dubai Channel 12 e de outros veículos de imprensa. Eis a entrevista:
Nesta segunda, 17, o secretário de estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que não viu evidências para provar que o edifício atingido por um míssil, sede de várias redações, era usado pelo grupo terrorista islâmico Hamas. O que justifica esse bombardeio?
O Hamas tinha um centro de operações de inteligência militar neste edifício. Uma parte do escritório funcionava em conjunto com a Jihad Islâmica. O Hamas também tinha ali uma unidade de pesquisa e desenvolvimento, que era responsável por coletar informações e realizar operações contra Israel. Essa unidade tinha vários especialistas, que operavam os equipamentos tecnológicos mais avançados contra Israel. O que ocorre é que o Hamas usa instalações civis, inclusive de veículos de imprensa, para proteger sua infraestrutura militar. Esse foi apenas um dos casos, mas há milhares de pontos na Faixa de Gaza em que isso também acontece. Há alguns dias, localizamos dez terroristas dentro de uma escola. O que eles faziam lá?
Como Israel sabia que terroristas trabalhavam no prédio?
A evidência que temos foi fornecida pelo nosso setor de inteligência e, nos próximos dias, vamos prover mais informações para os americanos fazerem suas análises. Estamos trabalhando nisso neste momento. Escutei meus superiores comentando a respeito. Em geral, nós nunca podemos revelar todas as informações porque isso pode revelar a maneira como elas foram obtidas.
Israel atacou o prédio porque quer impedir que os jornalistas narrem a destruição na Faixa de Gaza?
De maneira alguma. Israel não tem problemas com jornalistas. Somos o país com mais jornalistas per capita do mundo. Israel tem mais jornalistas do que todos os países que ficam entre o Marrocos, no oeste da África, e o Irã, no centro da Ásia. Somos um país democrático, onde a liberdade de expressão é respeitada. E lembre-se que, no Twitter, os correspondentes da Al Jazeera continuam reportando tudo o que acontece por lá. É assim que deve ser. Eles agora estão fazendo isso de suas casas, como muitos outros jornalistas pelo mundo durante a pandemia. Antes de lançar o ataque, Israel alertou não apenas os jornalistas, como também civis que estavam por perto. Por câmera, nós acompanhamos a saída deles do prédio. Nós nos certificamos de que todos tinham deixado o local e, só então, o ataque aconteceu.
Se havia mesmo membros do Hamas e da Jihad Islâmica trabalhando no prédio, como explicar que os jornalistas, de diversos meios, não tenham reportado esse fato?
Eles não tinham conhecimento. Pode existir um bunker do Hamas debaixo de uma escola, sem que os alunos saibam disso. Muitos civis na Faixa de Gaza trabalham metade do dia como engenheiros, pedreiros ou em qualquer outra profissão, e na outra metade trabalham como funcionários do Hamas. Nem sequer seus parentes sabem disso.
Na semana passada, Israel anunciou que estava entrando por terra na Faixa de Gaza. Era mentira, mas as Forças Armadas se aproveitaram do fato de que terroristas se refugiaram nos túneis para bombardeá-los. Isso agora não poderia suscitar retaliações do Hamas contra jornalistas?
Nós estamos constantemente falando com jornalistas. Meu superior, Jonathan Conricus, deu uma coletiva de imprensa na semana passada. Em um dado momento, ele se equivocou sobre o que estava acontecendo no terreno. Todos esses dias, tivemos a Divisão 162, no limite com Gaza, com duas brigadas de infantaria e uma de blindados. A qualquer momento, essa Divisão poderia entrar na Faixa de Gaza. Como eles começaram a fazer movimentos, como se estivessem para entrar no enclave, Conricus passou adiante a informação errada. Mas logo se retificou isso e o porta-voz de todas as Forças Armadas de Israel, Hidai Zilberman, pediu publicamente desculpas por esse equívoco.
Israel vai entrar por terra na Faixa de Gaza?
Esperamos que não. Mas não sabemos disso neste momento. Basicamente, o Exército já fez todos os planos de contingência. Não há uma decisão iminente de ingressar em Gaza por terra. Se acontecer, a decisão não seria tomada pelas Forças Armadas, e sim pelos políticos. É assim em qualquer país democrático, em que os chefes de governo são eleitos e tomam decisões em nome do povo. Mas essa é apenas uma das possibilidades.
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Comentários (5)
Cassio Ferreira Costa Campelo
2021-05-19 07:54:17Deixa eu ver se entendi: se agora um terrorista atacar um jornalista, até isso vai ser culpa dos israelenses? Porque parece que também é culpa dos israelenses o fato de terroristas lançarem seus foguetes do pátio de escolas e do topo de hospitais... (alerta de ironia, tá?!)
Sergio Oliveira
2021-05-18 14:32:59"Uma terra, dois povos" palestinos e israelenses, árabes e judeus têm o direito de conviver em Israel. Depois da trapalhada que o casal Abraão e Sarai fizeram, Deus confiou a Isaque e Ismael a criação de duas grandes nações, naquele mesmo lugar. Imaginem que superpotência seria a união de árabes e judeus.
Fernao
2021-05-17 23:50:09devemos apoiar de todas as formas o Estado de Israel e suas Forças de Defesa enfrentam inimigo traiçoeiro que devido a pequena distância de Tel Aviv e da Sagrada Jerusalem conseguem atingir vários civis judeus e árabes Israelences
Leonardo
2021-05-17 23:29:32Israel é uma nação que qualquer individuo civilizado pode visitar. Um país que independentemente de tu ser heterossexual, bixessual ou homossexual, de ser de esquerda, direita, centro... terá suas opções respeitadas. O mesmo pode ser dito das nações vizinhas?
PAULO
2021-05-17 18:28:39Não existe guerra limpa, mas algumas guerras são mais sujas que outras. Existe um contexto político nessa guerra suja, difícil de de trazer à tona, mas o que me salta aos olhos, é a assimetria de forças. Ninguém pode ser obrigado a não reagir diante de um ataque. Mas uma reação exacerbada que culmina na maioria das vezes, na morte de civis inocentes, retroalimentando o conflito, me causa asco. Talvez menos testosterona e mais empatia ajudaria. E usar civis como escudo, é o ápice da covardia.