‘A corrupção sempre contra-ataca’, diz Bruno Brandão, da Transparência Internacional
Pelo segundo ano consecutivo, a Transparência Internacional publicou um relatório sobre os retrocessos no combate à corrupção no Brasil. O trabalho diz que houve uma piora no quadro geral nos últimos doze meses, principalmente devido à interferência política em órgãos de controle. O diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão (foto), de 38 anos,...
Pelo segundo ano consecutivo, a Transparência Internacional publicou um relatório sobre os retrocessos no combate à corrupção no Brasil. O trabalho diz que houve uma piora no quadro geral nos últimos doze meses, principalmente devido à interferência política em órgãos de controle. O diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão (foto), de 38 anos, conversou com Crusoé pelo telefone.
Há um ano, um relatório da Transparência Internacional apontou retrocessos no combate à corrupção no Brasil. O que mudou de lá para cá?
Aquele foi o nosso primeiro alarme. De lá para cá, a situação se agravou. A ingerência política nos órgãos de controle atingiu seu ápice na renúncia do ministro da Justiça Sergio Moro, que saiu do governo fazendo pesadas alegações. A nomeação de um procurador-geral (Augusto Aras) fora da lista tríplice no ano passado também foi um fator negativo, que nós já vínhamos apontando no primeiro relatório. Essa escolha desrespeitou uma prática que vinha se consolidando e que tinha dado maior independência ao Ministério Público. Nos doze meses seguintes, nossos medos se confirmaram. Atos e declarações graves do procurador-geral da República geraram um descrédito e uma desconfiança muito grande. A situação no Judiciário também definhou. Esse agravamento se deu principalmente nos recessos do Judiciário, quando o ministro Dias Toffoli assumiu o comando das apelações e decisões de urgência. Aí se acumularam diversas decisões altamente controversas que beneficiaram réus poderosos em casos de corrupção. No Congresso, não tivemos nenhum avanço de reformas significativas contra a corrupção. Algumas propostas na lei de lavagem de dinheiro e na lei de improbidade administrativa podem ter efeitos perigosos. Por fim, temos notado um aumento das hostilidades contra jornalistas investigativos.
A que se atribui essa piora?
Nas três décadas de experiência da Transparência Internacional, aprendemos uma máxima: a corrupção sempre contra-ataca. Depois que se fez um empenho vigoroso no país contra a corrupção, quebrando paradigmas de impunidade e prendendo réus poderosos, ocorreu uma desestabilização do antigo sistema, um desequilíbrio político. Sabíamos que fatalmente viria o contra-ataque da corrupção. Seus agentes são capazes de se organizar, muitas vezes de maneira coordenada, para resgatar o status quo. Assim, eles podem garantir novamente a impunidade e até se vingar daqueles que os perseguiram.
A postura do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou ter acabado com a Lava Jato, está por trás desses retrocessos?
Sempre que um país entra em uma situação de deterioração democrática, os órgãos de controle são neutralizados. Isso ocorre porque, por natureza, eles são um limite ao poder constituído. Então, esses órgãos sofrem com redução de autonomia e perda da capacidade técnica. No Brasil, o combate à corrupção foi capturado por um projeto populista e autoritário, e as instituições de combate à corrupção foram as primeiras a sofrer. Nenhum país do mundo venceu a corrupção dando uma "voadora no pescoço", como afirmou o presidente.
No primeiro relatório, a Transparência Internacional tinha apontado que o Congresso seria o espaço mais legítimo para o debate e aprovação das reformas necessárias para a luta contra a corrupção. O sr. tem visto um esforço por parte dos parlamentares?
O Congresso e o Supremo Tribunal Federal tiveram papel importante na consolidação dos marcos legais que possibilitaram o surgimento da Lava Jato. Mas hoje está claro que, dentro dessas instituições, há grupos querendo promover a impunidade. Ultimamente, eles ganharam força e o equilíbrio de forças se alterou. O presidente disse que acabou com a Lava Jato, mas muito mais grave que isso foi solapar as condições que permitiram que a Lava Jato e outras operações contra a corrupção surgissem. Se o país deixar isso acontecer e não avançar com reformas legais e institucionais, veremos a repetição de episódios lamentáveis e vergonhosos que atentam contra a dignidade da sociedade brasileira, como esse do senador (Chico Rodrigues) pego com dinheiro na cueca. Vamos ver cuecas mudando de cor, mas não vamos ver o problema acabar.
O senador Chico Rodrigues era o vice-líder do governo no Senado. Que conclusão podemos tirar daí?
Todo país que conseguiu controlar a corrupção fez isso com uma combinação de boas leis, instituições melhores e uma cidadania ativa. Nada disso combina com a armadilha da solução populista e autoritária para um suposto enfrentamento da corrupção.
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Comentários (10)
Ruy
2020-10-24 10:48:33Sem tapar o sol com a peneira, gostaria que alguém me indicasse como governar um país com a corja mais indecente que nós eleitores colocamos nesta palco como atores principais ? E, consequentemente, com este judiciário perdulário e corrupto ? E este executivo inchado e inútil ? Ou seja, como já dito, um governo que é o problema, não a solução. Pobre Brasil !
Maria
2020-10-19 18:09:22O sistema é poderoso e corrupto. Esse governo copia o “modo operante “dos petistas!
Nelson
2020-10-19 12:38:37Eu acho que vivo num outros país... eu vejo a PF atuando direto e reto, aumento significativo do efeito da PF, não vi até o momento nenhuma ministro, nenhum diretor de estatal ou banco publico, sendo preso por corrupção (isso signifa que não há ou não há investigação?) os problemas que vemos são políticos gerados pelo Congresso e pelo STF... acho que a critica deveria ter sido canalizada melhor.
Antônio
2020-10-19 09:31:34Casos de corrupção no Executivo e na gestão atual são desconhecidos, senão a mídia já os teria descoberto e colocado a boca no trombone, porque a investigação por ela, nesse ponto, é ferrenha. Aliás, quem menos contribui para o combate à corrupção é a própria mídia tradicional, que sonha voltar ao status quo e se abasteceer com os cofres generosos do governo, como era nas administrações petistas. Por favor, não confundam corrupção estatal, do Executivo, com corrupção do Legislativo e Judiciário.
Marina
2020-10-19 09:27:42"Voadoras no pescoço". Frases de efeito para impressionar os incautos como eu. Ê o que esse farsante sabe fazer de melhor.
Jose
2020-10-19 09:09:35Perfeito. O Brasil está em solo retrocesso. Ou o Brasil se livra do Bozo ou o país entrará novamente em uma crise permanente. Já estamos novamente em recessão. Pior: já temos novamente uma década perdida! Nenhum país aguenta tanto.
Heloisa
2020-10-19 08:49:11Excelente análise. Como um mau militar que planejou explodir bombas em quartéis , autor do plano terrorista Beco sem Saída, tendo erguido o seu maior troféu como presidente “Acabei com a lava Jato “, não tem corrupção no meu governo,sem explicar as rachadinhas, lavagem de dinheiro, $89mil depositados por Queiroz, compra com $$ vivo de imóveis e outros ilícitos praticados pela FAMILÍCIA. Será que BolsoNero tinha propósito de acabar com a corrupção ou é psicopata adepto de uma milícia mafiosa ???
Paulo Artur
2020-10-19 08:38:32E o STF, a maior causa da corrupção que ocorre ? Não foi só Marco Aurélio, a maioria dos ministros, em especial Gilmar, Toffoli e até Fachin quando proibiu as forças de segurança de proteger as pessoas nas comunidades. A ordem era "retirar Bolso", o que vc faria ? Chama-se Legítima Defesa usar de meios, que podem até se confundir com corrupção, mas se tivéssemos uma imprensa correta seria relatado diferente. Chantageado e sabotado Bolso tomou medidas menos invasivas possíveis para se manter.
Álvaro
2020-10-19 08:37:44SE EXISTE UM ÓRGÃO QUE NÃO MERECE A MENOR CREDIBILIDADE É A TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. SIMPLES ASSIM. É PRECISO QUE ESTES ÓRGÃOS, SE REORIENTEM. TRABALHAR A FAVOR DE CRIMINOSOS, COM O ATUAL NÍVEL DE INFORMAÇÕES É UM SUICÍDIO, OU ENTÃO SEUS FINANCIADORES NÃO SE PREOCUPEM COM OS RESULTADOS.
Odete6
2020-10-18 21:14:49A fórmula do antídoto contra o ""contra-ataque"" da marginalha geral: CONJUNTO ***POVO BRASILEIRO DECENTE, PRESIDENTE SÉRGIO FERNANDO MORO E O SEU-NOSSO TIME DOS SONHOS***!!!!!