ONUFuncionária da ONU em prédio que foi usado para deter civis ucranianos

Os gulags de Putin

Invasão da Ucrânia pela Rússia ressuscita os campos de trabalho forçados do stalinismo; estima-se que 4 mil civis ucranianos estejam presos neles
28.07.23

Pelos campos de trabalho forçados da União Soviética passaram 18 milhões de pessoas. Entre 1,2 milhão e 1,7 milhão morreram durante a detenção. Para cada dez que entravam, um jamais sairia. Conhecidos como “gulags“, acrônimo para Administração Central dos Campos, eles foram instituídos logo após a Revolução Russa de 1917 e perduraram até a morte de Josef Stálin, em 1953. Controlados pela polícia secreta, que teve siglas distintas como Tcheka, GPU, OGPU, NKVD e KGB, eles chegaram a compor uma rede de 476 unidades em que os detentos atuavam em vários setores, como mineração, agricultura, construção civil e indústria bélica.

Mas os gulags não são mais algo do passado. Uma reportagem da Associated Press de meados de julho entrevistou 20 ex-presos de guerra ucranianos, famílias de civis detidos e agentes de inteligência. Com base nesses relatos, imagens de satélite e documentos de governo, calcula-se que existam hoje 40 centros de detenção na Rússia e em Belarus e outros 63 na Ucrânia. Neles, civis ucranianos são submetidos a trabalho forçado sob a mira dos fuzis. Eles cavam trincheiras, constroem edifícios e abrem covas coletivas. Segundo alguns sobreviventes, aqueles que ficam doentes são mortos e enterrados nas covas que eles próprios cavam.

De acordo com a ONG russa de direitos humanos Gulagu.net, há atualmente 4 mil civis ucranianos detidos na Rússia e em territórios ocupados pelos militares de Vladimir Putin. “Todos os dias nós recebemos pedidos de ajuda de pessoas que foram espancadas, torturadas e estupradas“, disse a Crusoé Sergey Savelyev, que coordena o atendimento a pessoas na Gulagu.net.

Os gulags atuais, segundo ele, repetem muitas das características dos campos de trabalho forçado da era soviética. São todos administrados pela agência de inteligência russa, o FSB, herdeiro da KGB e de agências secretas anteriores.

“O FSB criou uma unidade, o Departamento M, que supervisiona o Ministério da Justiça, o Ministério da Administração Interna, a Procuradoria-Geral da República e as instituições penitenciárias. O FSB na Rússia moderna é uma estrutura que, em um grau ou outro, controla todos os outros departamentos”, diz Savelyev. “Eles gravam conversas, fabricam casos contra os opositores, realizam julgamentos completamente ilegais e chantageiam as pessoas.”

Outra semelhança é que qualquer pessoa pode ser presa e enviada para os campos, assim como aconteceu no período soviético. Um relatório publicado pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos em 27 de junho registrou 864 casos de prisão arbitrária pelas forças russas entre fevereiro de 2022 e maio de 2023. Algumas pessoas foram sequestradas caminhando para o trabalho, visitando parentes ou tentando retirar a família de áreas perigosas. Todos foram acusados de algum crime, como o de passar informações para o inimigo, armazenar armas ou abrigar soldados feridos. Um homem foi torturado porque os soldados encontraram um aplicativo de trânsito em seu celular. Ele foi golpeado, submetido a uma execução falsa e a baixas temperaturas até confessar que era um espião, em um “procedimento de admissão de culpa”.

Há duas importantes diferenças entre os gulags de hoje e os da época soviética. A primeira é que, enquanto Stálin usou os prisioneiros em diversos setores para impulsionar a economia nacional, Putin os mantém na guerra. Isso ocorre porque há uma enorme escassez de soldados e de trabalhadores nas regiões em conflito. Foi essa carência de mão de obra que levou Putin e o líder do batalhão mercenário Wagner, Yevgeny Prighozin, a recrutarem prisioneiros para levar para a Ucrânia. “No contexto atual, o regime russo não precisa de prisioneiros trabalhando em instalações civis ou industriais. Para ele, é mais interessante usá-los como bucha de canhão nos setores mais difíceis do front. É o caso da limpeza dos campos minados, embora nenhum deles tenha habilidades especiais para isso”, diz Savelyev.

A segunda diferença é que, enquanto o mundo demorou para tomar conhecimento dos gulags na União Soviética, administrados pela KGB, a facilidade de se comunicar pela internet e a atuação de ONGs e da ONU hoje dão publicidade mais rapidamente às violações de direitos humanos cometidas a mando de Vladimir Putin. Em março deste ano, o Tribunal Penal Internacional emitiu uma ordem de prisão do presidente russo pelo sequestro de crianças ucranianas, tática que também foi empregada por ditadores como o espanhol Francisco Franco e o argentino Jorge Videla. Com sua truculência, a guerra na Ucrânia trouxe de volta algumas práticas do passado que já se acreditavam superadas. As conquistas civilizacionais, assim, sempre podem ser desfeitas quando se permite a ascensão de tiranos imorais dispostos a tudo para ganhar mais poder —sejam eles Lênin, Stálin ou Putin.

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  1. E pensar que o comunista Lula acha que a culpa é do Zelenski! Por que Lula não convida Putin e Zelenski pra tomar uma cervejinha em Copacabana e assim acaba com a guerra?

  2. Achei incrível que governantes de países africanos se posicionassem contra a guerra. E o Putin manteve a narrativa que divide responsabilidades com os ucranianos e prometeu grãos de graça pra se mostrar generoso.. Carniceiro

  3. Imagina, isso não é verdade, é só uma “narrativa” impulsionada pelos “ianques”. O Putin na verdade é um santo, envolvido em causas humanitárias. O Molusco, a Anta, nosso Chanceler e aquele merda que é o Chanceler de fato deviam ter vergonha na cara da postura imunda que adotam, bajulando esse FDP do Putin. Mas também, o que esperar? FDPs admiram FDPs.

    1. O Putin é tão Santo quanto o Lula

  4. O comuno-fascismo sob Stalin matou de fome na coletivização e nos gulags sob maus tratos e tortura 20 milhões de russos e aqui na América LaTINDO temos milhares de assassinados e dez milhões de exilados faltando obviamente a contribuição do Brasil que não tarda diante da omissão, covardia e cinismo de poderes apodrecidos vendidos e rendidos ao bando comuno-bolivariano que golpeia o Estado brasileiro em chamas e lixo . quem sobreviver chorará e bendigo o meu câncer que piedosamente me mata antes.

    1. O Brasil também tem exilados pela miséria ... 252mil brasileiros trabalham legalmente em Portugal como serviçais dos antigos donos ... melhor que escravos do bolivarianismo vindo a galope sem dúvida alguma.

  5. Não há limites para a tirania. Esse é um excelente exemplo de como a história deve ser estudada e documentada, não forjada, apagada ou relida, para evitar que essas barbaridades não se repitam

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