ReproduçãoCarlos Siqueira, do PSB: "Há muito tempo consideramos a Venezuela um regime autoritário e uma ditadura"

Cisão na esquerda

Crise na Venezuela separa os que defendem a democracia daqueles que aplaudem ditaduras
02.08.24

A fraude eleitoral do ditador Nicolás Maduro e a repressão violenta que deixou 21 mortos foram criticadas por políticos e partidos de esquerda brasileira, que chamaram a Venezuela de uma ditadura e criticaram a farsa eleitoral. Eles não tiveram problema em adotar posicionamentos que o presidente Lula reluta em tomar.

As reações acabaram por dividir a esquerda nacional ao meio. De um lado, ficaram aqueles que defendem os direitos humanos e promovem sistemas políticos democráticos, em que eles próprios gostariam de viver. De outro, ficaram aqueles que não se importam em apoiar ditaduras, desde que sejam de esquerda. Esses últimos são os que preferiram ficar em silêncio.

A ministra do Meio Ambiente Marina Silva, líder da Rede Sustentabilidade, foi a pessoa de mais alto escalão no governo a se manifestar. Ela se recusou a chamar a Venezuela de democracia. “Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário”, disse Marina ao site Metrópoles. “Um regime democrático pressupõe que as eleições são livres, que os sistemas são transparentes, que não haja nenhuma forma de perseguição política ou tentativa de inviabilizar que os diferentes segmentos da sociedade, que legitimamente têm o direito de pleitear, cheguem ao poder.”

Criado em 2013, o Rede Sustentabilidade nasceu sem os conceitos arcaicos da esquerda antiamericana dos tempos da Guerra Fria. Seus integrantes, mesmo aqueles que estão na política há muito tempo, souberam deixar de lado velhos dogmas, após a Queda Muro de Berlim, em 1989, para priorizar novas causas, como a proteção do meio ambiente.

Mesmo alguns petistas entenderam o que estava em jogo na Venezuela. Em uma curta nota oficial, o líder do governo Lula no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues, criticou a farsa eleitoral. “Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade”, escreveu Randolfe.

Paulo Paim, senador petista pelo Rio Grande do Sul, chamou o teatro venezuelano de “gravíssimo e lamentável” e pontuou que “sem transparência no processo eleitoral, liberdade política e de expressão, e respeito aos direitos humanos, não há democracia”.

O presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, também se manifestou. Seu partido é o do vice-presidente Geraldo Alckmin e da candidata Tabata Amaral à prefeitura de São Paulo. “Eu sou de um partido que apoia o governo. Agora…a posição do partido não surpreende ninguém, porque há muito tempo consideramos a Venezuela um regime autoritário e uma ditadura, e não se pode esperar de uma ditadura uma eleição transparente e democrática”, disse Carlos Siqueira ao programa Meio-Dia em Brasília.

O PSB é da Aliança Progressista (AP) — a mesma corrente do Partido Social-Democrata da Alemanha, o SPD. De visão mais moderna, o partido mantém-se historicamente contrário ao governo de Maduro na Venezuela.

Roberto Freire, que presidiu o Cidadania até o ano passado, faz parte de uma leva de políticos historicamente de esquerda que condenou a fraude eleitoral na Venezuela. “Alguns setores de esquerda, particularmente na América Latina e no Basil, acreditam que a democracia liberal é uma coisa burguesa e que o que importa é a democracia popular. Isso é uma distorção evidente”, disse o ex-deputado federal e ex-ministro da Cultura de Michel Temer a Crusoé. “Para que a esquerda possa ter algum futuro, temos de nos livrar dos cacoetes do passado.”

Os descrentes da democracia liberal são os que mais pendem para o lado dos governos autoritários, como os da Rússia, do Irã, da Venezuela ou de Cuba. “A esquerda, assim como a direita, não é um monolito”, diz o cientista Rodrigo Prando, professor do Mackenzie. “Aqueles que defendem Maduro em geral falam em democracia burguesa e afirmam que ela é uma grande farsa.”

O partido de esquerda mais alinhado com a ditadura de Nicolás Maduro é o Psol. Um antigo vídeo da juventude do partido cantando “sou do levante / tô com Maduro”, em 2015, virou um clássico nas redes sociais.

Durante toda a semana, no entanto, o partido manteve-se silente sobre a situação em Caracas. Até o fechamento desta eleição na quinta, 1º, o candidato à prefeito de São Paulo Guilherme Boulos comentou em suas redes sociais sobre o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes, a taxa de desemprego e a seleção feminina de ginástica artística. Sobre Venezuela, não deu um pio.

Seu mutismo (e o de seu partido) pode ser explicado pela disputa eleitoral no Brasil. Com a proximidade das eleições municipais, assumir posições radicais em política externa pode ter um custo eleitoral. Na disputa em São Paulo, todos os outros candidatos rapidamente se posicionaram sobre a questão, mas o nome do Psol — mesmo sendo um usuário ativo de redes sociais — nada falou.

A crise venezuelana, ao menos, tem servido para algo positivo, segundo Roberto Freire. “Essa crise está ajudando a separar, no campo da esquerda, aqueles que têm a democracia como bem universal e a velha esquerda, que fica no seu velho encanto com  regimes ditatoriais”, diz Freire.

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  2. Finalmente, além de deixar cair a ficha, a esquerda que usa melhor seus neurônios criou coragem e deu o hasta luego, baby ao nefasto e folgado ditador da Venezuela…

  3. A esquerda finge desunião. Ao menor sinal de perda de poder, vem aquele papinha de "frente ampla". Se eles são tão democráticos, por que Marina Silva não deixa o ministério? Se os partidos de apoio estão tão comprometidos com os direitos humanos (que estão sendo imolados há anos pelo bolivarianismo), por que não pressionam Lula pra uma resposta minimamente decente nesse caso? Porque todos estão confortáveis em suas estruturas de poder. É por isso!

  4. Se o líder do desgoverno no "congreciu naSSionau" que a nação nunca esquecerá desde a CPI da Vergonha digo da Pandemia diz isto dá o que pensar ... sua dignidade não tolerou tanto cinismo? o posicionamento do Brasil é ridículo e faz a maior nação da América Latrina se apequenar PASMEM diante do Uruguai a libertada Província Cisplatina que de forma providencial teve coragem de definir seu rumo ... já nós humilhados e submissos rumanos ao caos e ao lixo.

  5. Espero que a Venezuela alcance seu propósito de eliminar Maduro. Aqui pelo Brasil imagino que Lula já foi eliminado. Quem veio ao Governo para se vingar está agora já sabe que esse não deveria ser o propósito de um governante que se diz Democrata e amante da paz é o amor.

  6. O PT nunca foi democrático. O Lula nao se cansa de adular ditadores e deve querer o mesmo sistema forte por aqui

  7. O Lula já falou que gosta da força do PC chinês. Ele apoia ditaduras e deve querer o mesmo sistema por aqui. Também pode ser problema de rabo preso por falcatruas pretéritas o motivo de adular esses ditadores

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