Guilherme Pupo/Folhapress"Em qualquer lugar do mundo em que houve história humana, houve escravidão, não só na África"

‘Não acredito em reparação histórica’

Laurentino Gomes, que lança o primeiro volume de uma trilogia sobre a escravidão, afirma que o Brasil nunca enfrentou seu legado, defende ações compensatórias e se diz preparado para enfrentar críticas
23.08.19

Autor de três best-sellers cujos títulos lembram anos cruciais para a história do Brasil – 1808, 1822 e 1889 –, o jornalista e escritor José Laurentino Gomes, 63, lança na próxima semana o primeiro livro de sua empreitada mais ambiciosa até aqui: Escravidão — Do Primeiro Leilão de Cativos em Portugal até a Morte de Zumbi dos Palmares. Projetada para ser uma trilogia com cerca de 1.500 páginas, a obra é fruto de seis anos de trabalho, que incluíram viagens a doze países em três continentes. O volume inicial cobre um período de 250 anos, como diz o subtítulo; os seguintes tratarão do século 18, o do ciclo do ouro, e do 19, do abolicionismo em diante, e serão lançados em 2020 e 2021, respectivamente.

Nesta entrevista a Crusoé, concedida na última terça-feira, 20, Laurentino explica o processo de preparação do livro e argumenta que a escravidão, “elemento constitutivo da civilização brasileira”, é um assunto de todos – e não é, necessariamente, sinônimo de negritude. Também afirma que, desde a Abolição, os governos brasileiros se dedicaram a construir mitos como o da “democracia racial” em vez de integrar os afrodescendentes à sociedade produtiva. Laurentino diz ser contra reparações históricas (“dívida histórica é, por natureza, impagável”), mas a favor de políticas compensatórias para reduzir desigualdades de origem racial. E defende a importância de olhares variados – inclusive o dele, branco de ascendência europeia — para contar essa história.

Quando você começou a pensar em dedicar um livro à escravidão, que é um tema que perpassa seus livros anteriores?
Foi como consequência dessa primeira trilogia. Já quando lancei o 1808,  percebi que, para explicar o Brasil de hoje, não adianta você ficar só no que a gente poderia chamar de um DNA, um código genético burocrático, administrativo, institucional, que são essas três datas (a vinda da corte de dom João para o Rio, a Independência, em 1822, e a República, em 1889).
Eu percebi que havia uma dimensão mais profunda para entender o Brasil — um elemento constitutivo da civilização brasileira, que é a raiz africana. Quando a gente estuda história, às vezes fica só no bidimensional: a metrópole e a colônia, Portugal e o Brasil. E se esquece de que talvez o elemento constitutivo mais importante dessa nacionalidade seja a África, porque o Brasil era viciado em escravidão desde o primeiro momento. Primeiro, os portugueses tentaram a escravidão indígena: no século 16, centenas de milhares de índios foram escravizados, para trabalhar nos engenhos de açúcar. E, segundo o Luiz Felipe de Alencastro (historiador, autor de “O Trato dos Viventes”), duas coisas levaram ao malogro da escravidão indígena. A primeira foi o que ele chamou de um “choque epidemiológico” entre continentes até então separados e incomunicáveis. Os portugueses chegaram com doenças que os indígenas não conheciam – sarampo, varíola, gripe —, e o Brasil matou 1 milhão de indígenas a cada cem anos até a chegada da corte de dom João 6º ao Rio de Janeiro, em 1808. Outra razão é que não havia um mercado organizado de fornecimento de mão de obra cativa no Brasil. Existia escravidão aqui, mas não com a estrutura comercial que já havia na África. Lá havia rotas de transporte que atravessavam o deserto do Saara, compradores, vendedores, feiras, preços muito bem definidos, portos de embarque. Aí os portugueses começaram (a importar), e o Brasil recebeu 5 milhões de escravos, 40% de toda a mão de obra cativa — 12,5 milhões é o total que embarcou (na África), 10,7 milhões desembarcaram, 1,8 milhão morreu no caminho. Todos os nossos ciclos econômicos, do pau-brasil ao café — passando por açúcar, ouro, diamantes, tabaco, algodão —, foram construídos com mão de obra cativa. E não foi só uma questão econômica: houve uma construção de uma África brasileira, que continua aqui, muito sólida e muito visível.

Em que momento da pesquisa você se deu conta de que essa história precisava ser contada em uma trilogia?
Esse assunto é tão vasto, tão complexo, tão cheio de nuances e coisas que as pessoas não conhecem que seria ilusão tentar esgotá-lo num volume. Mas eu acho que também é ilusão tentar esgotá-lo em uma trilogia. E por isso é que eu escrevo aqui “uma história da escravidão” — artigo indefinido. Mesmo sendo uma trilogia que vai chegar aí por volta de 1.500 páginas, ainda assim é um sobrevoo. Aliás, o objetivo é atingir um leitor mais leigo, sem ter a pretensão de ser uma literatura acadêmica que esgotasse o assunto.

A introdução desse volume vale para os três?
Não, eu vou fazer introduções diferentes. Esse primeiro tem uma introdução bastante alentada, porque eu preciso explicar a obra, o impacto, o legado da escravidão ainda hoje, minhas viagens à África e coisas assim. Mas eu acho que cada volume merece uma introdução específica. No do século 18, eu falo sobre a construção dessa África brasileira. Então vai ter a família escrava, alforrias, rebeliões, quilombos, como era o trabalho dos escravos, como é que eram as irmandades religiosas, que foram muito importantes. E o terceiro é sobre um século absolutamente decisivo na história do Brasil: o 19, com o abolicionismo. Vai explicar como é que o abolicionismo se impõe, em algumas décadas, num mundo que até então aceitava a escravidão praticamente sem questionamento.

Passou a ser vista como um problema moral, não?
Sim, há uma mudança filosófica e religiosa, moral, ética no início do movimento abolicionista. Com os quakers, os protestantes, os filósofos humanistas dizendo que era inaceitável a exploração de um ser humano pelo outro. Mas eu não deixo de observar também que o movimento abolicionista coincide com o início da Revolução Industrial. E ali estavam nascendo os nossos escravos atuais — movidos a vapor, eletricidade, petróleo. Nós estamos cercados de “escravos”. Carros, metrôs, aviões, trens, foguetes… Então, eu me pergunto: como houve escravidão sempre – em qualquer lugar do mundo em que houve história humana, houve escravidão, não só na África –,  será que, se houvesse uma crise ambiental e tecnológica, se de repente um meteoro caísse na Terra, como aconteceu com a extinção dos dinossauros, a gente não voltaria a ser escravagista como sempre foi? Talvez.

O que foi mais trabalhoso nos seis anos de pesquisa a que se dedicou para essa trilogia?
O mais trabalhoso foi vencer essa bibliografia — uma bibliografia acadêmica, muito densa. Existe uma grande produção em inglês, nos Estados Unidos, sobre a escravidão africana no Brasil. Às vezes acho até que a produção acadêmica nos Estados Unidos sobre o assunto é maior que a nossa. E muito bem calcada em dados, em pesquisas. A nossa às vezes é excessivamente discursiva. E tem muita visão conflitante. Você pega, por exemplo, Casa Grande e Senzala: Gilberto Freyre fala dessa escravidão “branda”, benévola, a virtude da mestiçagem brasileira. E hoje tem novos livros mostrando que não, que a escravidão brasileira foi tão violenta quanto em qualquer outro lugar do mundo. Isso é um mito que nós construímos. Ao mesmo tempo, há uma bibliografia muito militante, especialmente negra, mais de viés marxista, que elege o Zumbi dos Palmares, por exemplo, como um herói não só da causa negra, mas também de operários, camponeses, de todos os oprimidos. Passar por essa bibliografia exige um certo discernimento. Os números eram um desafio até um tempo atrás. Hoje, com o slavevoyages.org (banco de dados sobre a escravidão na internet), esse assunto está praticamente resolvido. Já se sabe exatamente quantos navios negreiros vieram, quantos (escravos) embarcaram, quantos morreram, de onde saíam, qual era o nome do capitão. É uma coisa impressionante. Depois teve a fase de reportagem, de botar o pé na estrada, observar as coisas como estão hoje. Porque, embora os acontecimentos tenham ocorrido 200, 300, 400 anos atrás, eles têm muita informação lá. Em 20 de novembro do ano passado, Dia da Consciência Negra (data que marca a morte de Zumbi), fui a Alagoas e acompanhei um grupo de senhorinhas de candomblé subindo a Serra da Barriga para fazer um ritual em homenagem ao Zumbi. Só que, no parque de Palmares, moram 20 famílias evangélicas que odeiam religião de matriz afro e não querem mães de santo lá. Então, tem uma guerra em andamento hoje em Palmares, envolvendo a memória de Palmares e a forma de se relacionar com ela. E, se você não vai lá, você não fica sabendo disso. Observei também que, em Gana, os castelos de onde saíam os cativos em direção aos EUA hoje são pontos turísticos muito importantes para os negros americanos. Mas ninguém vai ao lugar de onde saíam os brasileiros. Você vai a São João de Ajudá, no Benin, que foi o principal ponto negreiro, e os brasileiros são uma raridade.

Eduardo Anizelli/FolhapressEduardo Anizelli/Folhapress“Esse negócio de ‘lugar de fala’, embora eu respeite a discussão, pode ser também uma censura à liberdade de expressão”
Seu livro desmistifica algumas figuras e acontecimentos históricos. Tive a impressão de que o Infante Dom Henrique, por exemplo, era um tremendo marqueteiro.
(Risos) Ele era mesmo, muito bom de marketing pessoal. Tanto assim que ele contratou um biógrafo, o Gomes Eanes Azurara, que publicou uma elegia ao dom Henrique, as Crônicas dos Feitos da Guiné. Mas é um documento histórico precioso, o primeiro registro de leilão de escravos em Portugal: 8 de agosto de 1444, 235 cativos, leiloados em praça pública diante do infante. Eu li três biografias do Infante dom Henrique. Ele ganhou a alcunha de O Navegador, mas, se navegou, navegou muito pouco. Talvez apenas duas curtas travessias entre Portugal e Ceuta. A Escola de Sagres, aparentemente, nunca existiu fisicamente. E há a constatação surpreendente de que ele foi um grande traficante de escravos. É o patrono desse negócio. Porque ele começou isso e investiu metodicamente em organizar o tráfico de escravos no Atlântico.

Tem também toda a discussão da retomada de Pernambuco. Normalmente, o discurso de que “expulsamos os holandeses” em 1654 não explica que Portugal precisou comprar a paz depois disso.
Isso está no Evaldo Cabral de Melo, num livro chamado O Negócio do Brasil. Ele mostra que houve, sim, uma luta contra os holandeses, duas batalhas dos Guararapes. Mas não foi o suficiente: Portugal estava metido numa encrenca diplomática na Europa e comprou o Nordeste de volta. E pagou a prestações. Inclusive, não pôde pagar e teve que renegociar a compra.

Qual é a personagem mais interessante com que se deparou na pesquisa para o livro?
Nesse primeiro volume, alguns personagens acabam se destacando. O Salvador de Sá (que retomou Angola dos holandeses), o príncipe dom Henrique, o padre Antônio Vieira, os jesuítas todos. O Zumbi dos Palmares, o Domingos Jorge Velho, um homem terrível, que mal falava a língua portuguesa, falava tupi-guarani. Era um homem do sertão, habituado a escravizar índio. Mas duas mulheres, em particular, me chamaram a atenção porque são muito simbólicas nessa história. Uma é a Catarina de Bragança. Quando Portugal recuperou a sua independência, no final da União Ibérica (1640), a Espanha não aceitava. Então, o rei dom João 4º deu a Catarina em casamento ao rei Charles 2º (da Inglaterra), e ela levou como dote boa parte das possessões portuguesas na Índia. Aí começa o “raj” (domínio) britânico na Índia. E a Catarina de Bragança leva para a Inglaterra o hábito do chá. O bairro do Queens, em Nova York, é batizado em homenagem a ela – o Duque de York, o cunhado dela, foi quem expulsou os holandeses de New Amsterdam e criou Nova York. Catarina era sócia de empresas de tráfico de escravos. E paga um preço hoje, na forma de boicote. Não deixaram instalar a estátua dela no Queens e ela agora está lá num canto do Parque das Nações (em Lisboa). Do outro lado, tem a sua contrapartida negra: a rainha Jinga, que infernizou a vida dos portugueses em Angola, comandou milhares de guerreiros homens. Há relatos de que ela passou a se vestir de homem e tinha um harém de homens vestidos de mulher. Depois se converteu ao catolicismo, se deixou batizar, adotou o nome Ana de Sousa. Morreu nos braços de um padre. Hoje virou uma heroína marxista, do MPLA, o Movimento Popular para a Libertação de Angola. Lá em Luanda tem uma estátua da rainha Jinga em estilo “realismo socialista” contemplando o oceano, tanto quanto a coitada da Catarina de Bragança está contemplando o mar da Palha, em Lisboa.

Você começa o livro narrando o seu encontro com aquele “Caymmi africano”, em Ajudá, no Benin…
Marcelin Norberto de Souza. Que é uma figura encantadora, tem 90 e poucos anos, bigodes e cabelo muito branquinhos, se veste de rosa, tem essa voz rouca profunda como Dorival Caymmi. E é o patriarca da família de Souza, herdeira do Francisco Félix de Souza, que foi sócio do rei Guezo, do Daomé, e o principal fornecedor de escravos para o Brasil no começo do século 19. Hoje, na África, existe uma descendência brasileira muito numerosa. É muito simbólico, porque é um pedaço do Brasil que está lá dentro da África, e a gente vai dando as costas para esse pedaço. Durante o governo Lula, reformaram lá em Acra (Gana) a Casa do Brasil, com dinheiro da Camargo Corrêa. O Lula foi coroado, vestido, tratado como rei africano. Mas esqueceram de perguntar à família que ocupava a casa se ela podia deixar o imóvel. E hoje ninguém entra na Casa do Brasil, porque eles reivindicam posse ancestral. A presença brasileira lá é muito importante: eles comemoram o Carnaval, bumba-meu-boi, cultuam o Senhor do Bonfim. Em Porto Novo, eu vi mesquita com traços de igreja católica brasileira, construída por escravos retornados. Observar esse pedaço do Brasil perdido na África foi muito interessante.

A ordem dos capítulos do livro, depois da introdução, não é estritamente cronológica. Como chegou à conclusão de que seria mais interessante contar essa história em “zigue-zague”?
A trilogia está dividida de forma cronológica, mas a sequência dos capítulos não segue uma ordem cronológica. Acho a história cronológica muito chata, monótona, previsível. Essa fórmula eu já tinha usado na trilogia anterior: são flashes, são pequenos ensaios. Se a gente estivesse falando de revista, é como se fosse uma reportagem de revista a cada capítulo. E às vezes parece até meio aleatório. Mas o objetivo é esse mesmo: iluminar um aspecto, como se eu acendesse uma luz aqui, depois uma outra lá, e o conjunto faz algum sentido. Também procuro sempre intercalar capítulos de análises mais profundas (por exemplo, sobre os lucros do tráfico) com personagens e narrativas mais pitorescas. É para dar um refresco ao leitor. Porque, se você encadeia e faz algo como “vamos falar do ciclo do açúcar, agora os números”, vira uma coisa de livro didático e fica muito cansativo.

Marcelo Justo/FolhapressMarcelo Justo/Folhapress“A escravidão é assunto de interesse de todos nós. Todos que estamos vivos hoje somos descendentes ou de senhores de escravos, ou de traficantes de escravos, ou de escravos”
Embora você deixe bastante claro que não há como contestar o fato de que o tráfico negreiro explodiu sob o comando dos europeus, sabemos que africanos escravizavam africanos desde antes disso e, em muitas ocasiões, se aliaram aos europeus na captura e na venda de cativos. Além disso, como o livro aponta, “identidade pan-africana” é conceito relativamente recente, que data das guerras contra o colonialismo.
Era como querer que um índio guarani do Brasil identificasse um irmão americano num índio navajo. Não fazia o menor sentido. Mesma coisa na África.

Como você acha que ficam, diante disso, propostas de “reparação histórica”?
Primeiro, acho que isso é uma grande hipocrisia. Não acredito em reparação histórica. Dívida histórica é, por natureza, impagável. Eu, por exemplo, sou descendente de cristãos-novos que foram expulsos da Espanha e migraram para Portugal no século 14, 15. Fui visitar o Museu Judaico em Portugal e tem lá uma lista de Gomes queimados pela Inquisição. Eu não vou voltar à Espanha agora e pedir reparação. Não faz sentido. A história é por natureza injusta, violenta, e as dívidas históricas são impagáveis. Agora, acho que como investimento no futuro, sim, aí faz todo sentido – políticas não de reparação, mas de compensação. Por quê? É só olhar a estatística na introdução: há um abismo de oportunidades entre brancos ou descendentes de brancos, negros e essa gama enorme de mestiços no meio. E o Brasil nunca vai ser um país decente enquanto você não promover essas pessoas. Vale também para os brancos que vivem abaixo da linha aceitável de miséria. Tem que ter políticas de compensação ou de promoção dessas pessoas – Bolsa-Escola, Bolsa Família, o que for — para ajudar esse pedaço da população brasileira a se promover e realizar sua vocação em toda a sua potencialidade. Enquanto você tiver um mar de pessoas que jamais vão realizar o seu potencial, o Brasil está desperdiçando seus talentos humanos. Então, nesse aspecto, sou a favor. E isso tem que ser de forma muito concreta, não pode ser só no discurso. Tem que ser vaga na escola pública, nos postos da administração pública, nas empresas, por mais polêmicas que essas medidas sejam. Mas têm que ser devidamente pactuadas: não pode ser de forma aleatória, populista. Acho que daqui a 300 anos a gente não pode ter mais cota –ou seja, tem que ser por algumas gerações. E muito bem pactuada, no Parlamento, entre os partidos, nas eleições e assim por diante. Agora, existe hoje um discurso racista, especialmente nas redes sociais, no discurso político, que tenta atribuir aos negros a culpa pela própria escravidão. O próprio presidente da República diz: “Ah, os portugueses não entravam na África, eram os próprios africanos que se escravizavam”. Sim, tanto quanto brancos escravizavam brancos, chineses escravizavam chineses, indianos escravizavam indianos. A escravidão era uma prática aceita em qualquer lugar do mundo, incluindo a África. Então, não existe essa coisa “pan-africana”, “africano escravizando africano”. O angolano não tinha a menor ideia de quem era o senegalês, quem era o cara do Benin. Às vezes eram rivais, inclusive. E escravidão nem sempre foi sinônimo de cor da pele. Isso é uma ideologia racista que nasceu para justificar a escravidão africana. Até o final do século 17, a maioria dos escravos no mundo eram brancos.

Você fala da origem do próprio termo “escravo”…
É, o termo vem de “eslavo” – que é povo branco de olhos azuis, escravizados aos milhões no Leste Europeu e vendidos na bacia do Mediterrâneo desde a época do Império Romano. Outro dia, numa rede social, uma pessoa fez a seguinte observação: “Um homem branco escrevendo sobre a escravidão. Acho que não vai dar certo”. Aí eu falei: “Essa é uma armadilha, porque é assumir um discurso racista construído pelos brancos para justificar a escravidão africana, séculos atrás”. A escravidão é assunto de interesse de todos nós. Todos que estamos vivos hoje somos descendentes ou de senhores de escravos, ou de traficantes de escravos, ou de escravos. Então, escravidão é assunto de todos nós. Não existe essa coisa de segregar e dizer: “Deixa que esse assunto é meu, você não tem nada a ver com isso”. Embora eu diga na abertura do livro que existem diferentes olhares. Tem um “olhar branco”, tem um “olhar negro” e tem o “olhar atento” no qual eu procuro me enquadrar. Reconhecendo que o fato de eu ser um homem branco, descendente de italianos que chegaram ao Brasil para substituir a mão de obra escrava na colheita do café no interior de São Paulo, limita o meu olhar. Eu nunca passei pela experiência de dor, de sofrimento, de preconceito por que um negro passa. Mas, feita essa ressalva, acho que é importante entender que existem diferentes olhares, diferentes maneiras de narrar essa história.

A introdução do livro trata da persistência da desigualdade econômica entre brancos e descendentes de negros. Qual é a sua opinião sobre os esforços dos governos brasileiros — ou a falta deles –, nas últimas décadas, para tentar remediar esse quadro?
O Brasil, em 1888, aboliu a escravidão e abandonou os escravos à própria sorte. Isso é inegável. Quando se observa o comportamento do movimento abolicionista, da monarquia, da elite brasileira na época, o objetivo era menos resolver o problema da escravidão e mais livrar o Brasil de uma mancha que complicava nossa imagem perante o mundo supostamente desenvolvido. Mas o Brasil nunca procurou incorporar esses ex-escravos e seus descendentes à sociedade produtiva na condição de plenitude de cidadania. E o reflexo disso está nas estatísticas. Que desmentem alguns mitos que nós construímos a nosso respeito, de democracia racial — “agora nós nos entendemos muito bem, somos uma democracia racial, esqueçamos esse assunto”. Ao contrário: o assunto continua presente na forma de estatísticas, que são indesmentíveis. Nunca houve nenhum esforço concreto de enfrentar o legado da escravidão. Em vez disso, nós construímos esses mitos. Agora, é muito simbólico que no Brasil, num ambiente de democracia, que é uma grande novidade, a questão tenha vindo à tona. É difícil responder a algumas perguntas – se, por exemplo, a cota racial não exacerba o racismo, às vezes, do branco pobre que não tem a mesma oportunidade e pode se tornar preconceituoso em relação ao negro ou ao mulato que tomou o lugar do seu filho na faculdade. É um risco, sim. E isso tudo tem que ser discutido e medido com muito cuidado. Vejo com otimismo o fato de a gente estar discutindo isso. Só isso já é importante. Não existem soluções fáceis. Mas o simples esforço de adotar algumas medidas e discutir isso já é muito legal, muito benéfico.

Você está preparado para, uma vez lançado esse livro, enfrentar as contestações sobre seu “lugar de fala” para escrever sobre a escravidão?
Sim. Esse negócio de “lugar de fala”, embora eu respeite a discussão, pode ser também uma censura à liberdade de expressão. É muito perigoso. Então, como é que eu me defendo? Com a ideia de que escravidão não necessariamente é sinônimo de negritude. É preciso tomar cuidado em assumir essa identidade, que foi imposta. Segundo, que a escravidão é assunto de todos nós. E que existe uma urgência tão grande em estudar história do Brasil, inclusive a escravidão, que quem tiver alguma contribuição a dar deve se pronunciar. E esse é o meu lugar de fala — na forma de uma linguagem acessível. Agora, eu ficaria realmente muito chateado se alguém viesse invocar a minha cor da pele como um impeditivo a que eu tratasse desse assunto. Realmente, é empobrecer demais a discussão. E aí prefiro nem entrar na discussão: melhor ceder o lugar de fala e ir para outro lugar onde eu esteja autorizado a falar.

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  1. ... E negras adolescentes de mamilos ainda em formação que permeavam as costas africanas, Trazidas por parentes desatinados por ópio e ouro Ou guerreiros de nações negras, brancas e arábicas. Vejo agora minhas culpas por ascendentes ou vida ulterior, Em que empunhava o reio e lanhava carnes dos passivos e contestados. Hoje, a entrega a mim do teu corpo negro e de teus olhos que afronta e intimida olhares Me comove por carregar, ciosa no ventre a minha imortalidade.

  2. Parabéns e obrigado, Laurentino Gomes, pela sua primorosa obra. Deveria ser incluída nos currículos escolares. Depois que li os seus livros, parei de “brigar” com o Brasil. Simplesmente agora entendo os porquês das estruturas corrompidas e cheias de privilégios a que temos de nos acostumar, concordando ou não. O Brasil nunca mudou. Pau que nasce torto.....

  3. Acho válida a análise de que os ex-escravos foram soltos à própria sorte e, em função disso, tiveram oportunidades desiguais. Mas não acredito que programas de compensação venham a dar conta da reparação do erro. Era coisa pra ter sido feita à época. Não há formas de medir os resultados da remediação, nem a sua efetividade. . Penso que um sistema de educação com foco no respeito ao ser humano (independente de raça, cor, credo,....) venha a apresentar resultados mais efetivos e definitivos.

  4. A obra de Laurentino Gomes é sublime. Vai ser um grande sucesso. Agora, esse negócio de "lugar de fala" é uma fuleragem...quase estragou a entrevista. Peço até desculpas ao Laurentino por essa cretinice.

  5. Laurentino Gomes tem contribuído, e muito, para o conhecimento da verdadeira história do Brasil, por parte daqueles que, como eu, estudou história num tempo em que se edulcorava o conhecimento do nosso país e de seus personagens. Foi muito bom revisar o aprendizado através de sua exposição escorreita, menos professoral, mais coloquial e até divertida. Obrigada, Laurentino, por nos proporcionar esse prazer com seu trabalho tão apurado.

  6. Obrigada, Laurentino, por estudar o Brasil com tanta seriedade e competência! Mais uma obra digna de aplausos! Espero que algum dia você tenha tempo para se dedicar ao movimento migratório de alemães, italianos e espanhóis e nos brindar com outra trilogia sobre este assunto, tão caro a todos nós, descendentes de europeus. Que a saga de nossos ancestrais também possa ser contada e debatida, com a importância que merece na construção do país.

  7. Infelizmente a Historia brasileira segue apenas sendo documental, com pouco ou nenhum estudo arqueológico, genético, científico. É previsível pela visão superficial de “raça” negra, branca e mestiça que é mais do mesmo. Quando chega na parte de “compensaçao” é uma tristeza. Foi na insistência no socialismo q o país quebrou. E como ex, veja os EUA: os negros de lá são dependentes do governo, racistas e não se misturam.

  8. Infelizmente Gomes cai no esquerdismo do “bolsa familia” e da “compensação” (que nada mais é que reparaçao histórica), e na insistência de que existe “raça” (já desconfirmada pela genetica) num país onde há todas as variações de tons de pele possível. E sim, o branco, o moreno, o moreno-claro já tem q perder vaga por cotas para quem tem a pele negra. Mesmo q todos tenham DNA africano. Quem resolve isso é o Tribunal Racial, um novo nazismo “do bem”.

    1. Excelente colocação - "nazismo do bem " define bem a hipocrisia socialista

  9. Achei essa entrevista muito esclarecedora, especialmente quando o Laurentino Gomes fala em políticas de compensação e não de reparação. Pode ter certeza que, serei um leito dessa trilogia.

  10. A trilogia é ótima. Esclarece muito a História do Brasil, longe do discurso oficial. Tenho certeza que essa nova obra irá ser também meritória e ainda desmascarar preconceitos cruzados. Tem muita gente levantando dinheiro do governo com tal mistificação. "Coitadinhos" oportunistas, tais como os "artistas" mamando na Lei Rouanet. O que não podemos negar é que o Brasil tem muitos salafrários, de toda cor.

  11. laurentino é competente. Li sua trilogia “em papel”, mas comprei também em e-book para ler de novo no futuro. Vou ler essa nova também para ter uma opinião melhor. Mas o Brasil tem uma grande dívida social, acentuada pelas práticas coronelistas de perpetuar a pobreza (encampadas por Lula e sua trupe). Essa dívida, na minha opinião, transcende à questão racial, razão pela qual sou favorável às “cotas sociais” no lugar das raciais.

  12. Gosto muito do Laurentino Gomes, li todos os livros dele até agora e tenho certeza que ele tem muito o que falar e esclarecer sobre o assunto. Quanto às eventuais limitações, outros que falem.

  13. Excelente reportagem. O Laurentino Gomes é um exemplo de pesquisador sério e de escritor que sabe se comunicar com o leitor. Tenho a trilogia anterior; li e gostei muito. Com certeza vou comprar e “devorar” esta nova trilogia.

  14. Parabéns Laurentino Gomes e a CrosuÉ, pela entrevista. Tenho sua trilogia anterior e amei!. Aguardo com ansiedade as próximas!!!

  15. Parabéns pela bela entrevista e conteúdo! mas tenho certeza que vai ser combatido por muitos negros! conheço uma turma que parece ter sangue nos olhos, e em tudo procura um negro para para criticar: " Mas nesse filme só tem branco, não tem negro nessa propaganda, turbante é sim apropriação cultural, e claro branco falando de negros??? Não me representa "

  16. Adorei a entrevista! Estou doida para ter acesso a essa trilogia de Laurentino Gomes. A propósito, não deixem de ler o excelente artigo desta semana de Mario Sabino sobre a "servidão voluntária", que ele inicia com um testemunho seu a respeito desse grande jornalista e escritor.

  17. A tese da dívida histórica dos brancos atuais para com os negros de sempre é tão ridícula quanto a do pecado original cristão. Deduzo que o autor rebate isso.

  18. Laurentino brilhante como sempre. Quero saber se o livro já está nas livrarias? Uma vez, em Assunción, numa biblioteca pública, li uma versão paraguaia da guerra Brasil x Paraguai (não foi guerra, foi genocídio) e sempre quis saber o que o Larentino acha...

  19. Parabéns ao brilhante autor, e já ansioso pela leitura. Só faço um comentário: parte significativa dos brasileiros "vivos" nunca foi escravo, traficante ou senhor. São os imigrantes, que vieram pra cá em condições muito difíceis também, e igualmente tiveram papel fundamental na construção do país. Eles e seus descendentes não tem "dívida histórica".

  20. sim, a compensação sempre é pela educação, mas devemos mudar as menções e noções sobre o racismo nos livros didáticos, onde o escravo, é sinônimo de africanização. Parabéns Laurentino e também a Crusoé! 👏👏👏

  21. Enquanto não houver boas oportunidades para brancos, mulatos e pardos (e negros, ou afrodescendentes - pela cultura do eufemismo insosso) competentes se colocarem não há porque criar reservas de mercado para indivíduos de pele negra. Justiça se faz por mérito e não por melanina.

    1. Você não entendeu meu comentário. Trata-se de uma constatação apenas. Melhoras.

  22. alguns leitores "crucificaram-me" por eu ter dito CLARAMENTE que NADA DEVO aos negros brasileiros descendentes dos escravos.Não concordo com este "mimimi" de que TODOS são iguais .IGUAL é um CAMINHAO de KIWI !!! e Laurentino diz que SEMPRE houve escravizaçao do ser humano pelo outro que venceu a GUERRA. e pelo que tenho lido concluo que os JUDEUS conseguirão escravizar TODOS como programou fazer(TALMUD). Yuval harari,JUDEU, mostra isto em seus livros. São donos de BANCOS, MIDIA, produçao INTE

  23. parei de ler a matéria quando o entrevistado diz: "....e o Brasil matou 1 milhão de índios a cada 100 anos até a chegada de D. João VI ...." ......se dissesse que no Brasil (que antes da chegada de D. João VI sequer lhe poderia lhe ser atribuída a responsabilidade pelas mortes dos indígenas já que apenas colônia de Portugal) morreram 1 milhão de índios a cada 100 anos, até vai......mas dizer que o Brasil matou (como algo deliberado, tal como Hitler na Alemanha contra os Judeus), aí não dá....

    1. acolhendo o "conselho", acabei lendo a matéria na íntegra.....muita bobagem.....deixa pra lá, vou continuar burro mesmo....., a vantagem é que não irei torrar meu suado dinheiro com esse livro.....

    2. Radical e burro. Leia até o final para se informar. Burro!

  24. Bacana a tua incursão no tema, Amélia, teu destemor, tua clareza e coragem. Viu só como os arautos do faz-de-conta se ouriçam? São os donos da Verdade. Por certo mordem a fronha, aos prantos, ante o dono preso, em Curitiba! Faz-me lembrar a pootinha filha de mamãe que brada em nome da Amazônia - mas nunca foi capaz de regar com um copo d'água a samambaia da garagem... Essa gente nunca aprende nada e nunca esquece nada.

  25. Eu li uma tese de doutorado de um alemão exatamente sobre o Infante D. Henrique. O Laurentino tá falando bem diferente. E a nossa escravidão foi bem diferente ou "branda" visto nossa miscigenação; é óbvio que a mistura foi um consentimento, coisa "branda", quando comparada com os EUA.

  26. A escravidão foi a base da produção na maior parte da história humana moderna. No ocidente foi substituída pela servidão com o fim do império romano. Com o surgimento do comércio mundial no século XVI e o início do capitalismo, a escravidão retorna com força no "novo mundo" pra abastecer as indústrias com matérias-primas. As contradições permeiam a história humana: a interpenetração dos contrários. A escravidão de africanos contribuiu com a "formação" de capital e seu desenvolvimento.

  27. Excelente contribuição. Bolsa família é uma questão importante, mas não resolve. Educação seria a melhor alternativa, mas seus frutos aparecem a longo prazo. E nossa educação, francamente desce ladeira abaixo a cada ano.

  28. Ninguém quer atribuir aos negros a culpa pela própria escravidão . Mas os negros dos reinos do litoral escravizavam os negros do interior da África , vendiam para os traficantes brancos , que por sua vez vendiam para senhores de engenho brancos . Culpar apenas os traficantes brancos e os senhores de engenho brancos , e inocentar os negros dos reinos do litoral , é racismo reverso . E cotas tem que ser sociais e não raciais , para beneficiar todos os pobres e não apenas os pobres de uma raça🇧🇷

  29. Laurentino exala e produz a cultura isenta de "histórias" e conteúdos ideológicos. Precisamos desses acervos para reflexões sadias.Parabéns!

  30. Miknha penta-avó era escravocrata , dona de 1100 escravos , todos COMPRADOS e PAGOS nos mercados do RJ e da BAHIA . Divida HISTóRICA com os escravos tem os chefes das tribos africanas que os venderam.Que estes descendentes deles cobrem dos descendentes africanos dos chefes das tribos, não dos brasileiros !!! NADA temos a ver com esta divida !!!

    1. Quer dizer então Amélia que a sua vovozinha achava normal comprar e pagar PESSOAS? Pelo jeito, lamentavelmente, você herdou as mesmas características!!! E não se envergonha de contar!!!

    2. Tira a cabeça do buraco, avestruza. Sua penta avó era receptadora, mandante dos executores. Seu papel agora é reparar os crimes dos seus antepassados. Ajudá-los a encontrar um pouco de paz é o mínimo que pode fazer.

  31. Temos o direito de pedir a igualdade e sem discriminacao, pois somos todos iguais. Ter direitos a mais é fazer escravidão às avessas. Estamos aqui para contribuir com os nossos semelhantes e engrandecer o nosso planeta, veja Gandi, Madre Teresa, Irmã Dulce, Mandela e aqui o Chico Xavier: sempre pediam igualdade pata todos!

  32. Vixe! O "bobinho" do "zé mané" que insiste com a mesma piadinha do "Tómas Turbante" precisa evoluir. Conta outra! O jornalista Laurentino é coisa pra gente grande; evoluída.

    1. Paulo, pra ser um lambe-bolas de peso você deve voltar pra escola! Tuas poucas linhas gritam uma pobreza gramática de dar dó. E ainda consegue falar em gente grande.... Anão.

  33. Aconselho ao Laurentino q leia o livro de Thomas Sowell sobre a política de cotas ! Mostra fatos com muita clareza. A partir daí pode-se dar uma opinião embasada sobre a questão das cotas , q no Brasil, como no reto do mundo , tem como mote principal a promoção política e a captação de votos !!!

  34. Sim, é importante entender o passado para melhorarmos o futuro. Mas infelizmente, remói-se muito no caldeirão das mazelas humanas, e não se tira dali nenhuma refeição, nenhum remédio que possa ajudar a melhorar a saúde da humanidade. Espero que essa trilogia não venha colocar mais lenha numa fogueira que precisamos apagar. Essa trilogia pode tornar-se combustível para mais mimimi, para mais coitadismo, para mais barulho na lacrosfera delirante.

  35. A tal dívida histórica sempre presente nas mentes doentias de esquerdistas bem que poderia começar a ser descontada com os frutos financeiros dessa grandiosa obra, favor dos negros. Fica a dica.

  36. Já comprei meu exemplar antecipadamente. Concordo plenamente com o autor: a escravidão é um tema que diz respeito a todos os segmentos sociais brasileiros.

  37. Será que ele vai ter coragem de mostrar quem eram os donos dos navios que dominavam o tráfico, a maioria judeus, ou vai esconder o fato? A ideia dele que é possivel se promover o desenvolvimento de uma raça é cem por cento marxista e anti-cientifica. Seria sim 300 anos roubando os brancos com cotas, transferindo dinheiro e privilegios, sem nenhum efeito concreto. Preparem-se, esse lixo que ele está preparando vai desencadear uma festa entre a esquerda brasileira.

  38. A escravidão era algo banal até na Bíblia. Conforme consta lá, até Jesus Cristo tratava a questão com naturalidade, não a repudiava. Era tão banal que os cristãos esqueceram-se de também edulcorar Jesus nesse aspecto. Esse detalhe eu considero uma falha da hipocrisia cristã.

    1. Jesus tratava as loucuras humanas no atacado, não era seletivo. Seu ensino visava a mansidão plena diante das injustiças dos homens e a confiança plena nas promessas de suprimentos pelas providências de Deus. Sua pregação do reino de Deus nada tinha a ver com os reinos do mundo. O uso marxista do evangelho é a prova cabal da incapacidade humana de percepção dos objetivos do evangelho.

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