NASANazistas se refugiaram na Antártida antes do fim da Segunda Guerra, e de lá para a Lua

A esquerda não sabe fazer teorias da conspiração

Nós, claro, podemos criar teorias da conspiração – é divertido, é estético. Eu, particularmente, aprecio bastante
19.07.24

Muitos ficam atarantados quando veem pessoas do outro lado da cerca ideológica criando teorias da conspiração. Nós, claro, podemos criar teorias da conspiração – é divertido, é estético. Eu, particularmente, aprecio bastante. Mas quando eles fazem é um pouquinho demais. Moralmente errado, até.

E muita gente ficou atarantada assim, esta semana, com as teorias ridículas a respeito do atentado contra o Trump. Mas para que ficar atarantado? Para que deixar a sua pressão subir? Uma maneira mais sensata de encarar as teorias da conspiração que surgem do outro lado da cerca é ficar feliz de que alguma realidade, para eles, seja tão dolorosa que eles se vejam obrigados a criar teorias estapafúrdias para não enxergá-la.

É como se eles vissem Trump reagindo bem a uma tentativa de assassinato e toda a sua psique desabasse como a torre na carta da Torre no tarô. “Não é possível”, diz o ego dessas pessoas. “É irreal isso que estou vendo, porque obviamente se isso que estou vendo fosse verdade, eu teria que admitir que vivo num mundo tão complexo que pessoas do outro lado ideológico também sofrem perseguição e violência, o que elas não sofrem, o que elas não podem sofrer; e além disso teria que admitir que elas podem ter uma ou outra virtude convivendo ali com todos os seus defeitos, e com a ideologia repugnante delas, como por exemplo a virtude de ser um tanto corajoso, ou aparecer muito bem numa foto. E essas coisas não podem ser reais. Simplesmente não podem. Rápido, minha mente, crie uma história que negue essa visão terrível da realidade!”

E a mente deles logo dá uma risadinha sabida, e diz:Fique tranquilo, não é nem um pouco difícil. Não está achando essas imagens favoráveis demais ao outro lado? E por acaso o outro lado pode ter um aspecto bom e vagamente cool? É claro que é uma encenação. Sim, são atores. Acho até que aquela agente de segurança que não conseguiu devolver a arma para o coldre é aquela gorda que tem diarreia em Bridesmaids (Missão Madrinha de Casamento). Olha aqui, me deixa dar um close no rosto dela. Viu, é aquela atriz! É a Sookie de Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha)! Que palhaçada!”

As teorias da conspiração que vêm da esquerda só acontecem um pouco depois de uma derrota política deles. É uma maneira de explicar que a derrota é apenas aparente, ou aconteceu mas é relativa, ou aconteceu por causa de uma inferioridade intrínseca do lado vencedor que vai acabar causando a sua ruína.

Esses são usos inferiores e espúrios das teorias da conspiração.

As teorias que vêm da direita, ao contrário, às vezes vêm de uma pura necessidade estética. Algumas delas, pelo menos, são criações artísticas completamente desassociadas de necessidades políticas mesquinhas do dia-a-dia. A teoria de que a terra é plana, por exemplo — ela pode lhe parecer cretina, mas tente visualizar o que os terraplanistas visualizam e você sentirá, se tiver suficiente equanimidade e desapego à mera verdade, um frisson, um arrepio na coluna, que era o que Nabokov dizia que era o verdadeiro sinal de que você entrou em contato com uma obra de arte.

Já falei aqui de outras teorias da conspiração do meu agrado: a de que o Império Romano nunca acabou, ou a de que a Idade Média nunca aconteceu; a de que os nazistas se refugiaram na Antártida antes do fim da Segunda Guerra, e de lá para a Lua, e de lá para Marte; a de que o espaço sideral não existe, ou a de que Theodor W. Adorno escreveu as músicas dos Beatles. Elas todas estimulam a minha imaginação de um jeito que nenhum filme estimula faz muito tempo. Se a luz acabou, e é cedo para dormir, tudo que tenho que fazer é sentar numa poltrona no escuro e ficar pensando em alguma teoria da conspiração da direita — são quase todas grandes obras de arte, mais importantes para a humanidade que as obras completas de Clarice Lispector (ataque gratuito).

E, veja, não estou dizendo que você deve apreciar as teorias da conspiração ironicamente. Não, é sério. Elas fazem o cérebro se contorcer e dar cambalhotas, e elas apresentam o universo para você como se fosse a primeira vez que você o visse.

Enfim — para terminar, não consigo entender as pessoas que não gostam de Donald Trump. Gosto dele, em parte porque ele me lembra do herói do filme De Volta para o Futuro — que é (claramente) o Biff.

 

Alexandre Soares e Silva é escritor
 

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  1. Só a esquerda para : 1) achar que um menino de 20 anos tem habilidade, treinamento e pontaria suficiente para, em uma distância de 150m, pegar de raspão a orelha do Sr Trump; 2) pessoas foram gravemente feridas ( mas isso estava no roteiro) ; 3) o menino estava disposto a morrer pela causa da direita. Surreal

  2. Que arremate, esse final! É isso mesmo. O Biff, após chegar na beirada da Terra plana, virou para o outro lado travestido de Trump, e onde o MacFly envelheceu, usando o nome falso de... Joe Biden! Agora ele lidera uma seita mundial de extremistas de direita que sabota Lula e seu eterno inimigo, o Biden. É claro que isso só pode ser coisa da CIA, em parceria com a Abin.

  3. Se tem uma coisa que não consigo aceitar, de forma alguma, é a teoria da Terra Plana. Como podem pessoas, de até um "certo grau de formação acadêmica", acreditar num absurdo como esse? Se eles sabem que é necessário o uso de satélites para usarem seus celulares e assistirem TV. Mas, é isso, Alexandre, parabéns pelo texto.

  4. Vá ver o doido do Trump combinpu com o assasino e providencialmente deixou o "ireião" na ftesca pro tiro, não precisava matar o cara bem melhor colocá-lo a vida inteira num msnicômio como o Adelio Bispo que logo será cardeal.

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