ReproduçãoEduardo Paes: "o beach tennis é na praia de verdade"

Faria Lima carioca

Bolsa de valores no Rio de Janeiro poderia marcar uma nova fase no mercado financeiro nacional
12.07.24

O vídeo do aprendiz de influencer e prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciando o retorno de uma bolsa de valores à cidade maravilhosa talvez relembre alguns da notória “malandragem carioca”. Aquele jeito despojado e brincalhão que, nem sempre, favorece o alvo da traquinagem.

A notícia, no entanto, pode realmente beneficiar a economia brasileira como um todo e dinamizar a cena carioca. Ainda pendente de autorização do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários, a iniciativa pode trazer competição para um ambiente monopolizado pela B3 no Brasil. Cenário bem diferente do passado distante nacional que já viu passar quase três dezenas de bolsa de valores.

O próprio Rio de Janeiro, ao lado da capital baiana Salvador, foi uma das primeiras localidades a receber uma, ainda no século 19. São Paulo, para possível deleite de Paes, só recebeu a primeira iniciativa do tipo em 1890.

Para reativar a bolsa carioca, fechada há mais de duas décadas, a Câmara de Vereadores do Rio e a prefeitura aprovaram a redução da alíquota de ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) de 5% sobre 2%. Afinal, como diria a sabedoria popular: para quem não tem nada, metade é o dobro.

De acordo com o prefeito, o imposto foi responsável pela arrecadação de 1,5 bilhão de reais em três anos, mas pode se beneficiar da entrada de uma concorrente à B3.

A nova bolsa, ainda sem um nome definido, responde pelo pseudônimo ATS (American Trading Service), para espelhar o nome da responsável pelo negócio – a ATG (American Trading Group). A empresa é especializada em negociação eletrônica e foi comprada pelo fundo árabe Mubadala Capital no início do ano passado.

A concorrência com a Bolsa do Brasil, como a B3 chama a antiga Bolsa de Valores do Estado de São Paulo, promete ser acirrada. Atualmente, a disputa pelas ações das empresas brasileiras é com as bolsas de Nova York, onde diversas companhias nacionais optaram por abrir capital nos últimos anos.

As dificuldades do mercado financeiro no Brasil são históricas e explicam em boa medida o fato de só ter sobrado uma bolsa de valores no país e vão desde o ambiente legal incerto até fraudes.

Na primeira metade do século passado, por exemplo, a Lei da Usura limitava os juros a 12%. Em um ambiente tomado por uma inflação crescente, o teto dificultou o desenvolvimento de um mercado de capitais ativo.

Dos anos 1960 em diante, o governo inverteu a mão e passou a dar incentivos fiscais à compra de ações. Foi o que desencadeou o “boom” da bolsa carioca na primeira metade do ano de 1971, que foi seguido por uma grande queda e decepção por parte dos investidores.

O golpe de misericórdia na bolsa carioca veio com as operações do megainvestidor Naji Nahas, que, entre outras estratégias, teria utilizado laranjas para fazer às vezes da outra ponta da operação e assim inflar os preços dos papéis.

O chamado “zé-com-zé”, quando um investidor é o comprador e o vendedor de uma ação ou derivativo, promove uma falsa liquidez para o ativo e provoca mudança artificial nos preços. Em1989, a operação acabou quebrando a bolsa carioca.

Absolvido da acusação anos mais tarde (após um período preso), Nahas ficou ainda mais rico, e a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro ficou aos frangalhos, sendo absorvida pela paulista no início dos anos 2000.

A expectativa agora é que a lição tenha sido aprendida e uma nova concorrente no mercado financeiro possa fazer frente à bolsa de valores sediada na capital paulista. Longe das piadas de Paes sobre copos Stanley, patinetes elétricos e coletinho, a iniciativa pode marcar uma nova fase no mercado financeiro nacional.

A expectativa do grupo ATG é fazer os primeiros negócios até o início de 2026, começando pela negociação de ações e derivativos e uma clearing (para compensação e liquidação de ordens de compra e venda) e avançando para futuros de opções e derivativos em uma segunda fase.

A esperança dos investidores é que a melhor parte da iniciativa, ao contrário do que o prefeito do Rio de Janeiro definiu no vídeo de divulgação da notícia, não seja que na capital carioca “o beach tennis é na praia de verdade”, mas sim a criação de um ambiente seguro para o investimento do brasileiro.

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  1. O problema do mercado de capitais no Brasil não é a falta de concorrência da B3. É a pobreza de empresas listadas, o peso do Governo e sua dívida e a completa falta de competitividade. Mais um factóide do Prefeito exxperttoo.

  2. Brasil continua sendo um país de gente que, por ser desmemoriada, pensa estar criando o futuro quando copia e repete os mesmos próprios erros do passado…

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