ReproduçãoO poeta Bruno Tolentino: "Por que Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?"

A nova direita nasceu porque ninguém aguentava mais Caetano Veloso

O movimento incorpora liberais e conservadores, monarquistas e republicanos, pessoas contra e a favor de Jair Bolsonaro. Só não tem quem defenda o cantor
30.05.24

Quando o poeta Bruno Tolentino chegou ao Brasil depois de quase trinta anos morando na Europa, encontrou um cenário pouco auspicioso. Ele, que antes de viajar conviveu com Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles, teve de lidar com um ambiente cultural dominado por tudo que ele desprezava: o legado da Semana de 22, o concretismo, a Tropicália, e especialmente… Caetano Veloso.

Quando ele concedeu a famosa entrevista “Quero meu país de volta”, às páginas amarelas de Veja, o seu alvo principal foi Caetano Veloso. Ele disse:  “É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o show biz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura”. E mais: “É preciso perguntar dia e noite: por que Chico, Caetano e Benjor no lugar de Bandeira, Adélia Prado e Ferreira Gullar?”.

Caetano resumia tudo a que o poeta Bruno Tolentino se opunha: o entretenimento (ou show business) colocado no lugar da cultura, a letra de música confundida (e estudada) como poesia, e uma certa visão da cultura brasileira.

Essa entrevista é considerada por muitos o mito fundador da nova direita. Não duvido que seja. O espírito do “quero meu país de volta” está presente até hoje na oposição política ao PT, mas também na oposição ao establishment cultural da esquerda e tudo que ele representa.

A nova direita incorpora opostos: liberais e conservadores, monarquistas e republicanos, monarquistas e defensores do regime militar, gente pró e contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Só não tem quem defenda Caetano Veloso. E por que não?

Ora, Caetano virou o símbolo máximo da esquerda cultural, que é hegemônica há décadas (já era no tempo de chegada de Bruno Tolentino) e que agora tem dado sinais de desgaste até mesmo na própria esquerda.

A primeira coisa que incomoda em Caetano é o engajamento, aquilo que virou o meme “I support the current thing”. Seja o marco temporal dos povos indígenas, o desmatamento na Amazônia, a guerra na Palestina, o Fora, Temer, o “Ele, não“, o que seja, ele está lá, fazendo política nos shows, no cinema, em vídeos com atores da Globo, nas tantas entrevistas.

A instrumentalização da cultura para fins políticos é o principal – e mais lamentável – legado de Caetano e sua companheira, Paula Lavigne. É como se a cultura fosse um imenso pretexto para defender certas causas – na verdade, acho que se tornou mesmo um pretexto.

Lavigne é a produtora por trás de todas essas articulações, com acesso privilegiado ao Legislativo, Executivo e até Judiciário – inclusive a Suprema Corte. No âmbito das artes, criou-se um efetivo sistema de legitimação, que promove artistas novos – basta uma citação numa música, ou um feat num clipe. Não preciso nem dizer que todos esses artistas novos têm a mesma agenda política, não é?

Outra questão de atrito com a nova direita é a dos costumes. Paula Lavigne recentemente relembrou a história de como perdeu a virgindade aos 13 anos com Caetano Veloso, então com 40. Foi numa entrevista à Globoplay, no programa Angélica: 50 e Tanto. Essa é uma história que sempre ressurge em rede social: por mais que não seja crime no Brasil, um homem de 40 anos tirando a virgindade de uma adolescente de 13 não chega a ser algo bem-visto na sociedade em geral.

Paula Lavigne processou os críticos, ganhou na Justiça contra o filósofo Olavo de Carvalho uma indenização de mais de 2 milhões de reais por um simples tuíte. Outras pessoas também foram processadas, pelo mesmo motivo. Ou seja, além de usar a cultura – e a política cultural, uma vez que têm uma tremenda influência política – como pretexto para defender certas causas de esquerda, e de criar um sistema de legitimação de novos artistas também engajados, eles também perseguem os críticos na Justiça.

 

Josias Teófilo é jornalista, escritor e cineasta

 

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  1. Pelo que li na internet, o juiz mandou retirar o tuíte de Olavo sob pena de R$ 10 mil por dia. Olavo não retirou o tuíte e a multa acumulou. E a dívida já estaria em R$ 3 milhões.

  2. Os artistas que temos são a mais viva prova da ignorância de uma nação aculturada ... Caetanos? Lixo fedido e só.

  3. Por que a Crusoé está falando de Caeano Veloso? Acaso a "Ilha de Cultura" não encontrou um tema cultural mais relevante?

  4. Caetano terá um legado controverso. Como músico terá seu valor reconhecido (admito que não sou admirador de sua obra), mas a politização de seu trabalho e sua participação na chamada máfia do dendê será estudada para sabermos o verdadeiro mal que fez à cultura brasileira e quantos talentos se perderam por não participar no obrigatório beija mão

  5. Excelente matéria. Vou até compartilhar no facebook. O Brasil precisa entender que Caetano nunca foi um defensor da cultura, mas sim um oportunista que usa a fragilidade e desordem das instituições brasileiras em proveito próprio.

  6. Perfeito , Teófilo. Perdi todo o respeito por esses “pseudo comunistas”. Todos vivem muito bem graças ao Gobierno, de verdade ma forma ou outra. E o povo acreditando que eles são a verdadeira cultura do protesto contra o capitalismo !

  7. Realmente, pensar que estamos aguentando Chico Buarque, Caetano, Lula, PT, etc, esse lixo, há tantos anos...Dá nojo!

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