Ricardo Stuckert / PRMargareth Menezes com Lula: "igrejas encontram espaço em vazios culturais"

O preconceito contra cristãos no meio artístico

Igrejas invariavelmente atrapalham o avanço das pautas identitárias e essa é a razão por que a ministra da Cultura Margareth Menezes, por exemplo, se opõe a elas
29.03.24

A ministra da Cultura Margareth Menezes declarou que “igrejas encontram espaço em vazios culturais“. A declaração, feita em entrevista à BBC, é sintoma de um fenômeno que não é raro mas do qual pouco se fala: o preconceito contra cristãos no meio artístico.

Curiosamente, a entrevista da ministra parecia ter um objetivo conciliatório: ela falou o tempo todo sobre integrar inclusive as pessoas de direita, como o pessoal do sertanejo, e mesmo as pessoas religiosas. Mas, no meio da conversa, veio o sincericídio de opor religião e cultura.

Ora, as igrejas – todas elas – sempre produziram cultura. Até a escrita da música nasceu dentro da igreja – a Igreja Católica, no caso. Johann Sebastian Bach compôs e tocou a vida inteira na Igreja Luterana – e sua maior obra, a Missa em Si Menor, é uma missa católica, fruto de uma encomenda de um príncipe.

No Brasil, a obra de Heitor Villa-Lobos, por exemplo, tem uma surpreendente quantidade de obras sacras. Até hoje, na Osesp, a melhor orquestra brasileira, muitos dos músicos aprenderam a tocar em igrejas cristãs.

É claro que boa parte da música produzida nas igrejas é amadora. Mas a maior parte da música, no geral, é feita por não profissionais, inclusive boa parte do que é financiado pelo Ministério da Cultura. As igrejas dão oportunidade a muitos jovens iniciarem-se na música, alguns deles tornam-se profissionais de destaque.

Falei da música, mas as instituições religiosas são responsáveis pela formação de uma imensa quantidade de grandes artistas e pela realização de obras muito importantes na história da arte – na arquitetura, nas artes plásticas, na literatura, no teatro.

E mais: arte e religião têm muitas coisas em comum: são duas formas de transcendência da realidade imediata e envolvem formas de pensamento mágico, sobrenatural. O cinema, por exemplo, para André Bazin (que era católico), é o vestido sem costura – ou seja, uma forma por si só milagrosa de ver a realidade.

Dia desses, eu estava observando que só existem dois lugares onde fico sem usar o celular: na Sala São Paulo e na Igreja de Nossa Senhora do Brasil. Nos dois casos há um certo rito e uma certa tradição. E também uma hierarquia bastante clara, que envolve respeito, cerimônia e, principalmente, repetição – como diz o padre Paulo Ricardo, rito é repetição, é algo que se faz todo dia da mesma forma.

Por que então a ministra opõe a cultura e as igrejas? Ora, é muito simples: as igrejas – principalmente cristãs, mas não só – invariavelmente atrapalham o avanço das pautas identitárias, da qual a ministra (e o governo do qual ela faz parte) se filiam. A Igreja Católica e as igrejas evangélicas pressionaram decisivamente o governo Dilma contra a pauta do aborto, por exemplo. E contra a imposição das pautas LGBT, um dos temas mais importantes para o governo Lula, especialmente na cultura.

Ao mesmo tempo, as igrejas – e a forma com que elas produzem cultura – são descentralizadas, não dependem do Estado. E o ideal do Ministério da Cultura petista ainda é soviético, em que tudo depende do Estado centralizador. Eles não conseguem controlar as igrejas. Os decretos com cotas, imposições temáticas etc. não se aplicam a elas.

Vivemos um momento em que festivais de música, mostras, festivais de cinema estão totalmente instrumentalizados por pautas políticas – sejam de gênero, relacionado a racismo, LGBT etc. – mas os cristãos não costumam comungar dessas pautas (com exceção de algumas poucas denominações religiosas que embarcaram no progressismo). A verdade é que as igrejas são uma pedra no sapato do avanço identitário na cultura – é esse o “vazio cultural” a que a ministra se refere. Daí o preconceito: eles veem os religiosos como pessoas que não se atualizaram, que não comungam das práticas modernas de inclusão.

 

Josias Teófilo é jornalista, escritor e cineasta.

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  1. Muito bom texto, mas o preconceito por parte dos auto proclamados progressistas é muito anterior à pauta identitária. Se um é dito ópio do povo, o outro é o ópio dos intelectuais. São duas religiões que não aceitam concorrência. A diferença é que uma é teísta e a outra não, uma se reconhece como religião, a outra, não.

  2. Vale mesmo a pena lançar mão de centenas de palavras para tratar do suposto preconceito dos defensores da chamada pauta identitária contra os autodenominados cristãos?

  3. Sobre a ministra ñ posso opinar,ñ a conheço,mas se é petista nem preciso comentar,perda de tempo.Qto à religião,o q ñ gosto é q esse povo (evangélico) quer enfiar uma bíblia,modificada p/ ele,goela abaixo de todo mundo.Lutero deve estar se virando no túmulo.Pra mim,q venho de outros tempos,até de outro milênio,essas novas religiões ñ passam de seitas onde cada chefe (pastor) quer fazer seu pé de meia explorando a simplicidade e a ingenuidade de pessoas geralmente ignorantes,nada a ver c/religião

  4. "Tudo no Estado, nada contra o Estado e nada fora do Estado." Opõe-se a igreja ao totalitarismo no seio petitsta, tornando-se forçosamente uma ameaça a subjugar.

  5. E pensar que os luloafetivos nem se informam direito. Nicarágua estão fechando as igrejas, prendendo padres. O Putin definiu que LGBT deve ser considerado terrorista e por aí vai. Eles são ignorantes até para verem a contradição em que estão metidos.

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