Carlos Reiss: como detectar o antissemitismo

O coordenador-geral do Museu do Holocausto, em Curitiba, diz que os antissemitas tentam fazer crer que estão emitindo opiniões, quando apenas repetem preconceitos históricos
16.11.23

O número de casos de antissemitismo no Brasil aumentou 1.000% em outubro deste ano, em relação ao mesmo mês do ano passado. No Crusoé Entrevistas, o coordenador-geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, comenta essa elevação, que ocorreu após os ataques terroristas do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, e ensina a detectar os casos.

Na conversa, Reiss analisa as palavras de ordem cantadas em uma reunião convocada por dois partidos de esquerda na Câmara dos Deputados. “Estado de Israel, Estado assassino. E viva a luta do povo palestino“, diziam os seus participantes. Para Reiss, o problema na frase é apontar o dedo para o Estado de Israel, e não para os seus governantes.

Quando se diz que Israel é um Estado assassino, está-se dizendo que a essência e a natureza desse Estado é ser assassino. Fica óbvio e evidente o antissemitismo nesse caso“, diz Reiss. A situação seria outra se a crítica fosse direcionada a determinadas políticas de um governo específico de Israel. Nesse último caso, ficaria mais difícil falar em antissemitismo.

Reiss também pontua que o antissemitismo tenta comunicar a ideia de que suas declarações são uma questão de opinião, pois as manifestações seriam fruto de uma reflexão. Mas, em vez disso, o que os antissemitas fazem é repetir posições históricas, sem qualquer debate ou pensamento próprio. “O antissemita tenta dizer que se trata de uma questão opinativa. Ele cria essa confusão mental para fugir da pecha de ser antissemita“, diz Reiss.

Além disso, ao afirmar que o Estado de Israel é assassino em um momento como o atual, essas pessoas tentam desviar o debate, para ignorar os fatos recentes, como as ações terroristas do Hamas.

Reiss comentou os shows de Roger Waters, ex-integrante da banda Pink Floyd, que já deu várias declarações contra judeus. “É quase uma obviedade a gente buscar os elementos e as características históricas que ele vai usar, os argumentos que ele vai usar, como, por exemplo, dizer que existe uma conspiração judaica, que há uma questão de poder, de mídia. Eu não estou nem falando de situações explícitas que ele não usou aqui no Brasil, como aquele porco com uma estrela de Davi, que ficou famoso em algumas das apresentações que ele fez na Europa“, diz Reiss. “Não é necessário muito aprofundamento para encontrar características antissemitas no discurso dele, que também tenta dissimular seu antissemitismo como se fosse uma questão subjetiva, de opinião.”

Assista ao vídeo abaixo:

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  1. Que os judeus são perseguidos como poucos nesse mundo e costumeiro bode expiatório é inegável. Tanto hoje como nós últimos tristes séculos de história. Todavia acho que muitas vezes há uma sensibilidade enorme à criticas a Israel logo categorizadas como antissemitas. Entende-se por ser um povo muito martirizado, mas esse escaldamento todo pode ter efeito refratário nos interlocutores

    1. Comentário perfeito, Carlos. Uma crítica ao governo israelense já é considerada por muitos antissemitismo.

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