Minha casa, minha vida – lá na terra do Tio Sam

Agentes da Polícia Federal que atuam no caso das joias inauguraram uma nova linha de investigação a respeito do ex-presidente Jair Bolsonaro, seus familiares e colaboradores próximos: trata-se de verificar a aquisição de imóveis fora do Brasil e um possível esquema de ocultação dessas propriedades. O caso também está na mira da CPMI de 8 de janeiro, após os integrantes do colegiado terem informações sobre transações atípicas envolvendo Bolsonaro e aliados.

A corporação está analisando, com apoio do Federal Bureau of Investigation (FBI) dos Estados Unidos, a compra de ao menos 20 casas e apartamentos em nome de pessoas ligadas ao ex-presidente da República, em pelo menos dois estados americanos: Nova Jersey e Flórida.

Na hipótese explorada pelos agentes, os imóveis em nome de terceiros seriam, na verdade, para usufruto do ex-chefe do Poder Executivo brasileiro. O caso guardaria certa semelhança com o do sítio de Atibaia de que Lula e sua família se beneficiavam, embora a propriedade estivesse registrada em nome de amigos, segundo apurou a Operação Lava Jato.

Um personagem central no esquema de Bolsonaro seria o advogado Frederick Wassef. Ele teve quatro celulares apreendidos pela PF no último dia 17. Na última terça-feira, 22, os agentes conseguiram acessar o conteúdo dos aparelhos. A ligação do advogado com os imóveis nos Estados Unidos já vem sendo averiguada há mais tempo, no entanto. Os celulares podem ajudar a preencher o quadro esboçado até agora.

No intercâmbio com o FBI, a Polícia Federal identificou o corretor de um dos imóveis que fariam parte do esquema de acobertamento de patrimônio. Ele intermediou a compra de um apartamento de quase 300 metros quadrados, com três quartos, dois banheiros, varanda com vista para o mar e avaliado em 1,2 milhão de dólares. O imóvel está localizado na 21050 Point PL, unidade 2006, em Aventura, Miami. Comprado no dia 13 de setembro de 2021 ele está no nome de Wassef e tem seus impostos pagos pela ex-mulher do advogado, Maria Cristina Boner.

“Aventura é um bairro nobre, onde residem muitos brasileiros. Um imóvel de 1,2 milhão de dólares é um imóvel de luxo. Quem mora lá não é hiper milionário, mas tem uma excelente condição financeira“, explica Igaro Gonçalves, profissional do mercado imobiliário de luxo em Miami, responsável pela negociação de imóveis de celebridades como o tenista Novak Djokovic.

A investigação da Polícia Federal vai ao encontro a uma denúncia feita no ano passado pela ex-mulher de Valdemar Costa Neto, Maria Christina Mendes Caldeira. À época, Christina afirmou em entrevista ao canal de Youtube TV Democracia que Wassef e Jair Bolsonaro eram sócios na aquisição de imóveis em solo americano. O esquema envolveria também Maria Cristina Boner, a ex-esposa de Frederick Wassef, suas filhas e um corretor de imóveis.

Segundo Christina, Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro abriram uma ação contra ela no valor de 50 mil dólares devido às denúncias. Seu relato foi esquecido pela falta de detalhes que pudessem lhe dar lastro. Agora, os agentes da PF acreditam que a linha de investigação merece ser aprofundada. Procurada por Crusoé, Christina respondeu por mensagem de texto que “tem medo de falar do assunto”.

A reportagem procurou a assessoria do ex-presidente Jair Bolsonaro para comentar a investigação da PF sobre os imóveis supostamente comprados nos Estados Unidos. O ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que nunca ouviu falar a respeito do assunto.

A reportagem de Crusoé também tentou contato com o advogado Frederick Wassef, mas não conseguiu. O espaço segue aberto.