Ricardo Stuckert/PRBiden e Lula durante reunião em Hiroshima: aproximação com eixo autocrático

O G7 que revelou Lula

As maiores nações democráticas do planeta já entenderam que o presidente se alinhou ao eixo autocrático
25.05.23

Muito bom o discurso de Lula como convidado do G7. Vejam dois trechos:

A humanidade está passando por uma época de mudança revolucionária. A formação de um mundo mais justo e multipolar continua. O modelo desequilibrado de desenvolvimento mundial que, durante séculos, permitiu às potências coloniais desenvolver-se economicamente de forma mais acelerada à custa da apropriação dos recursos dos territórios e países dependentes na Ásia, África e no Hemisfério Ocidental, está a tornar-se coisa do passado e não voltará mais. A soberania e a competitividade das potências mundiais extra-ocidentais e dos líderes regionais está a reforçar-se. A reestruturação da economia mundial, a sua colocação numa nova base tecnológica (incluindo aplicação prática da inteligência artificial, das tecnologias de informação e comunicação mais avançadas, das tecnologias energéticas, biológicas e nanotecnologia), o crescimento da consciência nacional, a diversidade cultural e civilizacional e outros fatores objetivos aceleram o processo de redistribuição do potencial de desenvolvimento a favor de novos centros de crescimento econômico e influência geopolítica, contribuindo para a democratização das relações internacionais.

“No entanto, as mudanças em curso, que são, de modo geral, favoráveis, não são aceitas por alguns países que estão habituados a pensar em termos de domínio global e neocolonialismo. Eles não querem aceitar as realidades de um mundo multipolar e buscar acordo sobre os parâmetros e princípios da ordem mundial neste contexto. Estão a tentar conter o curso natural da história, eliminar concorrentes nas áreas político-militar e económica e suprimir a dissidência. Estão a utilizar uma vasta gama de instrumentos e métodos ilegais, entre os quais medidas coercivas (sanções) sem consultar o Conselho de Segurança da ONU, a provocação de golpes de Estado e de conflitos armados, ameaças, chantagem, manipulação da consciência de alguns grupos sociais e povos inteiros, operações ofensivas e subversivas no espaço de informação. A imposição de atitudes ideológicas neoliberais destrutivas… é um método correntemente utilizado para interferir nos assuntos internos dos países soberanos. Como consequência, a influência destrutiva estende-se a todas as esferas das relações internacionais“.

Gostaram?

Mas é falso. Trata-se de trechos do Decreto 229, assinado em 31/03/2023 por Vladimir Putin, estabelecendo as bases conceituais da nova orientação da política externa da Rússia.

Isso revela tudo, ou quase. Esse artigo poderia parar aqui. Mas tem mais.

No discurso que Celso Amorim provavelmente redigiu (e que ele realmente leu), Lula continua esgrimindo com o fantasma do neoliberalismo e do “Estado mínimo“. Continua afirmando que cabe ao Estado, exclusivamente ou quase, o papel de grande protagonista do desenvolvimento. Continua culpando a ordem democrática global pelos problemas dos países parasitados por populismos irresponsáveis (como a Argentina). Continua contemporizando com a agressão militar de Putin à Ucrânia ao não se colocar claramente em defesa das democracias e do direito internacional violados por uma ditadura expansionista e assassina. Como convidado para o segmento ampliado da Cúpula de Hiroshima, Lula desvalorizou o G7 propondo um G20 ampliado (com países do Sul Global – isso ele não disse, mas ficou subentendido) e defendeu a ideologia da multipolaridade proposta instrumentalmente por Rússia e China.

No domingo, 21de maio, após deixar a cúpula, mas ainda no Japão, Lula tuitou:

Se houvesse oposição democrática no Brasil, seria a hora de refutar amplamente essas infâmias presidenciais. Vejamos oito pontos básicos dessa refutação:

1 – É mentira que Zelensky não fale de paz. Ele está o tempo todo falando de paz, apresentou sua fórmula de paz, com o apoio da sociedade civil ucraniana e da imensa maioria das democracias liberais do planeta. Mas a Ucrânia é um país militarmente invadido por uma ditadura expansionista. Não pode haver paz enquanto continuar a invasão.

2 – Por que Lula nunca se alinha à coalizão das democracias para conter o avanço da ditadura russa? Não adianta reunir grandes autocracias, aliadas da Rússia, como China e Índia, para impor pela força, de fora para dentro, uma paz na Ucrânia. O plano apresentado pela China era favorável a Putin, pois não previa a retirada das tropas invasoras, congelando a situação de ocupação russa altamente desvantajosa para a Ucrânia. Se fosse aceito pelos ucranianos, o próximo passo seria a expansão russa em todas as direções e o fim da Ucrânia como nação.

3 – Ao contrário do que diz Lula, Zelensky não quer a guerra e não está convencido de que vai ganhar. A guerra só existe porque ele resiste à invasão russa. E não pode simplesmente dizer que vai perder. Se fizer isso, enfraquece a resistência ucraniana e a Ucrânia desaparece como nação.

4 – Zelensky não é responsável pela morte de pessoas, e sim Putin, que invadiu o país, está matando os seus habitantes civis e destruindo toda a infraestrutura do país. A Ucrânia está apenas se defendendo.

5 – Não adianta Lula dizer que condena a invasão se não exige a retirada das tropas invasoras.

6 – Não adianta Lula condenar a ocupação territorial da Ucrânia da boca para fora, sem aprovar as sanções impostas ao invasor. Se não sofrer sanções, Putin não vai parar. Para parar Putin as sanções têm que aumentar, não diminuir.

7 – A política (ou antipolítica) de Putin é a guerra. Apoiar a defesa da Ucrânia é a única maneira de se colocar contra a guerra (a guerra de Putin, que é a sua política, quer dizer, antipolítica). Falar em paz, mas não apoiar a defesa da Ucrânia — e ainda condenar os países que a apoiam, como se eles tivessem optado pela guerra — é, na verdade, objetivamente, apoiar a guerra.

8 – Não há qualquer equivalência entre Zelensky e Putin, como Lula insiste em mistificar. O primeiro é o agredido (mais fraco), o segundo o agressor (mais forte). Foi Putin que violou o direito internacional, não Zelensky. Foi Putin que dizimou cidades e populações, destruindo direitos humanos, não Zelensky.

Ser neutro em relação à violação do direito internacional e dos direitos humanos é ser contra o direito internacional e os direitos humanos. Não há neutralidade diante da invasão russa na Ucrânia. É como ser neutro em relação à agressão nazista — e felizmente o Brasil (conquanto no início relutantemente) no final não foi.

O fato é que Lula se revelou. As maiores nações democráticas do planeta já entenderam que o Brasil de Lula — ao contrário do que aconteceu em 1942 — se alinhou ao eixo autocrático.

 

Augusto de Franco é escritor

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  1. Lula só enganou quem se deixou enganar. Se ainda há perdão para os estrangeiros, para os de cá, que observam o PT de perto, não há desculpa possível.

  2. Lula, Celso Amorim, Mauro Vieira e a PTralhada toda não passam de canalhas, vagabundos, com esse anti-americanismo idiota. Filhos da puta é o que são.

  3. Esse encontro na China não poderia ser melhor para tirar a carapaça do Lulinha paz e amor. Espero ver o Papa e a ONU se desculpando por ter dado amparo ao homem que o mundo conhece agora.

  4. Os ditadores "donos" do mundo só não contavam com a determinação dos ucranianos na defesa de seu país e se ferraram, imaginavam Zelensky apenas um ator canastrão e ele mostra que lidera sua nação ... a Ucrânia será o Vietnã dos russos anotem e verão.

  5. E alguém tinha alguma dúvida quando votou nele? O amigo de ditadores como Fidel Castro, Daniel Ortega e Nicolas Maduro vê a violação de direitos humanos como parte da “autodeterminação dos povos”. Se tivesse o poder, aqui no Brasil, construiria as suas amadas obras faraônicas com ossos humanos, se fosse necessário.

  6. Ainda bem que existe a Crusoé e seus articulistas para colocar as coisas na ordem correta nessa Imprensa festiva que vê as coisas do avesso do que são. Parabéns pelo artigo.

  7. O fato de Lula se associar a ditaduras e ser contra o liberalismo nunca foi novidade para os membros do G7. E nem para os brasileiros com mais de dois neurônios. E em benefício a Lula temos que conceder: Ele nunca fez questão de esconder suas predileções, a não ser antes de eleições quando o discurso democrata lhe convém.

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