Agência Brasileira de Incompetência
Nomeado por seu amigão do peito Lula para chefiar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), et pour cause, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o general Gonçalves Dias protagonizou a maior lambança da História da República. No sexto dia chefiando o serviço de informações, o dito cujo foi ao prédio, onde funciona o gabinete presidencial e presenciou, feito barata tonta, em completa solidão, sem um ajudante de ordens sequer, o quebra-quebra promovido por fracassados golpistas bolsonaristas. Seu périplo trapalhão foi filmado pela plêiade de câmaras em funcionamento no centro do poder republicano brasileiro. O oficial de confiança da autoridade máxima da República teve oportunidade de perceber, se presente estivesse e prestasse a mínima atenção, colegas de armas e subordinados em sua jurisdição, distribuindo água e afagos a golpistas em pleno delito.
No fim da tarde, feito o estrago, o presidente em pessoa e Flávio Dino, ministro da Justiça, Dedé Santana sob as ordens de Didi Mocó, testemunharam o cenário de demolição, como se não fosse algo previsível. Em vez de se ajoelharem no milho e pedirem perdão a escorchados contribuintes que financiam suas farras, as otoridades tentaram ocultar o malfeito decretando sigilo de cinco anos para as imagens das câmaras. Sem levarem a sério que a democracia dita do “amor” não permite ocultação de provas, crime previsto no Código Penal. Em furo espetacular, a CNN exibiu o vídeo mais comprometedor de todos, nos quais o general com nome de poeta zanzava pelo prejuízo do patrimônio público como se participasse de uma procissão. A farsa desabou sob a desfaçatez. E Lula, na China e nas Arábias das mil e uma joias que o antecessor tentou afanar, voltou para breve período de lazer doméstico e daqui não comandou a apropriação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), ignorando (verbo de cujo uso abusa) que ela é um instrumento de vigilância da minoria derrotada na eleição. E não o esconderijo dos malfeitos de uma desgovernança despreparada. Com a CPMI sob pretenso controle de um Executivo a serviço do Legislativo, o ex-sindicalista logo voou de volta ao exílio voluntário. E na Península Ibérica testemunhou anedotas do militante Chico Buarque na entrega do Prêmio Camões, que, como se sabe, era caolho, mas inventou uma língua, que nossa inteira esquerda teima em desprezar e desconhecer.
Ao se encerrarem os onerosos banquetes das visitas, a República dos Inquéritos Inconclusos alimenta os Diários Oficiais do telejornalismo no debate sem fim sobre as futricas de toga da cúpula do Judiciário e dos banquetes intermináveis nos quais a casta toda poderosa planeja esfolar a patuleia. Nestes o golpe fracassado da direita, tolerado pela esquerda interessada em manter a polarização, que relega o povaréu ao purgatório das falsas esperanças, vendem por bilhões aos sem vintém condenações de farsa de oficiais ou civis que se fingem de malucos em troca de misericórdia. Segundo o colega Marcelo Godoy, do Estadão, Janja e a Polícia Federal (PF) querem um chefe civil para a Abin, contra Rui Costa e Múcio Monteiro, que preferem algum fardado com sede de poder ao pote.
Nas democracias de verdade, o chefe do governo mune-se de informações secretas fornecidas por especialistas de uma atividade pública conhecida por todas as razões do mundo, inclusive a fidelidade ao idioma pátrio, de inteligência. Os militares preferiram nomear o departamento de Serviço Nacional de Informações. O civil Fernando Collor extinguiu o SNI, que, depois, seria substituído por Agência Brasileira de Inteligência. Depois do espetáculo grotesco de 8 de janeiro, certamente já passou da hora de exonerar todos os seus membros e ex, principalmente o general com nome de poeta. E, para estruturar o órgão reformado, pedir ajuda aos novos aliados, talvez Vladimir Putin, que foi dedo-duro interno dos comunistas russos e até hoje, após aderir aos fasci di combattimenti do Duce italiano, é considerado um companheiro de fé e armas. Ele deveria ter a mesma sigla, Abin, mas mudar o nome. Que tal Agência Brasileira de Incompetência?
Outro bom conselheiro para essa mudança poderia ser Augusto Heleno, o general que antecedeu Gonçalves Dias. Em matéria de burrice poucos pretendentes poderiam superá-lo. Em outubro de 1977, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional do capitão-terrorista Jair Messias era ajudante de ordens do então ministro do Exército, Sylvio Frota, que o encarregou de evitar que os membros do alto comando comparecessem a uma reunião com Geisel. Fracassou. O presidente demitiu o chefe dele, e o substituiu pelo general Bethlem, que foi esperar os generais na pista do aeroporto. Frota passou o cargo e envergou pijama e desonra. O ex-ajudante de ordens acha que conto isso inspirado no livro de Elio Gaspari. Mas o general Ednardo d’Ávila Melo, contou-me e hesitou em definir o malogro como covardia ou burrice. Seria o caso de perguntar o mesmo sobre o Gonçalves Dias de coturno?
José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor
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A CPMI vai dar palanque aos políticos de todas as colorações e, como aconteceu com a da COVID vai dar em nada, porque vai cair no mesmo colo do devedor a Bolsonaro de ontem que, agora, está de volta ao seu ninho petista… todos passarão ilesos e incólumes, como de costume.
Penso que essa CPMI será como a CPI da COVID. Vai dar palanque para todos políticos interessados em aparecer. Depois será engavetada.
"Agência Brasileira de Incompetência" Perfeito mesmo!
Gostei da nova sigla da Abin.
Excelente matéria da lavra do incomparável jornalista José Nêumanne Pinto. Parabéns!!!
Essa Abin é uma piada. Ao invés de servir ao país se assunta aos malogros dos governantes de plantão
Parabéns!!! Como escreve bem! Que português escorreito!
Neumanne é do tempo em que professores de português, além de filólogos, eram craques em gramática e nas boas construções de origem latina… bons tempos!
Neumanne é d
Incrível mesmo.
Perfeito Nêumanne. Um bando de incompetentes. E eu não consigo tirar da cabeça o dia 06/01 quando eu estava num salão de beleza, de maioria bolsonarista. As funcionarias estavam aguardando as consequências que viriam dia 08, por seu Mito não ser reeleito. Cabeleireiras e manicures sabiam da INVASÃO que aconteceria melhor do que o GSI. Uma delas me confidenciou que já estavam partindo ônibus de diversos cantos do Brasil