Adriano Machado/CrusoéJá passou da hora de a agência exonerar todos os seus membros atuais e antigos

Agência Brasileira de Incompetência

Encarregado de dar informações ao presidente da República, general enfrentou sozinho golpistas no Planalto e foi delatado por vídeos
28.04.23

Nomeado por seu amigão do peito Lula para chefiar o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), et pour cause, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o general Gonçalves Dias protagonizou a maior lambança da História da República. No sexto dia chefiando o serviço de informações, o dito cujo foi ao prédio, onde funciona o gabinete presidencial e presenciou, feito barata tonta, em completa solidão, sem um ajudante de ordens sequer, o quebra-quebra promovido por fracassados golpistas bolsonaristas. Seu périplo trapalhão foi filmado pela plêiade de câmaras em funcionamento no centro do poder republicano brasileiro. O oficial de confiança da autoridade máxima da República teve oportunidade de perceber, se presente estivesse e prestasse a mínima atenção, colegas de armas e subordinados em sua jurisdição, distribuindo água e afagos a golpistas em pleno delito.

No fim da tarde, feito o estrago, o presidente em pessoa e Flávio Dino, ministro da Justiça, Dedé Santana sob as ordens de Didi Mocó, testemunharam o cenário de demolição, como se não fosse algo previsível. Em vez de se ajoelharem no milho e pedirem perdão a escorchados contribuintes que financiam suas farras, as otoridades tentaram ocultar o malfeito decretando sigilo de cinco anos para as imagens das câmaras. Sem levarem a sério que a democracia dita do “amor” não permite ocultação de provas, crime previsto no Código Penal. Em furo espetacular, a CNN exibiu o vídeo mais comprometedor de todos, nos quais o general com nome de poeta zanzava pelo prejuízo do patrimônio público como se participasse de uma procissão. A farsa desabou sob a desfaçatez. E Lula, na China e nas Arábias das mil e uma joias que o antecessor tentou afanar, voltou para breve período de lazer doméstico e daqui não comandou a apropriação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), ignorando (verbo de cujo uso abusa) que ela é um instrumento de vigilância da minoria derrotada na eleição. E não o esconderijo dos malfeitos de uma desgovernança despreparada. Com a CPMI sob pretenso controle de um Executivo a serviço do Legislativo, o ex-sindicalista logo voou de volta ao exílio voluntário. E na Península Ibérica testemunhou anedotas do militante Chico Buarque na entrega do Prêmio Camões, que, como se sabe, era caolho, mas inventou uma língua, que nossa inteira esquerda teima em desprezar e desconhecer.

Ao se encerrarem os onerosos banquetes das visitas, a República dos Inquéritos Inconclusos alimenta os Diários Oficiais do telejornalismo no debate sem fim sobre as futricas de toga da cúpula do Judiciário e dos banquetes intermináveis nos quais a casta toda poderosa planeja esfolar a patuleia. Nestes o golpe fracassado da direita, tolerado pela esquerda interessada em manter a polarização, que relega o povaréu ao purgatório das falsas esperanças, vendem por bilhões aos sem vintém condenações de farsa de oficiais ou civis que se fingem de malucos em troca de misericórdia. Segundo o colega Marcelo Godoy, do Estadão, Janja e a Polícia Federal (PF) querem um chefe civil para a Abin, contra Rui Costa e Múcio Monteiro, que preferem algum fardado com sede de poder ao pote.

Nas democracias de verdade, o chefe do governo mune-se de informações secretas fornecidas por especialistas de uma atividade pública conhecida por todas as razões do mundo, inclusive a fidelidade ao idioma pátrio, de inteligência. Os militares preferiram nomear o departamento de Serviço Nacional de Informações. O civil Fernando Collor extinguiu o SNI, que, depois, seria substituído por Agência Brasileira de Inteligência. Depois do espetáculo grotesco de 8 de janeiro, certamente já passou da hora de exonerar todos os seus membros e ex, principalmente o general com nome de poeta. E, para estruturar o órgão reformado, pedir ajuda aos novos aliados, talvez Vladimir Putin, que foi dedo-duro interno dos comunistas russos e até hoje, após aderir aos fasci di combattimenti do Duce italiano, é considerado um companheiro de fé e armas. Ele deveria ter a mesma sigla, Abin, mas mudar o nome. Que tal Agência Brasileira de Incompetência?

Outro bom conselheiro para essa mudança poderia ser Augusto Heleno, o general que antecedeu Gonçalves Dias. Em matéria de burrice poucos pretendentes poderiam superá-lo. Em outubro de 1977, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional do capitão-terrorista Jair Messias era ajudante de ordens do então ministro do Exército, Sylvio Frota, que o encarregou de evitar que os membros do alto comando comparecessem a uma reunião com Geisel. Fracassou. O presidente demitiu o chefe dele, e o substituiu pelo general Bethlem, que foi esperar os generais na pista do aeroporto. Frota passou o cargo e envergou pijama e desonra. O ex-ajudante de ordens acha que conto isso inspirado no livro de Elio Gaspari. Mas o general Ednardo d’Ávila Melo, contou-me e hesitou em definir o malogro como covardia ou burrice. Seria o caso de perguntar o mesmo sobre o Gonçalves Dias de coturno?

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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  1. A CPMI vai dar palanque aos políticos de todas as colorações e, como aconteceu com a da COVID vai dar em nada, porque vai cair no mesmo colo do devedor a Bolsonaro de ontem que, agora, está de volta ao seu ninho petista… todos passarão ilesos e incólumes, como de costume.

  2. Penso que essa CPMI será como a CPI da COVID. Vai dar palanque para todos políticos interessados em aparecer. Depois será engavetada.

    1. Neumanne é do tempo em que professores de português, além de filólogos, eram craques em gramática e nas boas construções de origem latina… bons tempos!

  3. Perfeito Nêumanne. Um bando de incompetentes. E eu não consigo tirar da cabeça o dia 06/01 quando eu estava num salão de beleza, de maioria bolsonarista. As funcionarias estavam aguardando as consequências que viriam dia 08, por seu Mito não ser reeleito. Cabeleireiras e manicures sabiam da INVASÃO que aconteceria melhor do que o GSI. Uma delas me confidenciou que já estavam partindo ônibus de diversos cantos do Brasil

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