ReproduçãoCelso Amorim em reunião "agradável" com Nicolás Maduro: antiamericanismo fora de moda

O anacronismo petista

Ideias de Lula são ultrapassadas até mesmo se comparadas às de outras lideranças da esquerda na América Latina
10.03.23

O Brasil não se cansa de passar vergonha no cenário internacional. Não bastasse a relutância em condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, os representantes brasileiros agora passaram a bajular tiranos do naipe do venezuelano Nicolás Maduro, do nicaraguense Daniel Ortega ou do cubano Miguel Díaz-Canel. A mudança de postura do Itamaraty e do Planalto se deve, claro, à volta do PT ao poder em Brasília. O partido reluta em atualizar seus conceitos, e está sendo deixado para trás até mesmo por outras siglas e lideranças de esquerda da América Latina.

Na sexta (3), o Brasil não aderiu a uma declaração conjunta de 55 países denunciando os crimes de Ortega contra a população, os quais incluem o desterro de 222 opositores e torturas (leia a entrevista com o desterrado Alex Hernández, nesta edição). Foram necessários três dias de pressão no Conselho de Direitos Humanos e na imprensa nacional para que o governo se posicionasse. Na terça (7), um diplomata brasileiro disse que o país vê o caso com “extrema preocupação”, mas sem condenar a ditadura, e que o Brasil acolherá os desterrados, algo que diversos outros países anunciaram ainda em fevereiro. No dia seguinte, Celso Amorim, assessor especial da Presidência, foi abraçar Maduro em Caracas. Em seguida, o ditador publicou fotos do “agradável” encontro e falou em renovar os “mecanismos de união e solidariedade” entre os dois países.

A resistência petista em criticar ditadores destoa até mesmo de outros partidos de esquerda da região. Quem mais tem se destacado nisso é o presidente do Chile, Gabriel Boric, que é do partido Convergência Social. Por ter um passado que vem do movimento estudantil, e não do sindicalismo de ideias mais arcaicas, ele tem mais presente os valores dos direitos humanos e já comprou briga com Maduro nas redes sociais. Em um evento nos Estados Unidos no ano passado, Boric disse: “Não importa se você é de extrema direita, extrema esquerda, esses são imperativos civilizatórios. Por exemplo, o respeito aos direitos humanos. O respeito aos direitos humanos não pode ter um padrão duplo. Isso realmente me irrita, quando você é de esquerda e condena a violação de direitos humanos em… Não sei… No Iêmen ou em El Salvador, mas não pode falar sobre Venezuela ou Nicarágua”.

Boric, assim, é quem puxa a esquerda para posições mais próximas do direito internacional, que define padrões válidos para todo e qualquer governo. “Apesar de enfrentar divergências dentro de seu grupo político, Boric é claro e contundente na política externa: não importa a ideologia da ditadura, elas precisam ser condenadas quanto violam os direitos humanos”, diz o analista argentino Brian Schapira, consultor da fundação Centro para Abertura e Desenvolvimento da América Latina. Além do presidente, a ex-mandatária Michelle Bachelet, que é do Partido Socialista, também acusou a ditadura Maduro quando era a alta comissária da ONU para o assunto.

Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro, também deu declarações fortes após o desterro dos nicaraguenses por Ortega, no início de fevereiro. “A América Latina deve ser um espaço sem presos políticos e sem presos sociais. Toda violação aos direitos humanos deve ser condenada por toda a comunidade internacional”, disse Petro. Seu governo ofereceu a nacionalidade para Sergio Ramírez, que participou da Revolução Sandinista e depois acusou Ortega de concentrar poder e riqueza. Seu livro Adiós Muchachos traça um dos retratos mais duros e pessoais do ditador. Em um comunicado, o ministério das Relações Exteriores da Colômbia igualou a deportação aos “piores momentos da ditadura de Anastasio Somoza”, o ditador de direita deposto pelos sandinistas. No Uruguai, o ex-presidente José Mujica, que governou pela coalizão Frente Ampla, de esquerda, disse em fevereiro que Ortega “perdeu a mão faz tempo” ao ser questionado sobre a situação da imprensa na Nicarágua.

O PT, entretanto, jamais ousou qualquer declaração desse tipo. Quando isso acontece, são vozes que não representam o partido e que são rapidamente caladas. No domingo, 5, o petista Alberto Cantalice, diretor da Fundação Perseu Abramo, criticou Ortega e Maduro no Twitter. “Daniel Ortega, Nicolás Maduro, Vladimir Putin e Dias Carnel (o cubano Miguel Díaz-Canel) não são de esquerda. São ditadores. Quem combate Donald Trump e Jair Bolsonaro não pode conciliar com déspotas que se dizem aliados do nosso campo”, escreveu Cantalice. Foi tão criticado por petistas que apagou o seu tuíte no dia seguinte. Em seguida, teve de deixar claro que não falava em nome do partido: “Quem fala pelo PT é a presidente do partido. Eu falo por mim”.

Essa trava em seguir adiante ocorre, em parte, porque muitos dos quadros petistas têm relações próximas e pessoais com esses ditadores. O recém-reaparecido José Dirceu, por exemplo, se exilou em Cuba durante a ditadura militar, entre 1969 e 1975. O próprio Lula é amigo de Ortega desde 1980, quando visitou a Nicarágua para participar do primeiro aniversário da Revolução Sandinista. Em um debate na televisão no ano passado na campanha presidencial, ele lembrou com emoção dos momentos que passou no país da América Central. “Eu senti muito orgulho de, no dia 19 de julho de 1980, participar da comemoração do aniversário da Revolução Sandinista, em que derrubaram um ditador chamado Somoza, de 30 anos”, disse Lula. Nessa mesma década, os petistas se identificaram com o que ocorria na Nicarágua, principalmente porque muitos padres católicos pegaram em armas na revolução, o que os aproximava das pregações da Teologia da Libertação no Brasil. Petistas também foram ao país para participar de campanhas de alfabetização e ações de saúde.

O apoio a essas ditaduras ainda é uma forma de alimentar o antiamericanismo latente no PT, que já não é mais tão forte em outros partidos. Uma das principais críticas feitas pelos colegas a Cantalice, por exemplo, é de que ele seria um “imperialista” (leia-se a favor dos Estados Unidos). Para os petistas, Venezuela, Nicarágua e Cuba seriam paraísos na Terra não fosse a ação cruel dos americanos. Em 2021, Lula publicou uma mensagem após milhares de cubanos irem para as ruas para protestar contra a ditadura. Ele escreveu que “se Cuba não tivesse um bloqueio, poderia ser uma Holanda. Tem um povo intelectualmente preparado, altamente educado. Mas Cuba não conseguiu nem comprar respiradores por causa de um bloqueio desumano dos EUA”. O mesmo antiamericanismo é que leva o atual governo a aceitar a presença de dois navios de guerra iranianos no porto do Rio de Janeiro.

Com tantos pensamentos retrógrados, o PT fica na retaguarda até mesmo quando comparado com outros partidos de esquerda do Brasil. Na quinta (9), Carlos Siqueira, presidente do PSB, partido do vice Geraldo Alckmin e que integra a base do governo, divulgou nota em que repudiou as “práticas ditatoriais” de Ortega. “O PSB manifesta seu mais amplo e total repúdio às práticas ditatoriais do senhor Daniel Ortega e se solidariza com o povo nicaraguense, que precisa de um futuro que não reproduza o passado de violência política e social a que vem sendo submetido desde há muito”, escreveu Siqueira na nota. Ainda na nota, Siqueira afirmou que o país “não pode ficar indiferente às flagrantes violações dos direitos humanos, detenções arbitrárias, julgamentos e execuções sumárias, assassinatos e tortura contra dissidentes políticos”.

Já passou da hora de as raposas velhas do PT darem espaço para uma nova esquerda.

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  1. O PT não só não condena como fortemente deseja este modelo de ditadura - Cuba Venezuela Nicaragua de esquerda implantada aqui no Brasil. Não são anacrônicos são criminosos.

  2. Já passou a hora é dos nossos eleitores darem espaço para raposas velhas de qualquer estirpe... Inclusive raposas novas que começam a aparecer...

  3. O pior é que as pessoas jovens de esquerda aqui repetem a mesma ladainha estúpida. Não veja por onde surgir essa nova esquerda no Brasil. Os mais “progressistas” aqui são woke - uma seita, na minha opinião. É uma hipocrisia sem fim!

  4. Luladrão não é burro. É só um larápio esperto, um finório ladino, que está rico junto com a família porque se corrompeu ao extremo. Cantalice até tem algum espírito democrático e inteligência, mas é um acovardado. Não pode falar por si? Por que apagou o tuíte? En k h çou? K H1!

  5. A foto mostra e comprova que o Brasil é um anão dilpomático. O pintassilgo do planalto é uma figura deprimente. Se abaixar mais um pouco paga boq uete sem ajoelhar

  6. Que há de estranho nessas posturas? Talvez só o estranhar-se. Queríamos o quê? Esse senhor Celso Amorim é adepto da complexa visão do amigo de amigo é amigo. Inimigo de inimigo é amigo, Amigo de inimigo é inimigo e outras variáveis de idêntica lógica ilógica. Trouxemos a gang de volta, agora é sofrer as consequências e esperar. Com um pouco de juízo, em 2026 podemos reverter o quadro. Lugar de bandidos, dizem, é na cadeia.

  7. Engano seu, senhor jornalista, as novas raposas (velhissimas como claque áulica do dono dos votos) são a cara dócil da hipocrisia (verbete inseparável do luloptismo). Ao guru interessa esse faz de conta. Na hora da decisão são a voz do dono q ninguém é de ferro. O luloptismo, como o comunismo, envelheceu apodrecendo, cópia autêntica de Fidel e seus “meninos” . Na realidade já nasceu velho e podre, pois sempre hipócrita., mentiroso.

  8. A farsa da defesa da democracia do pt tem um fino verniz. Sua postura internacional é contradição óbvia. Sua atuação na política pública na base de destruição dos outros poderes pela propina requer pouca inteligência pra reparar que também contradiz a ideia de democracia. O PT é uma farsa em todos os aspectos. Ninguém se surpreende mais

    1. A única coisa que evolui com petistas no poder, é A CONTA BANCÁRIA DELES MESMOS!

  9. Por favor, não me comem nem de direito nem de esquerda. Conheço os infames esquerdistas ou petista desde estudantes. Vagabundos, oportunistas, bandidos.

  10. O Professor Stephen Kanitz foi certeiro quando disse que lula na verdade é conservador: conserva as ideias de 40 anos atrás, que na época já eram retrógadas.

  11. Gente de cabeça ruim, que não avança um milímetro nas suas convicções preconceituosas! Sim, a esquerda brasileira é preconceituosa! E esse Cantalice é covarde, pois deveria defender suas ideias com firmeza. Lula parou nos anos 70-80 e desconhece o que seja o século XXI.

  12. Nova esquerda? No Brasil??? Impossível, a esquerda, aqui, sempre foi e sempre será a vanguarda do atraso. E antes que eu me esqueça, a culpa da esquerda ser assim é do imperialismo ianque, óbvio.

  13. Lula e o PT buscam "diálogo" com as ditaduras em Cuba, Venezuela e Nicarágua há décadas. E quem apoia ("dialogo" é um eufemismo cínico) ditadores não é um democrata de verdade. Por definição.

  14. Nada justifica esta mania esquerdista ou direitista da apoiar governos que não acrescenta nada de útil ao país. Quando não é em defesa de governos ditadores, é em defesa de governos fascista.

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