Ricardo Stuckert/Lula via FlickrJanja e Lula: a perspectiva de poder é um afrodisíaco

O tesão da política

26.08.22

Não importa o quanto o eleitor brasileiro esteja desmotivado e querendo que este ano acabe logo. Os dois candidatos à frente nas pesquisas insistem em propagandear que estão esbanjando animação. Na sexta, 19, o presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais uma montagem em que aparece com o corpo de um fisiculturista, uma sunga verde e o seu número 22. O intuito era anunciar a redução de impostos de suplementos alimentares. Eleitores de Lula revidaram nos comentários com fotos do petista, divulgadas por sua assessoria, em que ele aparece com camiseta de manga curta fazendo musculação e simulando uma luta com luvas de boxe.

Os dois, Bolsonaro com 67 anos e Lula, 76, também fazem questão de mostrar que estão bem com suas parceiras. Lula está apaixonado “pelo Brasil, pela Janja” e “com energia de 30 anos e tesão de 20 anos”. Bolsonaro é “imbrochável, incomível e imorrível” e durante uma celebração oficial afirmou ter dado um “bom dia muito especial” para a primeira-dama Michelle Bolsonaro naquela manhã.

Ter disposição é desejável, e o cargo de presidente da República sem dúvida exige vigor. Mas a imagem que os dois principais representantes da política brasileira projetam vai além disso, pois eles se colocam como sujeitos cheios de… tesão.

Lula é quem há mais tempo cultiva essa imagem. Em 1979, dez anos antes de Bolsonaro iniciar sua carreira política como vereador no Rio de Janeiro, o metalúrgico foi destaque no primeiro tabloide gay do país, o Lampião da Esquina. Deitado e de cueca, ele posou para o fotógrafo com os braços para cima e mostrando as coxas. A cena guarda uma certa semelhança com a foto divulgada há um ano, em que Lula abraça Janja e também deixa as pernas à mostra. Naquela ocasião, há mais de quatro décadas, o sindicalista respondeu a perguntas que hoje não repercutiriam muito bem entre os eleitores mais jovens e progressistas. Questionado sobre a existência de homossexuais na classe operária, ele respondeu: “Não conheço”. Sobre feminismo, disse que era “coisa de quem não tem o que fazer”. Mas a mensagem principal foi transmitida. “As fotos do Lampião da Esquina mostram que, quando Lula começou sua carreira política no ABC, ele já procurava se mostrar como um trabalhador potente e sexualmente atrativo e desejável. Isso é parte de sua construção política, algo que antecede a época em que os profissionais de marketing começaram a dar seus conselhos”, diz o cientista social argentino Patricio Simonetto, professor da University College de Londres e pesquisador de assuntos de sexualidade.

Foto: ReproduçãoFoto: ReproduçãoBolsonaro, em montagem para anunciar isenção para suplementos:”incomível”
Como políticos estão sempre moldando a própria imagem para cativar o eleitorado, é impossível deduzir qualquer informação fidedigna sobre o que acontece na privacidade deles. Quando Lula e Bolsonaro posam de másculos em campanha, estão apenas encarnando um personagem. No final, tudo pode ser como eles dizem, ou o contrário. Além disso, qualquer pessoa com alguma experiência nas redes sociais sabe que aquilo que se divulga em público frequentemente é só uma tentativa de a pessoa convencer a si própria e o resto do mundo de uma mentira. Sabe-se, por exemplo, que Bolsonaro toma Cialis, remédio para disfunção erétil, e que nunca se importou em dizer a amigos que recorre ao medicamento. Se o presidente é mesmo “imbrochável”, como afirma ser, isso só ocorreria graças aos medicamentos que ele se orgulha de tomar.

As sinalizações de virilidade, portanto, não devem ser vistas como pistas da privacidade, mas como estratégias eleitorais. “A busca em exibir ou fazer referência a fatos da vida sexual tem como objetivo provocar e produzir identificação com o eleitorado”, diz o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade. Nesse esforço, Lula e Bolsonaro usam métodos levemente distintos. “Lula parece usar mais demonstrações de afeto, enquanto Bolsonaro diz frases que sugerem algo mais genitalizado. Assim, eles buscam e atingem populações diferentes. O primeiro é melhor visto pelo gênero feminino e o outro, por uma facção masculina de discurso de bar.”

Lula tem experiência política suficiente para saber que declarações machistas teriam uma repercussão negativa entre seus apoiadores. Quando o petista foi gravado, em 2016, chamando as feministas do PT de mulheres do “grelo duro”, foi uma exceção. Tratou-se de uma conversa grampeada, que não tinha como destino o público geral, muito menos os integrantes do partido. Bolsonaro, por outro lado, não hesita em constranger Michelle em público, falando de um “bom dia muito especial” porque isso arranca risadas dos seus seguidores. Todo discurso é feito para ganhar os eleitores.

O papel que a masculinidade pode exercer nas eleições é conhecido de longa data e já foi usado por diversos políticos. “Em termos gerais, a ampliação do direito de votar a todos os sujeitos do sexo masculino abriu a temporada da política de massas em que as características presumidas de um líder, mais do que apenas suas políticas, passaram a importar muito. Benito Mussolini entendeu isso mais cedo do que outros líderes políticos”, diz Giorgio Bertellini, professor de cinema na Universidade do Michigan e autor de um livro sobre como a masculinidade do líder fascista foi explorada no cinema. Mussolini misturou seu carisma masculino com o autoritarismo. A partir de 1922, a imprensa que ele controlava direta e indiretamente passou a retratá-lo não apenas como um líder talentoso, mas também como um homem poderoso. “O termo Duce significava não apenas um líder disciplinado e incansável, mas um indivíduo dotado de uma carga magnética soberba — incluindo um elemento de violência — capaz de seduzir homens e mulheres”, diz Bertellini.

Foto: Agência GloboFoto: Agência GloboLula no jornal gay Lampião da Esquina: “feminismo é coisa de desocupada”
Mais recentemente, outro que abusou desse encanto foi o ditador venezuelano Hugo Chávez. Em 2000, durante o programa de rádio Alô Presidente, ele mandou um carinho para a esposa: “Marisabel, prepare-se que vou lhe dar o que é seu!”. Em outra ocasião: “Se lembra daquela noite no Volkswagen?”.

Ao buscar entender por que frases como essas mexem com muitos eleitores homens, psicólogos afirmam que elas se conectam diretamente com aqueles inseguros com o seu desempenho na cama. Ao escutarem um político machão proferir frases do tipo, eles se sentem encorajados, apoiados. Outra explicação é que muitos homens estão assustados com a proliferação de sexualidades diferentes — bissexuais, transexuais etc. —, que estão ganhando espaço social e político. As mensagens dos políticos, assim, poderiam remeter a um passado mais confortável, digamos assim.

Para a maior parte das mulheres, não há escapatória a não ser escutar diversas barbaridades e ver vídeos de anciãos fazendo flexão no chão ou puxando ferro. Ainda que tenham o direito de votar e serem votadas há décadas, é fato que a política ainda não se abriu totalmente para elas. Quando isso ocorre, elas continuam tendo de interpretar papéis sociais muito diferentes daqueles dos candidatos homens. No lançamento da chapa das senadoras Simone Tebet, do MDB, e Mara Gabrilli, do PSDB, os políticos tucanos presentes elogiaram a docilidade e a beleza das duas. “Elas estão bonitas hoje. Se produziram. Eu presto atenção, o Tasso (Jereissati) presta também”, afirmou José Serra. Um vexame machista.

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  1. Sásinhora.... os """representantes""" do país chegaram ao mais baixo, vulgar e rasteiro vexame frente ao planeta inteiro.... Então vamos contar pra esses dois vermes bagulhos, o que as MULHERES DE VERDADE sentem ao depararem com eles a partir das fotos: asco, nojo, repulsa, profunda repugnância!!!... Essas duas e as demais ""sócias"" dos tipicos ""negócios espúrios"" têm que ser estudadas pela CIÊNCIA... com a maior certeza têm estômago de puro aço!!! BERCK....BERCK....BERK....

  2. Soberanamente ridículos. Deviam se preocupar em apresentar projeto de governo. E alguém acredita nessa pretensa sexualidade exacerbada ?

  3. Com a saída do Mainardi a Crusoé precisa tomar cuidado para não virar revista de fuxico de celebridades. Jornalistas de pouco conteúdo adoram enveredar por aí, transformando sensacionalismo em reportagem de importância para encher o tempo de gente de cabeça vazia.

  4. Não entendi a conclusão do artigo. Elogiar publicamente a beleza de uma mulher é machismo? Alguém poderia me explicar?

  5. Engana-se quem acredita que as "chanchadas" do cinema brasileiro se haviam encerrado nos anos 50. Elas perduraram e sobrevivem nos roteiros de um filme político vulgar a que nos habituamos a assistir nos palanques da república...

  6. Mau gosto não é machismo. Mau gosto não é virilidade. Ignorância não é potência. Ignorantes é como chegamos ao mundo. Potência é o q temos para nos tornar mais capazes, hábeis e sábios... disso decorre o poder dos homens.. o resto é não-humano.. nem se compara com animais pq não cumpre sua natureza...

  7. De ratos e para ratos: a política do bueiro. Se não há nada a propor nem a declarar, toca a dar ao eleitor um doce do mais reles e primitivo que pode haver. Quando se pensa que a política brasileira não pode piorar, lá vem ela e soma à corrupção, à mentira e à ineficácia, a vulgaridade.

  8. Muito bom artigo Duda. Se esse lado dos candidatos governasse um país seria uma catástrofe total. Como eleitora estou em busca de algo novo para meu país. Chega de mesmices e antiguidades.

  9. Este artigo sobre a pseudo sexualidade dos candidatos à presidência que juntos somam dois terços das intenções de votos, mais do que deles fala do nível caótico de discernimento político da maioria hoje no Brasil. É deprimente. Principalmente se compararmos as bazófias deles com a fala serena, preparada, de visão da Simone Tebet. Do esgoto para o vinho. Quero crer que essa mudança será possível.

    1. Mal comparando, o do lula deve ter o tamanho do cérebro do bolsonaro, tout petit

  10. Cão que ladra muito, não morde. Isso é fato. Mas infelizmente o marketing rasteiro e barato desses farsantes pega muito trouxa e cabeça oca.

  11. Prometem e se exibem! É tudo o que fazem porque não tem capacidade para mais nada! Nenhum dos dois entende de Economia, nem de Educação, nem de Saúde e muito menos de Cultura! Então vamos às urnas sem conhecer as propostas e os projetos para melhorar o Brasil. Nesse ponto retrocedemos e muito! Jucelino, Janio, FHC… eram políticos preparados, de grande saber!

  12. Tudo muda com a habilidade feminina de conciliação e ternura na negociação. Somos todos Simone e Mara!

    1. E todos os presidentes, tirando a Dilma, são homens. Que pensa sobre isso?

  13. Bolsonaro e Lula são farinha do mesmo saco.A diferença entre eles se conta nos dedos.Ambos são populistas. Farsantes, fazem de tudo para agradar o povo, Se apresentam como másculos, salvadores do país, prometem o paraíso, etc.Há décadas o Brasil é vítima desses governantes, que só se interessam pelo poder. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.

  14. O desempenho no comando da nacao é proporcional al desempeño sexual que por sus vez demonstra que os candidatos governam com a genitalha.

    1. Eles estão sempre afim de Phoder a população é o ponto de convergência

    1. Filme pornô da quarta idade …. Deve ser um público bizarro que assiste

  15. Eu ri muito qdo li "lampião da esquina", nunca imaginei uma história dessa🥴. Acho q, se realmente, essas frases ridículas e constrangedoras atraem eleitores, é só pra evidenciar (ainda mais) o estado caquético da nossa sociedade.

  16. Parafraseando o Nando Moura, "O Brasil está precisando de um transplante de povo" #NEMLULANEMBOLSONARO.

  17. Eu ri tanto com essa reportagem, quase pensei que era a coluna do Rui Goiaba,kkkkk. A parte dos eleitores do Bolsonaro serem pessoas inseguras na cama e do Lula ser uma espécie de símbolo sexual. Isso seria engraçado ao extremo se infelizmente não representasse o pensamento de muitos eleitores. 🤔. Bom , parabéns ao repórter

  18. Quando não tivermos mais idólatras de políticos essas baboseiras sexo, religião e gostos pessoais não mais puxarão votos.

    1. Taí sento a lenha no ladrão MAS quem maior de 60 não "lacrou" uma bela gata num fusca num sabe o que é bom.

  19. Pode-se até afirmar que o sexo afeta fortemente nossas decisões e dirige nossas vidas. Daí, sabe-se que o poder pode favorecer o sexo, o que explica o forte uso desse argumento por lideres populistas

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