Retirada de militares da Amazônia coincide com o esgotamento da relação entre Mourão e Bolsonaro
O fim da Operação Verde Brasil 2 e a consequente retirada de militares da Amazônia, confirmada nesta quarta-feira, 10, por Hamilton Mourão, ocorre no pior momento da já esgarçada relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice. Embora possa não estar diretamente relacionada com a escalada de desgaste no relacionamento entre os dois...
O fim da Operação Verde Brasil 2 e a consequente retirada de militares da Amazônia, confirmada nesta quarta-feira, 10, por Hamilton Mourão, ocorre no pior momento da já esgarçada relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu vice.
Embora possa não estar diretamente relacionada com a escalada de desgaste no relacionamento entre os dois companheiros de chapa na eleição de 2018, a decisão de Mourão de não renovar a operação militar na Amazônia é potencialmente embaraçosa para o governo.
Com a saída de cena dos militares, o trabalho de fiscalização da floresta amazônica volta para as mãos das “agências sucateadas”, segundo palavras do próprio Mourão, numa referência ao Ibama e ao Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, o ICMBio.
Apesar de não ter o condão de mudar a realidade na região, o trabalho iniciado em maio e liderado por Mourão a um custo total de 140 milhões de reais obteve resultados significativos. Houve, por exemplo, uma redução de 19% no desmatamento. Para um governo marcado pelas queimadas, o índice não é nada desprezível. Por isso, a sensação em setores do governo é a de que a situação na Amazônia tende a piorar, e muito.
Em entrevista nesta quarta-feira, 10, Mourão demonstrou preocupação com o futuro da região, mas seu semblante é de alguém que entregou os pontos – e que cansou de falar com as paredes. De fato, Bolsonaro há muito não dá pelota para o que seu vice fala e faz -- desde que não esteja conspirando contra ele. O presidente sempre fez questão de sublinhar que jamais confiou no general. Agora, no entanto, ele passou a considerar o militar da reserva uma espécie de adversário.
Bolsonaro acusa o vice de se valer de informações confidenciais de governo para emitir declarações à imprensa, quando, não raro, rechaça seus pontos de vista. O presidente também não digeriu ainda o episódio ocorrido no fim de janeiro envolvendo um preposto de Mourão, revelado pelo O Antagonista – o auxiliar do vice participou de uma conversa com o chefe de gabinete de um deputado federal que girou em torno das articulações no Congresso para um eventual impeachment. O assessor foi demitido por Mourão, mas Bolsonaro desconfia que o vice tenha autorizado a articulação de coxia. O general, por sua vez, tem reclamado do tratamento dispensado pelo presidente desde a posse. Acredita que poderia ter mais protagonismo no governo, mas acabou sendo vítima das já proverbiais teorias da conspiração que costumam azucrinar a mente do titular do Planalto.
O sonho dourado de Bolsonaro era fazer como Getúlio Vargas que, com o golpe de estado, governou sem um vice de 1937 a 1945. Como Mourão é indemissível, e não há aparentemente um golpe em vista, resta ao presidente tentar anular o general de todas as maneiras possíveis. Atualmente, a relação entre Bolsonaro e Mourão é comparada à última fase do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, quando ela passou a fazer ouvidos de mercador e a desconfiar de cada passo do vice Michel Temer.
O comportamento de ambos ao longo da semana é ilustrativo do clima de altíssima tensão. Na manhã da terça-feira, 9, Bolsonaro não convocou Mourão para uma reunião com todos os integrantes do primeiro escalão do governo, à exceção do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que cumpria agenda no exterior. Foi uma decisão de caso pensado. No Planalto, comenta-se que o presidente arranjou uma forma nada ortodoxa de excluir Mourão dos encontros sem ter de quebrar o protocolo palaciano: tem evitado convocar o chamado Conselho de Governo, do qual o vice faz parte.
Na tarde do mesmo dia, o general, apesar presidir o Conselho da Amazônia, não participou de uma cerimônia no Palácio do Planalto para o lançamento do programa de adoção de parques na região por empresas privadas. Desta vez, porque não quis. "Estava trabalhando aqui. Tinha outras coisas para fazer", justificou Mourão.
A despedida em tom nostálgico da Operação Verde Brasil 2 nesta quarta-feira mostrou que o vice, podado de todas as formas por Bolsonaro, não tem mais tantas coisas assim para fazer no governo.
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Comentários (10)
Arlete
2021-02-12 22:21:19Bolsonaro é paranoico. Destrói todos à sua volta. Mourão está sendo cozido também. Mais um.
Orchidea
2021-02-11 20:48:08Lamentável que um programa importante na Amazônia ,com as Forcas Armadas , se perca . Ainda mais numa situação das mais sensíveis ,que é a conservação de sua floresta
Hélio
2021-02-11 20:42:29Na minha opinião, tudo isso é FOFOCA.
HERBERT
2021-02-11 18:32:13A Operação Verde Brasil começou com o início das chuvas na Amazônia, período que a locomoção nas matas é muito difícil, e a derrubada das árvores fica prejudicada, agora quando se aproxima o período mais seco, o criminoso Ricardo Salles pode executar o plano do Bolsonaro de permitir queimadas e garimpos clandestinos na região
Izabel
2021-02-11 18:11:40Fico com Mourão
Geni
2021-02-11 12:50:58já é hora do exército sair e deixar este Senhor governar junto com filhos.Todos os ministros,se tivessem dignidade também deveriam sair. Ele humilha a todos. A hora do basta....
Maria
2021-02-11 10:15:29Bolsonaro está diminuindo um superior do exercito que o ajudou a elege- lo..Isto não vai acabar bem. O Poder também é uma faca de dois gumes.
Maria
2021-02-11 09:33:20O Bolsonaro tem algumas características de psicopata. Uma delas é a total falta de empatia, de apreciação, de reconhecimento ao trabalho e dedicação dos outros. A outra é uma inveja profunda de todos que são menos estúpidos que ele. Que ser abjeto!
Waldemar
2021-02-11 09:24:30Dou toda a razão ao Bolsonaro, o Mourão é só o vice; não tem que ficar comentando atitudes do Presidente, acontece que ele quer "holofotes" e não consegue se colocar no seu devido lugar, e é claro, incentivado pela imprensa que quer criar conflito entre os dois!!!
Lourival
2021-02-11 09:06:45O Sérgio não consegue segurar o ódio e o recalque. A tal reunião ministerial que " excluiu " o Mourão era uma reunião ministerial e Mourão não é Ministro, Crusoé/Antagonista. Se duvidam, recorram a arquivos de reuniões ministeriais desde FHC até hoje, onde diversos Vices não estavam. Sei que vcs não precisam de ajuda, mas se quiserem, indico onde encontrar documentação. Tem coragem, Sérgio, ou é apenas vassalagem a seus $enhore$ esse seu ódio?