Relatório comprova alerta de falta de ‘kit intubação’ por 21 estados em junho

Novo drama do governo de Jair Bolsonaro, o baixo estoque dos medicamentos do “kit intubação” é um problema relatado por 21 estados do País desde junho de 2020.

Relatório de 24 páginas obtido pela Crusoé mostra que, naquela época, pelo menos um item do kit estava com o estoque zerado na rede pública desses 21 estados. Os medicamentos do kit são usados para anestesia, sedação e relaxamento muscular durante a intubação de pacientes com coronavírus.

O relatório detalha como estava a situação dos estoques de cada medicamento, em cada um dos estados, em junho passado. Preparado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o CONASS, e disponibilizado ao governo em 24 de junho de 2020, a pedido de governadores, o documento pretendia ser um mecanismo de pressão para que o Ministério da Saúde assumisse a responsabilidade de repor os estoques – algo que não aconteceu.

Os estados já haviam tentado realizar uma mega compra conjunta dos medicamentos do kit, mas a proposta foi barrada pelo governo federal, que alegava “problemas legais” na compra feita diretamente por governadores.

O kit intubação conta com 22 medicamentos. Segundo o relatório, pelo menos 9 itens dessa cesta estavam com os estoques zerados em nove estados em junho: Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Roraima e Tocantins.

O medicamento Atracúrio, usado na anestesia geral de pacientes, estava em falta em 12 estados (veja quadro abaixo), a Cetamina, utilizada principalmente para induzir e manter a anestesia, faltava em 11 estados e o bloqueador neuromuscular Cis-atracúrio tinha o estoque zerado em 16 unidades da federação, por exemplo.

Na tarde deste domingo, 21, o Ministério das Relações Exteriores confirmou que iniciou contatos no exterior para facilitar a compra de insumos médicos que compõem o chamado “kit-intubação”.

A Crusoé já havia mostrado, no sábado, 20, que os governadores cobravam, desde junho do ano passado, época da preparação do relatório, uma articulação do governo federal para uma mega compra de kits.

“Nós estávamos numa articulação para fazer a aquisição dos kits de intubação para as 27 unidades da Federação nessa parceria com a OPAS. Mas o governo brasileiro e o Ministério da Saúde disseram que essa compra não podia ser feita porque haveria problemas legais”, dizia o governador do Amapá, Antônio Waldez Góes, em audiência pública no Congresso.

“É fundamental que o governo coordene e nos ajude nesse trabalho”, reforçava Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo, no mesmo evento.

Passados mais de 8 meses, governadores agora consideram que, mais uma vez, o governo federal buscou agir tardiamente, como aconteceu no caos da saúde em Manaus. Dessa vez, porém, os chefes dos executivos estaduais dizem que têm elementos mais do que suficientes para que essa conta não seja cobrada dos estados, e sim de Bolsonaro.