Foto: Embajada de Argentina en BrasilDaniel Scioli, o atual embaixador argentino em Brasília

Quem é Daniel Scioli, que deve deixar embaixada da Argentina no Brasil

30.01.24 16:56

O atual embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli (foto), foi anunciado nesta terça-feira, 30 de janeiro, para assumir o recém-criado cargo de secretário de Turismo, Ambiente e Esportes do governo de Javier Milei.

A secretaria integrará o Ministério do Interior, comandado por Guillermo Francos.

“Junto ao presidente Javier Milei, nos reunimos com Daniel Scioli, que assumirá a Secretaria de Turismo Ambiente e Esportes”, publicou Francos no X, ex-Twitter.

O ministro ainda afirmou que Scioli deixará a embaixada.

“Obrigado Daniel pela grande tarefa desempenhada pelo nosso país como Embaixador no Brasil, reconhecido por todos os setores, e por deixar esse destino, para se juntar à nossa equipe”, afirmou Francos em comentário à sua publicação original do anúncio.

Nem Scioli nem a embaixada da Argentina em Brasília se posicionaram sobre a notícia.

Na missão argentina no Brasil, Scioli conseguiu desenvolver as relações diplomáticas, apesar da hostilidade entre os presidentes Alberto Fernández e Jair Bolsonaro, e, desde 2023, na rixa entre Javier Milei e Lula.

Scioli ainda aguardava aval do Senado argentino para poder se manter no comando da embaixada argentina — apesar de ser uma recondução vinda da gestão de Alberto Fernández, ele precisa de aval com a mudança de governo.

Milei agora precisará encaminhar um novo pedido ao Senado com seu novo indicado à embaixada em Brasília, exceto se o nomeado for diplomata de carreira, o que não é o caso de Scioli.

Por que Scioli assume novo cargo agora?

Segundo o cientista político argentino Marcos Novaro, da Universidade de Buenos Aires (UBA), a mudança de cargo de Scioli se deve mais ao cenário político argentino do que às relações com o Brasil.

“O governo Milei precisa muito de personagens políticos e experiência em relações com governadores, prefeitos, sindicalista, dentre outras forças”, diz Novaro.

“E capazes de explorar o atual processo de rompimento da união de bases peronistas sob o kirchnerismo”, acrescenta.

O anúncio de Scioli na secretaria de Turismo vem em meio a turbulências nas negociações para a votação do projeto de lei ómnibus no plenário da Câmara dos Deputados, com sessão convocada para a manhã desta quarta, 31 de janeiro.

Os governadores estão entre as principais forças que resistem ao texto de Milei e já forçaram o governo a derrubar toda a reforma fiscal prevista no projeto original.

De onde vem Scioli?

Peronista, e sempre tendo integrado o principal partido do movimento, o Partido Justicialista, Daniel Scioli está na política argentina desde a década de 1990.

Scioli foi eleito deputado nacional em 1997, durante o governo do peronista liberal Carlos Menem, a quem apoiava. Ele comandou a comissão de Esportes da Câmara por quatro anos.

Após o caos social do colapso do governo De La Rúa e na queda de outros três presidentes, tudo em dezembro de 2001, Scioli foi nomeado ministro de Esportes e Turismo pelo presidente Eduardo Duhalde, desafeto de Menem.

Em 2003, ao fim do governo Duhalde, Scioli se elegeu vice-presidente da Nação, na chapa do peronista intervencionista Néstor Kirchner.

Quando Scioli chegou ao topo do peronismo?

Como Kirchner não buscou a reeleição direta em 2007, preferindo se manter no poder através da eleição de sua esposa, Cristina, Scioli concorreu ao governo da Província de Buenos Aires naquele ano. E ganhou.

Ele passou a controlar o bastião do peronismo kirchnerista e chegou à presidência do Partido Justicialista em 2009.

Scioli se candidatou à Presidência da Nação em 2015, mas perde por cerca de 2,5 pontos percentuais para Mauricio Macri no segundo turno.

Com a chegada de Alberto Fernández à Casa Rosada, em 2019, ele virou embaixador da Argentina no Brasil, sem nenhuma experiência diplomática.

Ele conseguiu o aval do presidente Javier Milei para se manter no cargo ao final de 2023.

Qual é a relevância de Scioli na política argentina?

Scioli é conhecido por ser um camaleão e, acima disso, uma personificação do peronismo: a manutenção no poder acima da ideologia.

“Ele não é tão distinto a outros dirigentes peronistas”, afirma Novaro, que cita, como exemplo, o próprio chefe de Scioli em seu novo cargo, Guillermo Francos — o ministro do Interior de Milei vem de origem peronista.

Desde 1997, quando entrou na política, ele teve cargo no Executivo ou na base no Legislativo em todos os governos, menos De La Rúa e Macri, que somam

Ele surgiu no menemismo e foi eleito vice-presidente com o kirchnerismo, os dois extremos do peronismo pós-redemocratização de 1983.

Foi embaixador da Argentina no Brasil, um dos principais cargos da diplomacia argentina, tanto no governo Fernández quanto no de Milei.

Apesar de sua destreza política, sua relevância está em queda.

“Scioli tem perdido relevância desde 2015”, diz Novaro, lembrando que a sua tentativa breve de uma candidatura na pré-campanha à presidência em 2023.

“Ele sobrevive nas margens, se oferecendo como uma peça útil para qualquer estratégia, dentro ou fora do peronismo”, acrescenta.

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