Foto: Mariana Nedelcu/ReutersJavier Milei, o ultraliberal vencedor das primárias na Argentina, que quer extinguir o peso e o Banco Central do país

Principal presidenciável da oposição na Argentina não quer saber de Brics

25.08.23 11:29

A Argentina teve sua candidatura ao Brics aprovada ontem, quinta-feira, 24 de agosto.

Primeira expansão desde o ingresso da África do Sul, em 2011, a entrada da Argentina e de outros cinco países no Brics está programada para o primeiro dia do próximo ano.

Cerca de um mês antes dessa data, a Argentina terá um novo presidente empossado.

Três candidatos lideram a disputa.

Apenas o nome do governo, o ministro da Economia, Sergio Massa, que negociou a entrada argentina no Brics, é a favor do ingresso. Ele foi o segundo candidato mais votado nas primárias obrigatórias em 13 de agosto, com pouco mais de 20% dos votos. Mas sua coalizão, a União pela Pátria, peronista, ficou em terceiro lugar.

Se dependesse do presidenciável mais votado das primárias e principal candidato da oposição, a Argentina não ingressará no Brics. O populista Javier Milei (foto), que teve 30% dos votos nas primárias, criticou a entrada argentina no bloco.

Em um evento de campanha na quinta, Milei repetiu sua retórica inflamada sobre política externa, com elementos clássicos da direita populista. Nosso alinhamento de geopolítica é Estados Unidos e Israel. Nós não vamos nos alinhar com comunistas, disse o candidato.

Autodeclarado libertário, em suma um defensor radical do Estado mínimo, Milei defende que o governo não mantenha relações com países “comunistas”, mas permita aos cidadãos e empresas privadas que as tenham por conta própria.

“[O não alinhamento] não significa que o setor privado não possa negociar com quem quiser”, disse.

O candidato é duro crítico do regime da China, a quem compara a “um assassino”.

Em declarações semelhantes à desta quinta, Milei chegou até mesmo a falar em romper relações mesmo com o Brasil.

Ele chamou Lula de esquerdista selvagem apoiando ditaduras, caras que violam os direitos humanos, autocratas com as mãos manchadas de sangue”.

“Serão parceiros comerciais do setor privado. Não fazemos pactos com comunistas”, acrescentou.

Milei não está errado em condenar a posição do petista sobre Nicolás Maduro ou Daniel Ortega.

Sobre a entrada da Argentina no Brics, vale entender o seu ponto de vista.

O grupo não traz muitos benefícios comerciais, tendo sempre sido mais um fórum político. E, hoje, uma associação de cunho político com Rússia e China pode trazer custos no relacionamento com as democracias ocidentais.

Entretanto, falar em romper relações diplomáticas não passa de retórica eleitoreira e irresponsável.

Brasil e China são, respectivamente, o primeiro e o segundo maior parceiro comercial da Argentina.

Milei defende abertamente a retirada dos argentinos do Mercosul, algo que demanda aprovação no Congresso.

Tanto o peronismo quanto a direita tradicional são a favor da manutenção da Argentina no bloco e, logo, um eventual presidente Milei pode não ter apoio legislativo para sair do Mercosul.

Quanto à China, Buenos Aires e Pequim não têm nenhum acordo de livre comércio.

As relações comerciais entre os dois governos se limitam a acordos de cooperação em áreas específicas, incluindo um dentro da Nova Rota da Seda.

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