Petistas em busca do tempo perdido
Charles de Gaulle jamais disse que o Brasil “não é um país sério”. Perdeu a oportunidade de anunciar uma verdade monumental. Como não cansamos de reafirmar a nossa falta de compostura, depois de 100 dias de ensaios, o governo Lula entra em cena para representar um papel grotesco no fantástico mundo das Relações Internacionais. Há...
Charles de Gaulle jamais disse que o Brasil “não é um país sério”. Perdeu a oportunidade de anunciar uma verdade monumental. Como não cansamos de reafirmar a nossa falta de compostura, depois de 100 dias de ensaios, o governo Lula entra em cena para representar um papel grotesco no fantástico mundo das Relações Internacionais. Há quem acredite que o destino pode ser visto nas estrelas. Muitas crianças – e até alguns adultos – acreditam em Papai Noel. Mas só os petistas conseguem ter a convicção de que a China irá irrigar a nossa economia com uma montanha de dinheiro, reconstruir toda a nossa infraestrutura dilapidada pela inépcia de nossos governantes, e ainda nos transferir tecnologia de ponta para que, finalmente, possamos entrar no reino das grandes potências mundiais. E assim, sem nenhuma contrapartida, por pura benevolência humanitária, o governo chinês ajudará o Brasil a realizar o sonho de ser o país do futuro.
O único problema vai ser conciliar esse mundo fantástico com a insensibilidade da vida real. A benevolência chinesa é questionada por organizações internacionais, como a Anistia, que vem denunciando há mais de uma década as violações de direitos humanos na China, cujas autoridades seguem prendendo quem critica o governo, incluindo ativistas, jornalistas e advogados, além de restringir a liberdade de expressão e de crença religiosa, chegando ao absurdo de manter os uigures, minorias muçulmanas, em campos de concentração com tortura, trabalhos forçados e abusos sexuais. Seria interessante consultar nosso ministro dos Direitos Humanos, o destemido Silvio Almeida, para saber se os oprimidos na China também “existem e são valiosos para nós”.
Aliás, nosso prodigioso ministro Silvio Almeida também poderia se pronunciar a respeito das declarações do chanceler russo Sergey Lavrov, que veio ao Brasil trazendo uma bagagem ultrassecreta de 5 toneladas, e a certeza de que ambos os países têm uma “abordagem similar sobre os problemas do mundo”. É verdade, são países que têm governos corruptos e perseguem os adversários políticos, mas cada um a seu modo: no Brasil, para calar os opositores, recorre-se ao cancelamento na internet e ao assédio judicial. A Rússia prefere que eles caiam misteriosamente de sacadas ou deem os últimos suspiros depois de tomar um cafezinho envenenado com polônio-210.
Mas o que importa agora é que a encenação de Lula em palcos internacionais teve uma repercussão muito ruim. Num de seus improvisos, acusou a Europa e os Estados Unidos de não terem interesse em parar a guerra na Ucrânia. Como resposta, disseram-lhe que estava sendo ingênuo ao repetir propaganda russo-chinesa. Lula teve que voltar atrás, num pronunciamento ambíguo e constrangedor, em que não reafirma o que disse, mas também não nega.
O diretor desse espetáculo grotesco é o experiente diplomata Celso Amorim (foto), que tentou explicar as declarações destrambelhadas de Lula em entrevistas nada diplomáticas à imprensa. A ingenuidade de Lula, portanto, vem de Amorim, que levou a sério a ideia mirabolante de transformá-lo em um novo Nelson Mandela. Amorim ficou deslumbrado com a ideia de que uma boa propaganda pode fazer o mundo inteiro acreditar que Lula é um homem honesto, preso injustamente, que está retornando à vida pública apenas para dar ao mundo lições de paz, amor, perseverança e muita resignação. Megalomaníaco, Lula deve ter gostado da ideia de se tornar uma espécie de guru da política mundial.
Ainda mais ingênuos do que esses dois trapalhões que se acham capazes de enganar o mundo inteiro, foram todos os que acreditaram que um megalomaníaco poderia conduzir uma frente ampla para recuperar alguma dignidade política depois da tragicomédia de um governo energúmeno como o de Jair Bolsonaro. Porque, no fundo, os petistas são pragmáticos. Não estão interessados em vingança e nem em frente ampla para a reconstrução do país. Estão apenas atrás do tempo perdido.
Diogo Chiuso é escritor e autor do livro O que restou da Política, publicado pela editora Noétika em 2022
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Comentários (10)
Branda
2023-04-23 11:58:05Eu espero, de todo o coração, que esses caras leiam artigos como esse. É certo que não aceitarão as palavras, negarão todas, mas eu espero que elas fiquem tocando em suas mentes todas as noites, antes de dormir.
Olívia m a menezes
2023-04-21 07:28:49Excelente artigo.
Renata
2023-04-20 21:53:06A questão é que Nelson Mandela cumpriu pena.
ROMEU
2023-04-20 17:09:25Perfeito, Diogo! O que mais incomoda é a eterna competição da cúpula política em busca da mediocridade. Sai uma anta entra um charlatão, sai um idiota entra um megalomaníaco... E assim vamos levando a vida, de hipocrisia em hipocrisia... Até quando?
José Roberto Colombo
2023-04-20 15:37:17Como é bom ler um artigo que esclarece o que nós sabemos mas que os idiotas, os pobres de espírito, fanatismo da esquerda que pede liberdade e adora Cuba, Nicarágua, Venezuela , Irá , locais, onde a liberdade e total e vc adora está liberdade Outra coisa , a China , só tem produtos ótimos , nada de lá e cópia ou falsificado Tudo e criação deles , original, resistente e sempre o resto do mundo faz a cópia deles Perdeu Mane
Maria Rita Araújo Loureiro Da Cruz
2023-04-20 11:48:47Perfeito Diogo
Mauricio Sucheuski
2023-04-20 10:47:54Sobre Celso Amorim, você ainda não percebeu o seguinte, se você pesquisar vai achar com facilidade, ele muitas vezes se trai a si mesmo quando está com os seus (o curral intelectual do Brasil247). Então é só juntar as pontas soltas. Perceba q todas as referências intelectuais de Celso Amorim são francesas. Foi a Rússia e voltou e a primeira parada, braços de Macron. O resto vcs ligam sozinhos pois não cabe nesse espaço.
Carlos Renato Cardoso Da Costa
2023-04-20 05:06:33O último parágrafo é perfeito. Quem votou em Lula tem todo o direito de tê-lo feito, mas dizer que acreditava em frente ampla ou em "defesa da democracia" sempre foi de uma tolice enorme.
ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES
2023-04-19 18:54:59O introdutor de ódio na política brasileira, Luiz Ignácio, continua com muito ódio sim! Por tal motivo só pensa em ideologia esquerdista, MST, estatizações, etc. Lula não pensa no Brasil como nação onde a grande maioria do povo será feliz. Portanto, infelizmente caro Diogo Chiuso, o ódio do nós contra eles, vai continuar. Gostei do seu artigo. Viva a Lava Jato!
Xico Só
2023-04-19 15:43:54De Gaulle foi um estadista e jamais disse isto ... na verdade quem falou foi o diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza ... estes são os diplomatas deste indigitado pais.