Tony Winston/Ministério da Saúde

Os números da vacinação na vida real, para além do marketing do governo

17.03.21 20:10

Com a desaprovação de Jair Bolsonaro na gestão da pandemia alcançando os patamares mais altos, segundo as mais recentes pesquisas, o governo tem se dedicado em tentar mostrar à população que, enfim, resolveu dar prioridade à aquisição de vacinas para conter a trágica escalada de mortes pela Covid-19.

Desde o último mês, o governo divulga quase que diariamente em entrevistas promovidas pelo Ministério da Saúde a compra de milhares de imunizantes. Só nos últimos cinco dias, o governo anunciou a compra de 10 milhões de doses da Sputnik V, produzida pelo instituto russo Gamaleya em parceria com a União Química, e a assinatura de contratos com a Pfizer e a Janssen para a compra de 138 milhões de vacinas — no caso da Sputnik V e da Janssen, ainda não há a aprovação da Anvisa para uso emergencial.

Apesar do marketing diário promovido pelo Ministério da Saúde, o ritmo de aplicação de doses na vida real do país é bem distante dos números alardeados por Brasília. 

Objetivamente, desde o início da campanha de imunização, o governo já distribuiu 20,1 milhões de doses de vacinas a estados e municípios, das quais 12,4 milhões foram aplicadas. O número não significa que existe uma “sobra” de inoculantes nos estoques de estados e municípios, já que são necessárias duas doses para cada paciente – 9,3 milhões de pessoas receberam a primeira aplicação e somente 3,1 milhões receberam a segunda dose. As vacinas disponibilizadas nos postos de saúde até agora não imunizaram sequer os grupos prioritários que já foram convocados pelo SUS, que somam 11,5 milhões de pessoas.

A conta de grupos prioritários inclui, além de profissionais de saúde, pacientes com mais de 80 anos, que ainda estão sendo vacinados. De acordo com o Ministério da Saúde, os mais idosos formam um público-alvo de 4,4 milhões de pessoas, mas somente 3 milhões já receberam a aplicação da primeira dose, dos quais apenas 768 mil foram efetivamente imunizados com a segunda dose.

Nem mesmo a totalidade dos profissionais de saúde do país foi imunizada. O grupo, estimado oficialmente em 5,9 milhões de pessoas, tem 3,9 milhões de trabalhadores inoculados com a primeira aplicação da vacina e 1,9 milhão imunizados também com a segunda dose.

Nesta quarta-feira, 17, o Instituto Butantan concluiu a entrega de mais 4,5 milhões de doses, o que garante a imunização de 2,1 milhões de pessoas, segundo as contas do Ministério da Saúde. Não chega a ser um alívio, já que a remessa não resolve nem o déficit de vacinas para grupos prioritários.

O cenário, na verdade, é nebuloso. Na segunda, 15, antes de ser demitido, o ministro Eduardo Pazuello apresentou uma planilha com a previsão da entrega de 38 milhões de doses ainda neste mês, mas em seguida só deu certeza sobre “28 a 30 milhões”. Irritado com questionamentos sobre as constantes alterações no cronograma de vacinação, o general esbravejou. “É pra ser alterado quando a farmacêutica atrasa, quando a linha de produção para, quando acontece qualquer dificuldade na legalização das doses”, bradou. 

Das 38 milhões de vacinas prometidas para este mês, somente 25% total já estão efetivamente à disposição do SUS. O restante das entregas previstas ainda neste mês depende basicamente do Instituto Butantan, da Fiocruz e do consórcio internacional Covax. O problema é que, até agora, somente o Butantan vem entregando de forma constante – foram 9,1 milhões em março. 

Para os próximos meses, a incerteza permanece. O Ministério da Saúde prevê 57,1 milhões de vacinas a serem entregues em abril. Só que o cálculo considera a chegada de 8 milhões de unidades da Covaxin, que ainda não recebeu o aval da Anvisa. A previsão leva em conta ainda a chegada de 400 mil doses da Sputnik V, da Rússia, também dependente de aprovação da Anvisa. Como é possível notar, ainda há um abismo entre a vida real e o marketing do governo Bolsonaro. 

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  1. O filho do JB já postou o Zé Gotinhas com arma nas mãos. Eles distorcem tudo. Até um símbolo associado as crianças já virou símbolo de ódio.

  2. Essa estratégia da Crusoé do "hay gobierno soy contra" muitas vezes extrapola a necessária isenção jrnalistica. O reporter, - já com raiva só de ver o retrato do Pazuello,como na velha piada - diz que o ministro "esbravejou" e "bradou" , citando a frase sobre alteração de cronograma. Vi a entrevista: o ministro falou calmamente e o que disse é absolutamente verdadeiro. Se o fornecedor de vacinas atrasa a entrega, o cronograma será necessariamente alterado para se ajustar à nova situação. Óbvio.

  3. É chocante a completa ausência do governo federal na questão da vacina. Criminosa na verdade. Se Não fosse pela Coronavac, iniciativa exclusiva do Governo de São Paulo e combatida por Bolsonaro, o Brasil, na prática, não teria ainda começado a vacinação dos brasileiros. Ainda não! E se a Coronavac tivesse sido direcionada apenas ao Estado de São Paulo, que foi o único responsável por sua obtenção, teríamos níveis de aplicação de vacina superiores à maioria dos países do mundo.

  4. Todos bandidos inescrupulosos e canalhas que só fazem de tudo, para se reelegerem... seja para o cargo que for; para nunca perderem a tal imunidade! Já tivemos um cara que era até honesto mas tão idiota que afastado da Presidência, ainda foi vereador em S. Paulo (o maluquete professor Jânio Quadros, cuja única experiência como gestor público, foi varrer sala de aula, se bem que em tarefas deste nível ainda tenha sido muito mais qualificado que o atual genocida barrigudinho, de ‘porte atlético’

  5. Se o Doria fosse o presidente da república, teriamos vacinas para os brasileiros. Isso se constata pelo percentual da Coronavac na quantidade global de vacinas. Doria, além da vacina do Butantan, colocaria uma equipe de notáveis para fazer o follow up das vacinas pelo mundo. E obviamente teria fechado o negócio com a Pfizer, pois era o mais sensato a fazer. Mas Doria está a frente do estado mais crítico e empreendedor do Brasil, e por isso vai mal nas pesquisas, injustamente na minha análise.

    1. Concordo. O problema do Doria são os acertos. E os acertos - as vacinas - são tão maiores que os paulistas já estão relevando. Ainda vai melhorar muito a situação dele em São Paulo.

  6. Trabalhar com campanha de vacinação é bem diferente de estratégia militar. Vamos aguardar que melhore esse cenário nebuloso.

    1. E muito diferente da logística das Rachadinhas, do estelionato eleitoral e da propaganda enganosa.

  7. Por que vcs não informam que destes 20 milhões de doses que foram entregues até o momento, 90% é Coronavac? Aliás este nome não apareceu na matéria! Por que estão boicotando o governo de SP e sua equipe? Se não fosse SP o Brasil ainda estaria esperando por vacinas!

    1. Pergunte os erros pra quem está sem comida devido ao lockdow... fique em casa e trabalhe de home oficie é muito bonito. Mas não é pra todo mundo...

    2. Concordo plenamente, o mais interessante é que quando alguém começa a falar mal do Dória eu só faço uma pergunta; OK mas qual foi o erro dele? e ai a conversa termina...

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