O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz, é de direita?

O presidente eleito da Bolívia, Rodrigo Paz Pereira (foto), tem sido tratado tanto como um político de centro, de centro-direita e de direita pelos veículos de comunicação.

A confusão é natural, porque Rodrigo Paz é evasivo nas respostas sobre os principais problemas da Bolívia e traz conceitos confusos e nunca testados.

"Rodrigo Paz é, acima de tudo um populista, que manda mensagens confusas e fala aquilo que o povo quer ouvir", diz o pesquisador e jornalista boliviano Humberto Vacaflor, que vive em Tarija.

Capitalismo para todos

Rodrigo Paz prometeu "capitalismo para todos" na campanha.

Falar de capitalismo após anos de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), de Evo Morales, parece ousado.

Mas Rodrigo Paz mal define o que seria esse "capitalismo para todos".

Seu programa de governo fala em "implementar um novo modelo econômico, baseado na redistribuição fiscal entre o nível central do Estado e as entidades territoriais autônomas e as universidades públicas".

Não é muito esclarecedor.

Seu programa de governo não tem um viés liberal, apesar de fazer reparos a estatais deficitárias.

O programa promete apenas "congelar as atividades de todas as empresas públicas que mantenham déficits operacionais". Não se fala em privatização.

Quando o programa cita a iniciativa privada, geralmente é em atuação com o Estado.

FMI

Uma das principais questões nesta eleição era se o próximo governo pedirá socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Rodrigo Paz se nega a fazer isso, seguindo a linha da velha esquerda latino-americana.

Mas ele não diz como irá recuperar as contas nacionais, que estão no vermelho. O déficit fiscal está em 10% do PIB.

Sua solução é mágica: o dinheiro vai aparecer, quando os políticos pararem de roubar.

É uma afirmação que beira a irresponsabilidade.

Evo Morales

Outro ponto importantíssimo é como o próximo presidente lidará com Evo Morales.

O ex-presidente segue como representante dos plantadores de coca, a matéria prima do crack e da cocaína, e está foragido da Justiça por acusações de pedofilia.

Após a vitória de Rodrigo Paz, Evo Morales comemorou o resultado, o que é um péssimo sinal.

"O povo, com seu voto, derrotou os racistas, os odiadores, os difamadores e os violentos neste domingo; eles puniram o establishment da mídia que pisoteou a ética jornalística e praticou jornalismo indecente", escreveu Evo Morales no X.

"O povo dá aos novos líderes o mandato de não destruir o Estado Plurinacional, com soberania, dignidade, inclusão e justiça social; de respeitar os direitos sociais, como bônus, e a política de distribuição de riqueza do Estado; e de não trair a agenda dos excluídos", segue Evo.

Cocaína e crack

Evo Morales expulsou a agência americana Drug Enforcement Administration (DEA), que ajudava a combater o narcotráfico, e mandou embora o embaixador americano.

Essas medidas enfraqueceram o combate ao narcotráfico.

Ao ser questionado se chamará a DEA de volta, Rodrigo Paz saiu pela tangente.

"O combate a crimes como tráfico de pessoas, financiamento ilegal e tráfico de drogas deve ser realizado com todas as organizações internacionais sob a égide das Nações Unidas. A DEA nunca saiu. O que é necessário agora é unir forças com americanos, brasileiros, europeus e asiáticos", afirmou durante a campanha.

Jeanine Añez

Rodrigo Paz não prometeu libertar Jeanine Añez, a senadora que governou o país quando Evo Morales abandonou o poder, em 2019.

Jeanine comandou o país até a realização de novas eleições, vencidas por Luis Arce Catacora, o atual presidente. A transição de poder foi pacífica.

Desde 2021, contudo, ela está injustamente detida, acusada de sedição, terrorismo e conspiração.

Ao não prometer soltar Jeanine, Rodrigo Paz demonstra que pode compactuar com medidas autoritárias de seus antecessores.

Rodrigo Paz pode não ter marcas claramente de esquerda, mas está longe de ser um político de direita, muito menos de ser um liberal.

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