Emails do Twitter mostram PF do Xandão em ação
O jornalista e ambientalista americano Michael Shellenberger divulgou conversas de email entre os advogados do X (antigo Twitter) e seus superiores americanos nos últimos dias. Pelas conversas, é possível ver claramente como o ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, Alexandre de Moraes (foto) atua com uma ala da Polícia Federal, apelidada de "PF do Xandão"....
O jornalista e ambientalista americano Michael Shellenberger divulgou conversas de email entre os advogados do X (antigo Twitter) e seus superiores americanos nos últimos dias.
Pelas conversas, é possível ver claramente como o ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, Alexandre de Moraes (foto) atua com uma ala da Polícia Federal, apelidada de "PF do Xandão".
Na condição de ministro do STF ou do Tribunal Superior Eleitoral, Moraes deveria se limitar a julgar os casos que chegam aos tribunais.
Ao se unir com a Polícia Federal para pedir que empresas de internet forneçam provas para acusar brasileiros que expressaram suas opiniões na rede, Moraes une as funções de investigador e de julgador.
Vale lembrar que o senador Sergio Moro foi declarado suspeito justamente pelo STF após ser acusado de ter atuado em parceria com o Ministério Público, quando era juiz da Lava Jato.
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Nos emails revelados por Shellenberger, o advogado do X Diego de Lima Gualda estranha ter sido chamado para uma reunião no STF com Moraes e encontrar-se com membros da Polícia Federal.
"Em primeiro lugar, a reunião não foi apenas com o juiz. Ele convidou membros técnicos da Polícia Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que estão liderando as investigações", escreveu Gualda.
"O tom geral da reunião foi positivo e nós tivemos a oportunidade de explicar as limitações técnicas para cumprir com as ordens feitas pela Corte", segue o advogado.
O email é datado de março de 2022, quando Moraes ainda não era presidente do TSE. Essa função ele só assumiria em 16 de agosto daquele ano.
A partir do relato feito pelo advogado, entende-se que Moraes tinha pedido informações sobre publicações a partir das hashtags (palavras antecedidas pelo símbolo do jogo da velha, #, para ordenar as publicações seguintes sobre um mesmo assunto).
"Eles entenderam que nós não podemos dizer quem foi o primeiro a usar uma hashtag e que não podemos fornecer informações de IP sobre publicações específicas no Twitter", escreve o profissional.
Moraes marcou a reunião com integrantes da PF e do TSE com o objetivo de pressionar os funcionários do Twitter a entregar provas contra brasileiros, que mais tarde seriam julgados por ele.
É isso o que se chama parcialidade.
A justificativa de Moraes para pedir acesso às informações era de que, em virtude de "circunstâncias excepcionais", o tribunal estaria tentando "antecipar potenciais atividades ilegais que poderiam impedir as próximas eleições de ocorrer".
Leia o email de Diego de Lima Gualda abaixo:
Dois meses depois, o advogado Diego de Lima enviou outro email dando seguimento ao tema: "A Policia Federal está esperando uma resposta o antes possível e deixou claro que o Tribunal Superior Eleitoral está querendo saber se o Twitter já cumpriu com a ordem", escreveu o advogado.
No parágrafo seguinte, ele dá a sua opinião sobre o que a empresa de tecnologia deveria fazer: "A partir das conversas com oficiais que estão a cargo da investigação, eles estão sob muita pressão do Tribunal Superior Eleitoral para fornecer resultados tangíveis para a investigação (lembrando que neste processo a Polícia Federal está apoiando a investigação que é conduzida pelo Tribunal Superior Eleitoral".
Neste domingo, 7, Elon Musk, dono do X, pediu o impeachment de Alexandre de Moraes.
Em reportagem de capa na edição de número 300 da Crusoé, o jornalista Wilson Lima mostrou o que estava ocorrendo na Polícia Federal. Segue um trecho:
"Nos últimos meses foi se consolidando, especialmente dentro da PF, a percepção de que em vez de ser um órgão de Estado, técnico e neutro, ela simplesmente passou a refletir a polarização entre petismo e bolsonarismo existente no país. Além disso, nada foi feito para modificar uma situação anômala, porque ela obviamente agrada ao PT: a existência de um grupo de delegados sob influência direta do ministro do STF Alexandre de Moraes, conduzindo inquéritos sobre os atos antidemocráticos e sobre o 8 de Janeiro. Neste começo de 2024, esse núcleo produziu investigações confusas sobre o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição, e sobre Carlos Bolsonaro, ensejando diligências de grande impacto. Ele vem sendo chamado em voz baixa de "PF do Xandão"", diz a matéria da Crusoé.
"Nos Estados Unidos, o Federal Bureau of Investigation, FBI, desempenha papel similar ao da PF no Brasil. James A. Wray dirige o órgão desde 2017, quando foi nomeado pelo presidente Donald Trump e teve o nome aprovado pelo Senado. Ao chegar à Casa Branca, Joe Biden manteve Wray no cargo. Os eventos de 6 de janeiro de 2020, quando uma turba invadiu o Capitólio e tentou impedir a certificação da vitória eleitoral do democrata, não fizeram que ele sentisse a necessidade de encaixar um "nome seu" no FBI. O Brasil está muito longe desse grau de confiança no funcionamento normal das instituições. Os políticos brasileiros operam segundo a lógica do petista José Dirceu, que cerca de 20 anos atrás, quando era uma figura poderosa no primeiro mandato de Lula, disse que seu partido só se tornaria realmente dono do governo quando controlasse a PF. Misturam-se aí o temor de ser alvo de inimigos e os desejos de blindar-se ou promover as próprias causas, valendo-se do aparato policial", segue o texto.
Os emails dos últimos dias, apelidados de "Twitter Files", mostram a PF do Xandão a pleno vapor em 2021 e 2022.
Leia também na Crusoé: Duelo na PF
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Comentários (4)
Amaury G Feitosa
2024-04-08 13:05:40A nossa PF virou uma KGB ou uma Gestapo dos ditadores? Recuso-me a acreditar em tamanha infâmia MAS os indícios são muitos ... pobres de nós !!!
John
2024-04-08 09:51:22Bem claro que usando a defesa da democracia como desculpa, o judiciário brasileiro fez desta mesma democracia um regime autoritário. Dizem que não há mal que dure pra sempre.. vamos ver. Eu talvez não veja o fim deste, devido à minha idade., mas sofro por meus filhos e netos.
ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES
2024-04-07 23:27:17Gravíssimo!!! Os americanos nos ajudaram a criar a Embraer e estão nos ajudando a modificar(Deus queira) nossa Constituição. É caso p/ impeachment!
Sergio
2024-04-07 22:26:16Que o próximo presidente do Senado tenha cérebro para se manter equidistante dos déspotas populistas e bolas para fazer com que o STF também se mantenha.