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Em reuniões internas, diretores da OMS reclamaram da China

02.06.20 11:23

Diretores e funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS) reclamaram em reuniões internas da entidade da falta de colaboração da China para ajudar a conter a pandemia do coronavírus. Essas reuniões, cujos conteúdos foram obtidos pela Associated Press, ocorreram ao longo de janeiro, mês em que a OMS publicamente elogiava a China pela sua eficiência.

Apesar de o primeiro laboratório chinês ter sequenciado o genoma do coronavírus no dia 2 de janeiro, a informação não se tornou pública. Uma ordem foi dada no dia 3 de janeiro para que nenhuma informação sobre vírus fosse divulgada sem autorização governamental. Nos primeiros dias de janeiro, outros quatro laboratórios sequenciaram o genoma, mas também não publicaram seus dados. Um deles concluiu que o coronavírus poderia ser contagioso pelo sistema respiratório. Mesmo assim, nada foi anunciado. As autoridades chinesas confiavam que o Centro de Controle de Doenças chinês, mais próximo do governo, é que seria o primeiro a divulgar a sequência do genoma. Isso impediu que os demais laboratórios tomassem a dianteira.

A Organização Mundial de Saúde só tomou conhecimento do sequenciamento do genoma em uma matéria do Wall Street Journal, no dia 8 de janeiro. A notícia causou constrangimento interno na organização. “O fato é que, nós estamos duas ou três semanas depois de um evento e não temos os diagnósticos de laboratório, nós não temos idade, sexo ou distribuição geográfica, não temos a curva epidemiológica”, disse o diretor-executivo Michael Ryan (foto) em uma das reuniões.

Foi só então que as autoridades chinesas anunciaram a descoberta do novo coronavírus. Apesar desse reconhecimento oficial, não foram divulgados dados como o sequenciamento do genoma, informações sobre os pacientes ou seus diagnósticos.

No dia 11 de janeiro, o laboratório do Centro Clínico de Saúde Pública de Xangai publicou de forma independente o genoma no site virological.org. Os cientistas do Centro de Controle de Doenças chinês ficaram raivosos por terem ficado para trás. No dia seguinte, uma ordem oficial fechou temporariamente o laboratório de Xangai. No dia 12, outros três laboratórios divulgaram o genoma.

“Já passamos por esse mesmo cenário: nós eternamente tentando obter atualizações da China sobre o que está acontecendo”, disse Ryan durante uma reunião. “Isso não aconteceria no Congo (durante a epidemia de Ebola) e não aconteceu no Congo ou em outros lugares. Nós precisamos ver os dados. Isso é absolutamente importante neste momento.”

Apenas no dia 20 de janeiro as autoridades chinesas anunciaram que o coronavírus poderia passar de pessoa para pessoa. A OMS somente foi declarar o coronavírus como uma emergência global no dia 30 de janeiro.

Ryan, que participou de diversas coletivas de imprensa ao lado do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, pediu em um dos encontros internos que a organização fosse mais coerente. A entidade tinha sido rigorosa com a Tanzânia em setembro do ano passado sobre um surto de Ebola, mas se mostrava incapaz de pressionar a China. “Nós temos de ser consistentes. O perigo agora é que, apesar das nossas boas intenções, haverá muitos dedos apontados contra a OMS se algo acontecer”, disse Ryan.

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