Denúncia contra igreja abala planos do PL em Santa Catarina

O Ministério Público em Santa Catarina (MPSC) indicou que deve investigar denúncias contra a igreja Bola de Neve na cidade de Balneário Camboriú, após fiéis alegarem que a célula religiosa da igreja teria desviado 1,12 milhão de reais em doações. A igreja tem, entre seus pastores, Peeter Grando (foto), pré-candidato do PL à prefeitura da cidade.

Os primeiros denunciantes apontam que as doações feitas para o Instituto Para Empreendedoras (IPE), um braço da igreja que nunca saiu do papel, estaria sendo utilizado diretamente em um salão de beleza da filha do casal de pastores Ana e Natanael Paixão, que comandam a Bola de Neve na cidade. Natanael nega que o salão de sua filha — que se chamaria Ipê Beauty e fica na cidade — seria custeado com as doações de fiéis: “Nunca tivemos retiradas financeiras do Ipê. Pelo contrário, sempre doamos a nossa vida, tempo e muito amor para que ele avançasse”, escreveu.

Outras denúncias apontam para uso pessoal das instalações de uma Casa de Anas, destinada ao acolhimento de mulheres vítimas de violência doméstica. O denunciante —indicado em um jornal local como um ex-membro da igreja— revelou que as cozinheiras do local cozinhavam refeições privadas dos pastores.

A convulsão interna dentro da Bola de Neve ocorre no momento que Peeter Grando, um pastor auxiliar da organização, tenta se cacifar como pré-candidato do PL a prefeitura. Nas costuras políticas que tentou fazer quando esteve no estado, mês passado, Jair Bolsonaro se encontrou com o líder religioso e deu o sinal verde para sua candidatura.

Ele acredita que as denúncias contra a Bola de Neve são uma tentativa de miná-lo.  “Penso que apresentar denúncias desse tipo, neste momento, é evidente que tem por objetivo atingir a minha pré-candidatura”, disse. “Tudo muito orquestrado, tudo muito articulado no tempo e no conteúdo. Contudo não acredito que o objetivo dessas pessoas será alcançado, pois pauto minha conduta pelos mais sólidos valores morais e éticos, o que me deixa à consciência tranquila.”

Balneário Camboriú, uma das maiores do estado e chamada de “Dubai brasileira” pelos seus arranha-céus, não tem segundo turno — e por isso se tornou estratégica para os planos de Jair Bolsonaro:  nela, o prefeito em segundo mandato Fabrício de Oliveira não deve declarar apoio público a seu ex-vice, o hoje deputado estadual Carlos Humberto (PL), para ser seu sucessor. Jorginho Mello não estaria tomando lado porque haveria pressão de Jair Bolsonaro interferindo na escolha de um nome.

E é pela cidade, também, que Jair Renan Bolsonaro tentará iniciar sua carreira política, concorrendo como vereador.

As denúncias ganharam corpo durante a semana quando foram endossadas por Rodolfo Abrantes, ex-vocalista da banda Raimundos e ex-membro da Bola de Neve. Em vídeo nesta quarta-feira, 22, ele evitou entrar no mérito das verbas —mas relatou abusos emocionais sofridos pela sua esposa no local.

“Vi o sofrimento dela, vi o quanto ela sofreu de abusos emocionais naquele ministério”, disse Abrantes em suas redes sociais. “Nós sofremos demais como família, nosso casamento foi abalado naquela época e nós sobrevivemos. Estamos firmes, mas carregamos cicatrizes de feridas que demoram muito pra curar.”

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