Democrático na bronca e na bondade
Antes da queda de helicóptero que o vitimou nesta segunda-feira, 11, Ricardo Boechat havia sido notícia na sexta-feira, 8, por um vídeo em que ele estrilava com a produção da BandNews por um problema durante a entrevista de um oficial do Corpo de Bombeiros do Rio sobre o incêndio no Ninho do Urubu do Flamengo —...
Antes da queda de helicóptero que o vitimou nesta segunda-feira, 11, Ricardo Boechat havia sido notícia na sexta-feira, 8, por um vídeo em que ele estrilava com a produção da BandNews por um problema durante a entrevista de um oficial do Corpo de Bombeiros do Rio sobre o incêndio no Ninho do Urubu do Flamengo — mais uma tragédia que marca este início estranho de 2019, com estouro de barragem e chuvas que matam além do habitual.
Olhei o vídeo da bronca, que a muitos pareceu "polêmica", essa palavra cujo sentido a hipersensibilidade de hoje já alargou tanto que acredito já não significar mais nada. Em vez de me impressionar, fiquei com a sensação de familiaridade: era o mesmo Boechat com quem convivi como vizinho, dele e de sua equipe de coluna, no Globo. Tão expansivo e direto na bronca quanto nas brincadeiras.
A franqueza era uma característica de uma mentalidade democrática que Boechat aplicava no dia a dia, e não era de fachada: ele dava espaço e atenção tanto ao porteiro como ao dono da empresa ou ao presidente. Foi moldado na convicção de que todas as pessoas têm os mesmos direitos. Inclusive o de serem ouvidos, e de serem uma boa fonte de informação. E esse comportamento democrático também se estendia para as broncas — afinal, foi levando muitas do colunista social Ibrahim Sued que ele consolidou sua forma de fazer jornalismo. Nada pessoal, era apenas parte do jogo.
Foi graças a esse espírito aberto que nos conhecemos. Eu tinha acabado de entrar para o jornal e contei para ele uma história que havia achado engraçada, de uma então celebridade que havia achado que a Divina Comédia era um livro de humor. Para contar isso para Boechat, demorei mais tempo do que normalmente me dou. Ele ouviu, gargalhou, publicou, e dois dias depois me abraçou por causa da repercussão da nota. "Eu fico lutando para tentar antecipar queda de ministro, índice de inflação, mas você é que conseguiu dar leitura", disse. Claro que era um exagero. Boechat era exagerado nas celebrações e nas irritações, e é por isso que ainda lembro dessa história de 18 anos atrás. É por isso que ele será sempre inesquecível.
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Comentários (10)
MARIA
2019-02-12 16:24:18Um jornalista brilhante, um ser impar, extraordinario. Dificil assimilar essa perda, que deixou a todos nos aturdidos e, de certa forma, orfaos. As manhas jamais serao as mesmas sem as suas analises e comentarios, sem aquela voz tao querida e respeitada por todos. Desolador... Que continue a brilhar em outra esfera.
Sérgio
2019-02-12 15:31:36Grande jornalista, triste fim. Acredito que todos nós somos insubstituíveis, mas sempre tem uma pessoa competente para tocar o barco. Descanse em paz!!
Jose
2019-02-12 09:22:41Vai com DEUS, ainda que seja ateu Boechat. Pêsames à família e à todos nós a quem o cara procurava ser a vós. Início de ano terrível. Dá até pra desconfiar que é pesadelo ou terrorismo tudo o que está acontecendo.
Maria
2019-02-12 08:27:15E como ele dizia todas as manhãs: Toca o barco!
ADRIANO
2019-02-12 07:10:51O Ayrton Senna do jornalismo. Fará muita falta.
Renato
2019-02-12 02:10:06Gostaria que a Bandnews contratasse o William Waack ou Jose Neumanne no lugar dele, mas aposto que vai ser um petista tipo Leonardo Sakamoto ou Ricardo Kotscho
Vitor
2019-02-12 01:59:56Uma perda imensurável. Crítico ácido dos maus elementos e perseguidor incansável de justiça. Fará muita falta e já nos deixa saudades. Dia triste...
Francisco
2019-02-12 01:51:13Insubstituível, no jornalismo brasileiro!
Lucia
2019-02-11 23:37:33O homem comum perdeu a sua voz! Ele dizia na lata o que todos nós queremos dizer e não temos como. É uma grande perda pra todo cidadão brasileiro de bem, porque ele era nosso aliado - um aliado diário - na luta contra o mau-caratismo e a corrupção.
Jairo
2019-02-11 21:40:09Uma dor compartilhada por todos nós que nos acostumamos com a sua inteligência, autenticidade e profissionalismo.