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Quem é o “Cabo Daciolo” da Argentina e por que o seu bastião importa

Um fenômeno marcante das últimas duas eleições presidenciais no Brasil foi a ascensão dos “candidatos memes”, Cabo Daciolo e, mais recentemente, Padre Kelmon. A eleição da Argentina neste ano também tem o seu e ele se chama Juan Schiaretti. Atual governador de Córdoba, uma das principais províncias argentinas em economia e demografia, Schiaretti foi o...

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Caio Mattos, De Buenos Aires
6 minutos de leitura 07.11.2023 15:41 comentários 2
Quarto colocado no primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina de 2023, Juan Schiaretti discursa a seus partidários logo após o resultado da votação, em Córdoba - 22/10/2023. Reprodução/@JSchiaretti

Um fenômeno marcante das últimas duas eleições presidenciais no Brasil foi a ascensão dos “candidatos memes”, Cabo Daciolo e, mais recentemente, Padre Kelmon. A eleição da Argentina neste ano também tem o seu e ele se chama Juan Schiaretti.

Atual governador de Córdoba, uma das principais províncias argentinas em economia e demografia, Schiaretti foi o quarto colocado do primeiro turno, em 22 de outubro. 

Ele obteve 1,8 milhões de votos, ou quase 7% dos votos válidos. Mais importante, ele quase dobrou a sua quantidade de votos desde as primárias, a prévia do primeiro turno realizada em agosto. 

Esses votos vieram principalmente às custas do libertário Javier Milei e da terceira colocada, a macrista Patricia Bullrich. Se antes, nas primárias, a maioria do eleitorado de Schiaretti estava em Córdoba, o governador passou a ter dois terços de seus votos de fora da província no primeiro turno.

Não há estudos científicos que apontem os principais fatores para a evolução de Schiaretti, mas é inegável o impacto dos memes.

“A mudança mais importante na campanha de Schiaretti no primeiro turno não veio da campanha dele mas por parte da população com os memes”, diz Nicolás Rotelli, professor de ciências sociais da Universidade Argentina da Empresa (Uade)

“Os memes deram uma visibilidade inédita ao candidato e às suas propostas, como a questão da desigualdade nos subsídios para a Grande Buenos Aires em relação ao interior do país”, acrescenta.

O governador chegou ao estrelato nas redes sociais depois de sua performance no primeiro debate presidencial televisivo, em 1º de outubro. A estratégia de Schiaretti foi vangloriar a sua gestão em Córdoba. Ele comanda o governo da província desde 2015 e teve uma passagem anterior, entre 2007 e 2011.

Durante o debate, o governador também tentou desviar o foco do debate para uma comparação entre a situação argentina e a cordobesa. 

Desde então, muitos internautas ironizaram a supervalorização que o governador fazia de Córdoba. Até mesmo canais televisivos de notícias entraram na onda dos memes de Schiaretti.

Segundo Rotelli, os memes, que estiveram fora do controle da campanha de Schiaretti, lhe deram uma vantagem em relação à comunicação política tradicional.

“O meme gera riso, distração e estimula o compartilhamento entre as pessoas, diz Rotelli, enquanto que a comunicação política tradicional segue pensando em termos unidirecionais e centrados na oferta do candidato e não na demanda da sociedade.

Schiaretti chegou a publicar um vídeo nas redes sociais para capitalizar ainda mais os memes.

 Voto de Córdoba

Schiaretti ainda não declarou apoio oficial a nenhum presidenciável no segundo turno. Javier Milei e o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa, decidem a eleição em 19 de novembro.

O governador, que nem se pronunciou sobre o libertário, alfinetou Massa. Ele atribuiu ao ministro-candidato responsabilidade em uma ação legal da vice-presidente da nação, Cristina Kirchner, movida na Suprema Corte contra o avanço de processos de corrupção pelos quais ela responde. 

“Mais uma vez quero tornar público meu repúdio categórico ao suposto impeachment do STF promovido pelo governo kirchnerista do ministro Sergio Massa”, publicou Schiaretti no X, rede social anteriormente conhecida como Twitter.

Schiaretti tem problemas com Massa desde que o ministro abandonou a aliança de peronistas antikirchnerista no final da década passada, para se juntar a Alberto Fernández e Cristina Kirchner, primeiro na base legislativa e depois no governo.

O governador cordobes representa uma linha do peronismo crítica dos kirchneristas. Esta ruptura, mais geral, remonta à tentativa do governo de Cristina em 2008 de aumentar a carga tributária sobre as exportações do agro. 

As principais características dessa linha de Schiaretti é a defesa dos interesses das províncias e a intolerância para com o aparelhamento das instituições do Estado.

Independentemente do governador e de um eventual posicionamento no segundo turno, o eleitorado de Córdoba, que representa quase 9% do voto nacional, tem uma forte tradição antikirchnerista.

Massa foi o quarto colocado em Córdoba na primeira volta. Ele ficou atrás de Milei, Schiaretti e Bullrich, nesta ordem. 

Nas eleições presidenciais de 2015, Córdoba foi fundamental para a vitória de Mauricio Macri sobre o peronista Daniel Scioli, hoje embaixador da Argentina no Brasil. Macri obteve mais de 70% dos votos da província no segundo turno na ocasião.

Córdoba no segundo turno

Há 1,8 milhões de votos de Schiaretti que estão em disputa neste segundo turno e independem de eventual posicionamento do governador — por coincidência o número equivale à vantagem que Massa teve sobre Milei no primeiro turno. 

Do total de votos do governador, cerca de 665.000 estão em seu bastião político. Gustavo Córdoba, diretor do instituto de pesquisa eleitoral Zuban Córdoba, prevê vantagem para Milei na província. 

“Temos notado em geral que o eleitor de Schiaretti dentro de Córdoba se divide em 50% para Milei e 40% para Massa”, diz o analista. Os restantes 10% tendem à abstenção.

“Vemos que a maioria dos eleitores em Córdoba já estão definidos. Então, o mais eficiente para Massa é tentar desmobilizar os eleitores em geral para cair o nível de participação na província. Para Milei, ele deve reter os votos que tem”, acrescenta.

Em contrapartida, os votos de Schiaretti fora da província, ou 1,2 milhão de votos, favorecem a Massa em até 90%, estima Gustavo Córdoba. 

As duas províncias em que o governador teve mais votos no primeiro turno fora de Córdoba foram Buenos Aires, com 367.000 votos, e Santa Fé, 183.000 votos. Ambas têm tradição peronista, em especial a província de Buenos Aires, que concentra mais de 30% do eleitorado nacional e é um bastião acima de tudo kirchnerista.


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Caio Mattos, De Buenos Aires

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Comentários (2)

Pedro Apenas Pedro

2023-11-08 08:20:18

Certa feita o apresentador Silvio Santos, respondendo a uma pergunta sobre a audiência do SBT, respondeu: "A TV só tem porcaria! Então, porcaria por porcaria assista o SBT". É isso na verdade foi a eleição do Tiririca e outros tantos palhaços da nossa política , influenciadores digitais, e celebridades instantâneas . É o voto de protesto contra tudo e "as piscinas cheias de ratos com ideias que não correspondem aos fatos".


Carlos Renato Cardoso Da Costa

2023-11-07 18:21:07

Vizinhos unidos em idiocracia. Bravo


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