Candidatura ao Senado poderia recolocar Evo Morales na presidência

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales (foto) teve sua candidatura ao Senado impugnada na noite desta quinta-feira, 20, pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Morales enviou uma inscrição dizendo que morava na Argentina, mas a lei boliviana exige que os candidatos tenham residência permanente de pelo menos cinco anos na Bolívia.

Morales pode ter tentado uma vaga no Senado por várias razões. A primeira explicação é a de que ele tinha um interesse genuíno em participar da democracia boliviana. O também ex-presidente da Bolívia Tuto Quiroga aventou outra ideia: a de que Morales queria o cargo de senador para obter imunidade das acusações de sedição e terrorismo. Mas há ainda uma terceira explicação: a vaga no Senado podia ser uma maneira de Morales voltar à presidência.

“Morales buscava recuperar o poder perdido com uma estratégia muito bem desenvolvida. Seu partido, o Movimento ao Socialismo, MAS, tem um voto fiel da ordem de 30%. Com uma campanha de vitimização, eles poderiam aumentar isso para mais de 40% dos votos válidos”, diz o advogado constitucionalista boliviano José Antonio Rivera.

Na Bolívia, um candidato à presidência pode ser eleito no primeiro turno se tiver mais de 40% dos votos e pelo menos 10 pontos percentuais de vantagem em relação ao segundo colocado.

“Além disso, com o atual sistema eleitoral, o MAS poderia conseguir quase metade das cadeiras no Congresso”, diz Rivera. Caso o partido conseguisse maioria parlamentar e ele tivesse uma vaga no Senado, Evo Morales poderia se tornar o presidente do Senado. Se o candidato do MAS, Luis Arce, fosse eleito presidente, ele e o vice poderiam renunciar no prazo de um ano. Como resultado, Evo Morales voltaria à presidência.

Se essa era a estratégia, ela caiu por terra nesta quinta. A sentença do TSE é definitiva. Um recurso só poderia ser feito ao Tribunal Constitucional, mas seria difícil obter uma sentença antes das eleições de 3 de maio.