Bolsonaro escala irmão para resolver pendenga entre clubes de Santos e a União

O presidente Jair Bolsonaro escalou seu irmão, o comerciante Renato Bolsonaro, para resolver um imbróglio em Santos. Ofícios internos do Ministério da Economia mostram que o irmão do presidente tem atuado em defesa de três clubes da cidade do litoral paulista: o Portuários, a Portuguesa Santista e o próprio Santos Futebol Clube. Nos três casos, a atuação de Renato Bolsonaro tem a finalidade de evitar que a Secretaria do Patrimônio da União, a SPU, retome áreas que esses clubes ocupam, mas que pertencem à União.

Há decisões judiciais e pareceres do Ministério Público Federal determinando que o governo federal retome essas áreas. As determinações têm sido ignoradas, em boa medida, devido à atuação do irmão do presidente. “Em recente visita do nosso Presidente Excelentíssimo Senhor Jair Messias Bolsonaro a Santos, o mesmo se sensibilizou com a situação dos Clubes da Cidade no tocante às áreas da União que os mesmos ocupam e designou o sr. Renato Bolsonaro para resolver a questão”, afirma o presidente do Portuários, Marcio de Carvalho Felipe, em ofício de 10 de fevereiro.

O documento é um agradecimento ao governo, após a SPU ter sinalizado que iria se empenhar, a partir do empurrão de Renato, para resolver a situação. A Justiça já havia determinado que o clube teria de devolver a área ainda neste ano.

Já a intermediação de Renato em favor do Santos começou ainda na gestão do ex-presidente do clube Orlando Rollo. No final de dezembro do ano passado, Rollo teve uma reunião de uma hora com o presidente Bolsonaro sobre o assunto.

“Eu conversei com o presidente Bolsonaro quando ele esteve aqui em dezembro (…) E aí a gente juntou os presidentes e os representantes dos clubes e demos encaminhamento através do Renato Bolsonaro, já que ele foi indicado pelo presidente”, disse o presidente do Santos a Crusoé.

A SPU vinha determinando, desde 2017, que o Santos desocupasse a área do Centro de Treinamento Rei Pelé. A primeira notificação ocorreu no dia 26 de setembro daquele ano, baseada no inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal, que diz que o clube “não vem cumprindo o pacto de uso social do terreno”. Depois da entrada de Renato Bolsonaro em campo, no entanto, o cenário mudou. O próprio secretário Nacional de Coordenação e Governança da SPU, coronel Mauro Filho, foi a Santos para se reunir com os clubes, em fevereiro e abril deste ano, a fim de encontrar uma solução.