'Bolsonaro é um dos líderes mundiais que mais tem a perder com Biden', diz Ian Bremmer, da Eurasia
O cientista político americano Ian Bremmer (foto), fundador e presidente da consultoria Eurasia, acredita que o presidente Jair Bolsonaro é um dos líderes que mais tem a perder com a posse do democrata Joe Biden, em janeiro. Ao continuar reagindo de maneira agressiva às críticas internacionais sobre o desmatamento na Amazônia, Bolsonaro pode gerar problemas...
O cientista político americano Ian Bremmer (foto), fundador e presidente da consultoria Eurasia, acredita que o presidente Jair Bolsonaro é um dos líderes que mais tem a perder com a posse do democrata Joe Biden, em janeiro. Ao continuar reagindo de maneira agressiva às críticas internacionais sobre o desmatamento na Amazônia, Bolsonaro pode gerar problemas para as exportações brasileiras, afirma Bremmer nesta conversa com Crusoé:
Jair Bolsonaro não reconheceu a vitória de Joe Biden. O que podemos esperar da relação entre Brasil e Estados Unidos nos próximos anos?
Não há dúvida de que Bolsonaro é um dos líderes que mais tem a perder em um governo Biden. Ele publicamente apoiou Donald Trump e não reconheceu a vitória do democrata. A equipe de Biden certamente está assistindo a isso. Mas não acho que Biden vai dar as costas para o Brasil. Ele tem uma tremenda experiência em política externa e vê a relação com o Brasil e a América do Sul como estratégica. Ele não é uma pessoa tática, como Trump, que reagiria imediatamente em uma situação como essa. Especialmente considerando que há uma competição geopolítica com a China na região, Biden não deve se manifestar.
O que pode acontecer?
A maior consequência negativa para Bolsonaro pode ser em relação às políticas ambientais. O brasileiro é visto como um vilão no palco internacional, especialmente no que se refere ao desmatamento na Amazônia. Biden fez campanha falando em reduzir as emissões de carbono e em fazer uma transição para energias renováveis. Vai entrar no Acordo de Paris assim que tomar posse. Biden precisa muito disso. É essa a principal coisa que ele poderá oferecer para a ala mais progressista do partido. E isso é um problema real para Bolsonaro. O desmatamento na Amazônia deverá acelerar na estação seca de 2021, o que leva a crer que a crítica internacional vai subir muito. A mentalidade de Bolsonaro é fechada. Ele tem reagido muito mal aos questionamentos de fora. Autoridades brasileiras estão falando que há um interesse econômico em prejudicar as exportações ou em minar a soberania brasileira. E há poucos dias Bolsonaro falou que, quando a saliva acabar, é preciso ter pólvora. Essa retórica agressiva não ajuda. Se continuar assim, o Brasil poderá sofrer com tarifas mais altas para exportações agrícolas ou outros obstáculos econômicos.
Quais outros líderes mundiais também têm a perder com o governo de Biden?
Os sauditas estão entre eles. A primeira viagem de Trump para fora dos Estados Unidos foi para a Arábia Saudita. O interesse de Biden em manter uma grande presença militar no Oriente Médio vai diminuir. Ele vai reduzir os gastos militares na região e deve se aproximar de outras potências para conseguir um acordo nuclear com o Irã. Biden dará menos importância para os combustíveis fósseis, o que também será ruim para os sauditas. Países com governantes autoritários, como Rússia, Turquia e Hungria, também devem perder por não compartilhar os mesmos valores de Biden. Trump tinha uma boa relação com os governantes dessas nações, enquanto Biden deve se orientar por questões de interesse nacional e de segurança.
O que esperar da relação entre Estados Unidos e América Latina?
Biden conhece a região muito mais do que Trump. Ele foi escolhido por Barack Obama para cuidar da América Latina e fez várias viagens como vice-presidente. Ele será muito mais pragmático e focará mais em esforços multilaterais. Evitará ações unilaterais ao lidar com imigração ou com a crise na Venezuela. Mas seu multilateralismo será um pouco mais protecionista que o de Obama, particularmente nas questões comerciais. Não vejo Biden avançando muito em questões de livre comércio. Ele não tentará retomar a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) e não avançará em um acordo de livre comércio com o Brasil. Vai continuar a pressionar países da região em relação à tecnologia 5G, assim como deve manter as promessas de ajuda financeira para reduzir a influência chinesa.
Trump seguirá controlando o Partido Republicano, mesmo após deixar a presidência?
Ele certamente terá muita influência. A menos que Trump vá parar na prisão, o que também é possível, ele seguirá como uma das principais figuras do Partido, com mais seguidores. Basta ver que muitas pessoas ficaram do lado dele durante o processo de impeachment e muitos senadores republicanos se recusaram a dizer que Biden ganhou, apesar de todo mundo saber que o democrata venceu a eleição. Trump é uma pessoa do setor de entretenimento e vai fundar uma companhia de mídia. Ele vai falar diretamente para as pessoas e participará de comícios, o que dará a ele muita influência. Mesmo que Trump minta sobre sua intenção de se candidatar em 2024, essa possibilidade dará a ele mais capacidade para ganhar dinheiro. É isso o que importa para ele.
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Comentários (4)
Lourival
2020-11-15 08:19:17Obana disse que Lula, o cachaceiro multi condenado que está nas ruas pelo compadrio com seus semelhantes togados, era " o cara " NO que isso beneficiou o Brasil? Nos delírios de sempre, a " alma mais honesta " do Brasil vomitou que pegou o telefone e espinafrou o Bush. No que isso nos favoreceu? Com Trump na Casa Branca, o que isso fez vida fácil para o Brasil, essencialmente? Pessoas usam as redes sociais para destilar ignorância e satisfazerem os egos tortos. Acéfalos!
Rubens
2020-11-14 18:08:48Líder Mundial, onde é esse Mundo?
Jose
2020-11-14 17:14:48Bolsonaro, líder político? Kkkkkkkkkk. Menos, menos..Ele é só um néscio sendo seguido por um grupo de beócios delinquentes!
Paulo
2020-11-14 16:56:42PC. Excelente.