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Análise: Por que a prisão de Queiroz torna mais frágil a situação de Jair Bolsonaro

18.06.20 08:58

Com o Palácio do Planalto já emparedado por investigações que lhe são enormemente incômodas, como as do Supremo Tribunal Federal, que avançam sobre a militância radical bolsonarista e a rede de financiamento por trás dela, a operação desta manhã que prendeu Fabrício Queiroz no interior de São Paulo tende a deixar ainda mais sensível a situação do presidente Jair Bolsonaro.

O fato de Queiroz ter sido preso em uma propriedade de Frederick Wassef, que além de advogado formal de Flávio Bolsonaro se apresenta nos salões de Brasília como defensor do próprio Jair Bolsonaro, traz em si uma pergunta cuja resposta pode ser devastadora, não só do ponto de vista criminal como também do ponto de vista político: em que medida a família presidencial está ligada à estratégia de esconder Queiroz para garantir seu silêncio?

De acordo com autoridades envolvidas na operação, Queiroz estava recolhido na casa de Wassef em Atibaia havia ao menos um ano. Outra questão que agora será naturalmente esclarecida e pode trazer danos ainda maiores ao clã Bolsonaro diz respeito ao financiamento da estrutura destinada a manter Queiroz calado.

Quem estava bancando Queiroz? Para além do abrigo físico na casa do advogado, o ex-assessor estava sendo bancado financeiramente por pessoas próximas do presidente? A família Bolsonaro estava por trás dessa estrutura? Ou, ainda que não estivesse, o presidente e seu filho senador ao menos sabiam do estratagema? Tudo isso tende a ficar claro muito em breve.

Muito provavelmente, haverá uma tentativa de circunscrever a Frederick Wassef o socorro a Queiroz. Mas será difícil descolar o advogado da figura do presidente da República. Ao seu estilo, bastante espaçoso e barulhento, Wassef é uma figura da cozinha dos palácios presidenciais. Ele circula com desenvoltura pelo Planalto e tem acesso livre também ao Alvorada, a residência oficial. Não raro, se reúne com o presidente em finais de semana e fora de agenda. No auge da crise na Polícia Federal, em abril, por exemplo, lá estava ele conversando com Bolsonaro, em pleno domingo.

Outro dado capaz de complicar Bolsonaro diz respeito ao próprio Fabrício Queiroz. Por mais que ele tenha ganhado fama como ex-assessor do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, a ligação original de Queiroz com a família se dá por meio do próprio Jair Bolsonaro (na foto acima, os dois aparecem pescando juntos). Queiroz se torna assessor do filho porque era amigo do peito do pai. Ele e Bolsonaro se conheceram no Exército, onde foram colegas de farda, e mantiveram a amizade. Mais do que assessor ou motorista de Flávio, Queiroz é homem de confiança do hoje presidente.

Por tudo isso, é certo que a já turbulenta crise que engolfa Bolsonaro e o Planalto se multiplicará algumas vezes a partir da manhã desta quinta-feira.

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