Adriano Machado/Crusoé

O novo estilo de Bolsonaro na articulação com o Congresso

23.07.20 15:58

Ao destituir Bia Kicis, do PSL do Distrito Federal, da vice-liderança do governo no Congresso, Jair Bolsonaro (foto) deu uma das mais claras provas de sua mudança de postura na articulação política com o parlamento. Para líderes ligados ao Executivo, o presidente da República mostrou que busca se descolar do radicalismo e que não será mais condescendente com insubordinações. “Quem está na liderança tem de caminhar no sentido de agregar e, não, de desagregar. Essa será a pedra de toque daqui para frente na base do governo”, disse um congressista em reservado a Crusoé.

Bia foi dispensada do cargo após se opor à proposta de Emenda à Constituição que remodela o Fundeb, principal fundo de financiamento da educação básica no país. Com a falta de diálogo da gestão Abraham Weintraub, o governo entrou tarde na discussão sobre o projeto, iniciada há mais de um ano, e não conseguiu viabilizar grandes alterações. Ainda assim, havia orientado voto “sim” ao texto.

De acordo com deputados, na reunião em que a liderança do governo fechou posição favorável à PEC, Bia não adiantou que votaria no sentido contrário. A “omissão” irritou o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo, e, principalmente, o presidente, que acabou atingido pelos respingos da repercussão negativa do posicionamento de uma de suas mais fiéis aliadas.

A resposta de Bolsonaro veio a jato — a votação da PEC ocorreu na terça-feira, 22, e a destituição foi publicada no Diário Oficial da União do dia seguinte. Deputados ligados a Bia dizem que a parlamentar está “surpresa”, porque imaginava que seu “crédito” com o presidente a resguardaria. A expectativa é de que o nome do substituto seja anunciado na próxima terça-feira, 28, quando integrantes da liderança têm uma reunião marcada com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Ramos. Congressistas ainda esperam mais trocas.

A dispensa de Bia Kicis dá continuidade a uma dança das cadeiras no parlamento iniciada por Bolsonaro há duas semanas. Em 9 de julho, o chefe do Executivo trocou quatro vice-líderes do governo na Câmara — a lista incluía Daniel Silveira e Otoni de Paula, dois alvos do inquérito em trâmite do Supremo Tribunal Federal que investiga a promoção e o financiamento de atos antidemocráticos. 

No lugar deles, entraram nomes do PTB, do Podemos e do PSC, em um sinal claro da nova postura de Bolsonaro e da investida pela ampliação de sua base. Na nova leva, o presidente da República priorizou parlamentares com bom trânsito no Congresso e de perfil mais ‘light’, sem histórico de ataques ao Congresso e ao STF.

Com a nova estratégia, Bolsonaro quer abrir caminho para a aprovação de projetos prioritários da gestão após seguidas derrotas no parlamento. “Daqui para frente, a gente inaugura uma nova etapa, uma nova forma de trabalhar. Por exemplo, em relação à reforma tributária, nós temos a garantia de que haverá uma interlocução forte entre governo e Câmara para montar o melhor texto”, analisou outro deputado.

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