A decisão que apaga os rastros da Odebrecht no Judiciário
Anuladas pela Justiça Federal em Brasília, as provas colhidas pela Operação Carbonara Chimica, a 63ª fase da Lava Jato, eram tidas como um dos mais férteis caminhos abertos pela força-tarefa do Paraná para investigar supostos crimes da Odebrecht no Judiciário. Para além de livrar ex-ministros petistas, a decisão devolve a chefões jurídicos da empreiteira um...
Anuladas pela Justiça Federal em Brasília, as provas colhidas pela Operação Carbonara Chimica, a 63ª fase da Lava Jato, eram tidas como um dos mais férteis caminhos abertos pela força-tarefa do Paraná para investigar supostos crimes da Odebrecht no Judiciário. Para além de livrar ex-ministros petistas, a decisão devolve a chefões jurídicos da empreiteira um vasto material apreendido pela PF e ainda impede que os documentos sejam anexados a outros inquéritos.
Deflagrada em agosto de 2019, a Carbonara Chimica tinha como base a delação de Marcelo Odebrecht sobre supostos pagamentos a políticos, entre eles os ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci, para influenciá-los na edição das medidas provisórias 470 e 472, que concederam benefícios fiscais à Braskem, o braço petroquímico da empreiteira. Também foram alvos os advogados Nilton Serson e Maurício Ferro. Este último é genro de Emílio Odebrecht e ex-vice-presidente jurídico da empreiteira -- como tal, era responsável por cuidar dos assuntos mais espinhosos do grupo nos tribunais.
A denúncia decorrente dessa fase da operação foi oferecida, inicialmente, pela Lava Jato em Curitiba. No entanto, tudo o que dizia respeito a ela foi transferido depois para a Justiça Federal em Brasília em razão sob o argumento de que não havia conexão com os crimes praticados na Petrobras. Recentemente, o juiz federal Marcus Vinícius Reis Bastos já havia rejeitado a denúncia contra todos os acusados em uma ação decorrente da investigação. Agora, alegando que a operação foi realizada por decisão de um juiz incompetente para conduzir o caso, ele afirmou que as provas são "nulas" e "ilícitas". Ele rejeitou pedidos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para validar as provas após terem sido enviadas a Brasília.
Tanto Nilton Serson quanto Maurício Ferro nunca delataram, mas guardam segredos sobre as relações da Odebrecht no Judiciário. Essa é uma frente que passou ao largo da gigante colaboração premiada dos executivos da companhia. Na casa do ex-chefão jurídico da Odebrecht foram encontradas diversas chaves de criptografia que ajudavam a decifrar o sistema do departamento de propinas da empreiteira. Ele também mantinha um saldo milionário em contas na Suíça.
Serson chegou a receber 78 milhões de reais da Odebrecht. Os investigadores descobriram, ainda, que o advogado foi destinatário de um pagamento de 2 milhões de reais em um contrato que, em seu escopo, previa "monitoramento/manutenção dos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal", sem dar mais detalhes de como essa atividade seria desempenhada.
Ferro é um personagem essencial de relatos feitos recentemente à Lava Jato por Marcelo Odebrecht a respeito de ministros do Judiciário. Na edição 124, Crusoé mostrou o que o executivo falou, por exemplo, sobre sua relação com o ministro Dias Toffoli. O depoimento tratava de pagamentos a advogados próximos do ministro para manter uma relação com ele à época em que ocupou a Advocacia-Geral da União. Marcelo também relatou tentativas de aproximação com ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Nos depoimentos, o empreiteiro deixava claro que Ferro, de quem virou inimigo figadal, é um personagem crucial para a Lava Jato caso a operação esteja interessa em avançar sobre as ligações da empreiteira com o Judiciário. A Procuradoria-Geral da República, até onde se tem notícia, nunca pediu uma investigação sobre os magistrados. Procuradores que ouviram Marcelo deixaram o Grupo de Trabalho da Lava Jato por discordar da postura de Augusto Aras em relação às investigações. Com a nova decisão da Justiça Federal de Brasília, apagam-se -- provavelmente em definitivo -- importantes rastros.
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Comentários (10)
Lino
2021-02-21 10:26:54A Lava Jato, dsd o início, vem sofrendo ataques de gente graúda.Dpois da degola do Moro como ministro nada mais impede que o Brasil retorne ao status quo ante, com o establishment assumindo novamente o controle das coisas.Ainda vão conseguir transformar os mocinhos em bandidos e vice e versa.Tlvz pela miopia do povo brasileiro, que só consegue enxergar o que lhe esfregam na cara.E tem quem ainda acredite no velho discurso do "ou eles voltam"!Pra que?Não precisam voltar, o atual se mostrou capaz.
Claudio
2021-01-19 12:48:21Juízes milionarios ,vendedores de sentença;;Isso é praxe no BR!!!
MAURICIO
2021-01-19 08:15:02Lamentável. isso comprova o quão corrupto é nosso judiciário,cujo qual anda de mãos dadas com o crime. Um país com um Judiciário desses nunca será honesto.
DAISY
2021-01-18 11:24:56Precisamos arquivar todos os nomes dos servidores que traem os interesses do país, para acobertar amigos ou parceiros. Uma justa Lista Negra de que não faz jus ao cargo que ocupa... Para, no futuro, cobrar - numa verdadeira Justiça - o prejuízo causado aos cofres públicos.
Vera
2021-01-18 10:12:11QUADRILHAS PREMIADAS - OS SAQUES AO PAÍS CONTINUARÃO. CRIME SÓ NÃO COMPENSA PARA OS INCAPAZES DE ARCAR COM OS ALTOS CUSTOS DAS QUADRILHAS TOGADAS.
Francisco MTGD
2021-01-18 09:54:07E assim é o Brasil... Enquanto temos um dia histórico para comemorar no combate à epidemia, o judiciário continua nos envergonhando. Bons tempos da Lava Jato, que membros do judiciário, STF, STJ etc. fazem de tudo para destruir...
João
2021-01-18 09:48:21Essa é a nossa justiça em prol dos poderosos e corruptos.
Rosamelia
2021-01-18 03:09:52E o pior é que o povo brasileiro paga o salário desse juiz para ele , com uma simples decisão, ofender o estado, a nação e povo!
Márcia
2021-01-18 01:30:51Com um judiciário corrupto jamais deixaremos de ser um país de otários nas mãos de corruptos
Aridne
2021-01-17 23:48:38É Dr. Marcus Vinicius... não é todo juiz q nasce com coragem para desempenhar o seu papel com osvrigores da Lei! Por q o Sr. não se decidiu por uma outra faculdade? O conhecimento adquirido deveria ser sempre para realizar o bem, para enaltecer o trabalho das pessoas... neste caso, o esperado era o não à impunidade!!!!!