O que o fura-fila institucional diz sobre o Brasil
O voo 3562 da Latam para Brasília decolaria de Guarulhos às 9h30. Era terça-feira, 13 de novembro. Os passageiros mortais já se enfileiravam em frente ao portão 219. Fila longa. Muitos idosos e crianças aguardavam pacientemente o início do embarque, assim como um casal com um bebê de colo. Discretamente, um agente de segurança exibindo...
O voo 3562 da Latam para Brasília decolaria de Guarulhos às 9h30. Era terça-feira, 13 de novembro. Os passageiros mortais já se enfileiravam em frente ao portão 219. Fila longa. Muitos idosos e crianças aguardavam pacientemente o início do embarque, assim como um casal com um bebê de colo. Discretamente, um agente de segurança exibindo no cinto uma carteira de couro com o brasão da República se aproxima do portão na companhia de um senhor de meia idade que, puxando uma malinha, olha para trás sem parar, aparentemente à espera de mais alguém (foto).
O senhor, de óculos escuros espelhados, vestindo um blazer mal-cortado sobre calças jeans, nem sequer se aproxima da fila. Fica bem distante do balcão, perto do portão vizinho, vazio, enquanto o agente vai conversar com os também mortais funcionários da companhia aérea que ainda preparavam o início do embarque no 219. O homem do distintivo pede prioridade. Queria embarcar o seu "protegido" antes de todos os demais. Alguns minutos se passam. O agente vai e vem. A pessoa que a excelência aguardava finalmente chega. É uma mulher bem vestida, com uma bolsa Gucci Dionysus de 2.200 dólares a tiracolo e uma sacola de uma loja chique de sapatos.
Precisamente às 8h51, os mortais -- crianças e velhos incluídos -- ainda esperavam quando uma funcionária da Latam se dirige ao portão, levanta a fita de segurança e abre passagem para o casal. Francisco Falcão, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), entra com a mulher a passos largos, sem olhar para trás e sem qualquer constrangimento de passar à frente dos outros, inclusive daqueles a quem a lei dá preferência. Para esses e todos os demais, o embarque ainda iria começar. Prova de que o Brasil dos privilegiados resiste, firme e forte.
O fura-fila oficial, vale dizer, não é exclusividade daquele ministro. O STJ, a exemplo do Supremo Tribunal Federal, mantém nas principais cidades do país estruturas exclusivas para atender as necessidades das excelências durante viagens. Muitos ministros aceitam de bom grado o serviço, que inclui facilidades em aeroportos. Outros poucos, seguindo o exemplo de autoridades do mundo civilizado que não se importam em entrar em filas com os demais cidadãos, rejeitam o privilégio.
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Comentários (10)
Marcos
2018-11-15 20:51:38Não o conheço pessoalmente, não sou do Judiciário e nem sou advogado... Mas, por incrível que pareça, nalgumas vezes que aguardava meu vôo e o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, se encontrava nesses aeroportos, ele sempre aguardou e permaneceu na fila junto aos, digamos, mortais comuns. E mais: sempre com uma enorme simpatia, olhando e saudando a todos que lhe retribuiam o olhar. Pelo menos a mim, jamais se mostrou um mortal, digamos, superior.
André
2018-11-15 20:40:43O país das falcatruas é também o palco dos arrogantes, prepotentes e tupiniquins! Tem que ter estômago pra viver num país com tantos privilégios a tão poucos!
ROBSON
2018-11-15 20:14:15Cara, como falta consciência em muitas autoridades, demoraremos muito para seguir o exemplo da Suíça, da Holanda entre outros. O cidadão brasileiro irá ensinar os senhores detentires de poder que estão onde estão por causa dos brasileiros.
Gerson
2018-11-15 18:56:16O digníssimo senhor João Doria fez o mesmo no aeroporto Malpensa em Milão. Passou na frente de idosos e de deficientes.
Wilson
2018-11-15 15:33:00Alguns são mais iguais que os outros, na brasiléia desvairada, as pessoas prejudicadas tinham que se manifestar no momento do fato. para expor a execração pública o dito "autoridade"
Ubiratan
2018-11-15 13:12:09Confirmo! Sou testemunho.
Silvia
2018-11-15 12:05:21Depois de nomear extensa lista de parentes de juízes e desembargadores paraibanos, o governador José Maranhão (PMDB) não se deu por satisfeito e premiou nada menos do que um ministro do Superior Tribunal de Justiça com cargo comissionado no governo do Estado.Mulher do ministro Francisco Falcão, do STJ, a senhora Ana Elizabeth Bezerra de Melo Paraguai foi nomeada para o de assessora técnica da Consultoria Técnica da Secretaria de Estado de Articulação Governamental, em Brasília (2009)
Silvia
2018-11-15 11:56:25Teremos, pelo novo governo, revisão dessas "anormalidades" ? Espero que sim, pois precisamos entrar no clube dos países civilizados onde a igualdade entre todos é assunto sério!
Oscar
2018-11-15 10:14:15É o descaso com a riqueza gerada no Brasil, gasto com gente ilustre de péssima qualidade. E estes ilustres idiotas, usam o mesmo papel higiênico q qualquer um, mas eles têm o direito de DESTRUIR a riqueza do POVO. (Auto concedido)
Melania
2018-11-15 09:14:15A expectativa é que a partir de primeiro de janeiro de 2019 essas regalias tenham um ponto final.