Falar de Bolsonaro ajuda Lula
Focar na crítica ao governo e tirar o ex-presidente do debate público parece ser o caminho para quem quer ver o petista pelas costas em 2027

Diz o ditado popular que se pode esperar tudo de um político num enterro. Que ele console a viúva, carregue o caixão, puxe a reza e sirva café. A única coisa que ele não faz é pular na cova junto ao morto.
Reconheço que essa metáfora, em um texto sobre a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, não é de bom gosto. Mas ela cumpre a função de retratar a situação pedida pelo clã aos seus eleitores e aliados.
Hoje está claro que a estratégia de recorrer a um país estrangeiro por auxílio foi demais. Está implícito no movimento feito por Eduardo Bolsonaro uma lógica de rompimento institucional que a maioria da população, o sistema político e, agora, o próprio Donald Trump sinaliza não querer fazer.
Sendo costurada “dentro das quatro linhas”, a anistia seria uma sinalização do Centrão ao bolsonarismo com sentido de única solução possível.
A radicalização em torno tema (ampla, geral e irrestrita), no entanto, criou mais um jogo de tudo ou nada que fez o projeto subir no telhado.
Por fim, os setores políticos não petistas também começaram a se questionar se todo esse debate em torno de Bolsonaro não teve como único resultado o fortalecimento de Lula.
A hipótese nasce de uma inferência simples.
Lula estava nas cordas e foi revivado pelas polêmicas listadas acima. No limite, a atuação do clã Bolsonaro deu ao atual presidente a chance de requentar a campanha de 2022, só trocando “democracia” por “soberania”.
Esse debate desviou o olhar da opinião pública das mazelas do modelo econômico, da taxa de juros a 15%, dos aumentos de impostos (27 desde a posse), da fragilidade parlamentar, do escândalo do INSS e da tragédia fiscal do país.
Ao derrubar a MP 1303, o Congresso parece ter voltado à forma e compreendido que paralisar a agenda em função de Bolsonaro foi extremamente útil a Lula. A oposição tem, assim, a chance de recalibrar sua atuação e focar na crítica no que importa aos olhos da maioria das pessoas.
O tema Bolsonaro não será completamente abandonado. Deve-se lembrar que ele apertará o botão da bomba atômica para a direita se decidir não apoiar ninguém em 2026 e pregar a abstenção, deixando o caminho completamente livre para Lula ser reeleito.
No entanto, está claro que ficar amarrado com o ex-presidente dentro da sua prisão domiciliar tão pouco é uma opção porque, hoje, tudo o que se refere a Bolsonaro parece alimentar a força de Lula.
Focar na crítica ao governo e tirar Bolsonaro do debate público parece sem muitas dúvidas ser o caminho para quem quer ver Lula pelas costas em 2027.
Essa realidade já deve estar claríssima para os líderes do Centrão, políticos experientes na arte de frequentar enterros políticos e sair vivo de lá.
Leonardo Barreto é cientista político
Instagram: leobarretobsb
As opiniões dos colunistas não necessariamente refletem as de Crusoé e O Antagonista
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (1)
Albino
2025-10-10 07:26:17Que assim seja...