Narcisismo e psicopatia explicam sinalização de virtude, diz estudo
Pesquisa mostra como traços manipuladores alimentam hipocrisia em figuras públicas e corporações
Um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology pelos pesquisadores Ekin Ok, Yi Qian, Brendan Strejcek e Karl Aquino, da Universidade da Colúmbia Britânica, revelou que indivíduos com traços de narcisismo, maquiavelismo e psicopatia – a chamada "Tríade Sombria" – são mais propensos a adotar comportamentos de vitimismo e sinalização de virtude. Essas táticas são usadas para manipular a percepção social e garantir benefícios pessoais, como cargos, popularidade ou dinheiro.
A sinalização de virtude envolve a exibição pública de valores morais, muitas vezes para ganhar prestígio, sem que haja um comprometimento real com esses valores. Já o vitimismo ocorre quando a pessoa se coloca como vítima de injustiças para conquistar simpatia e evitar críticas. A combinação dessas duas estratégias aumenta a probabilidade de manipulação, convencendo outras pessoas a apoiar ou oferecer recursos ao sinalizador.
Indivíduos com narcisismo, caracterizados por uma necessidade exagerada de admiração, maquiavelismo, que envolve manipulação calculada e exploração dos outros, e psicopatia, marcada pela ausência de empatia e remorso, utilizam essas táticas para evitar responsabilizações por suas ações antiéticas. O estudo revela que a combinação de vitimismo e falsa virtude cria uma "imunidade moral", permitindo que esses indivíduos escapem de críticas.
A hipocrisia entre figuras públicas é comum. Celebridades e políticos que apoiam causas sociais publicamente, mas não praticam o que pregam, ilustram esse padrão de comportamento. Corporações que se promovem como ecologicamente corretas, mas continuam utilizando práticas prejudiciais ao meio ambiente, também demonstram essa manipulação.
Um exemplo emblemático de hipocrisia moral foi Harvey Weinstein. Publicamente, Weinstein se apresentava como defensor dos direitos das mulheres, mas acabou condenado por abuso sexual de dezenas de atrizes e colaboradoras. O caso de Weinstein foi fundamental para o surgimento do movimento #MeToo, expondo como figuras poderosas podem esconder comportamentos abusivos enquanto constroem uma imagem de virtude.
Recentemente, o ex-ministro dos Direitos Humanos do Brasil, Silvio Almeida, foi demitido após várias acusações de assédio sexual, que envolveram ex-alunas e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. As denúncias revelaram uma desconexão entre o discurso público de Almeida, defensor dos direitos humanos, e suas ações privadas. O caso gerou grande repercussão e levou à sua demissão sumária.
A primeira-dama, Janja da Silva, manifestou apoio público a Anielle Franco, o que aumentou a pressão sobre Almeida. Além disso, o ex-ministro não recebeu apoio público de figuras de peso do governo, o que sugere que as evidências contra ele são consistentes. A ausência de defesa e a demissão rápida indicam que as acusações possuem bases sólidas, prejudicando qualquer tentativa de Almeida de se vitimizar diante da opinião pública.
O estudo demonstra como traços de narcisismo, maquiavelismo e psicopatia impulsionam comportamentos manipuladores, como a sinalização de virtude e vitimismo. Embora muitos se apresentem como defensores de causas nobres, suas ações revelam a verdadeira intenção de manipular e obter vantagens.
Assim como os fariseus da Bíblia, que publicamente exibiam sua virtude enquanto praticavam o oposto, muitos hoje usam a máscara da moralidade para ocultar graves falhas de caráter, revelando que a hipocrisia moral é uma estratégia antiga, mas ainda eficaz na manipulação social.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)