Alexandre de Moraes salvou a nossa democracia?
Não há mais dúvida de que Jair Bolsonaro e seus comparsas, civis e militares, tinham intenção golpista (à moda antiga mesmo, com tropas nas ruas). No entanto, é muito duvidoso se suas tentativas de desfechar um golpe ou um autogolpe, se tivessem se concretizado, seriam bem-sucedidas, com a instalação de uma ditadura militar de extrema...
Não há mais dúvida de que Jair Bolsonaro e seus comparsas, civis e militares, tinham intenção golpista (à moda antiga mesmo, com tropas nas ruas). No entanto, é muito duvidoso se suas tentativas de desfechar um golpe ou um autogolpe, se tivessem se concretizado, seriam bem-sucedidas, com a instalação de uma ditadura militar de extrema direita no Brasil. Não é assim que funciona na atualidade, sobretudo em países complexos, com instituições democráticas funcionando.
Não foi assim o caminho de autocratização percorrido pela Hungria de Orbán, nem pela Turquia de Erdogan, para não falar das investidas autoritárias de Trump nos EUA. Hungria, Turquia, EUA e Brasil não são Mianmar, nem Sudão.
Em sociedades complexas o processo de autocratização ocorre por erosão democrática progressiva (o que estava em curso durante todo governo Bolsonaro, desde 2019 e não apenas nas articulações alopradas de final do governo e na manifestação cenográfica do 8 de janeiro de 2023, cosplay do 6 de janeiro de 2021 americano, o nosso famoso "capimtólio"). Mas isso demora. Nesse caminho (o da erosão democrática), o Brasil não viraria uma ditadura da noite para o dia.
Além disso, não há uma única ameaça à nossa democracia. Temos golpistas (populistas de extrema-direita) e “erosistas” (populistas de esquerda). Os golpistas querem dar um golpe de mão para destruir as instituições democráticas. Os “erosistas” querem ocupar as instituições e controlá-las, colocando-as a serviço de um líder ou partido, usando a democracia para promover a erosão da democracia.
A erosão democrática não é promovida apenas pelos populistas de direita radical, como Orbán, Erdogan, Trump e Bolsonaro. Também contribuíram para ela os populistas de esquerda, como Hugo Chávez (que acabou ensejando a conversão do regime venezuelano em uma ditadura, com Maduro) e continuam contribuindo Obrador (México), Petro (Colômbia), Evo e Arce (Bolívia), Xiomara (Honduras), Widodo (Indonésia), Ramaphosa (África do Sul) e Lula (Brasil) que estão se alinhando às maiores ditaduras do planeta (Rússia, China, Irã etc.) contra as democracias liberais.
O STF cumpriu um importante papel naquela conjuntura, em defesa do Estado democrático de direito, mas o golpe bolsonarista não se concretizou porque faltou aos golpistas força político-militar para tanto. E porque seus potenciais apoiadores sabiam que, se tivessem logrado sucesso num "putch de cervejaria", ao estilo do século passado, muito provavelmente o novo regime não conseguiria se manter diante da pressão internacional e da reação da sociedade brasileira.
O STF combateu os golpistas. Palmas para ele. Mas nada fez ainda para frear os “erosistas”.
Então vamos parar de repetir essa narrativa de que Alexandre de Moraes (foto) salvou a democracia brasileira. Ele contribuiu para defender a ordem democrática contra os golpistas, assim como contribuíram múltiplos agentes de todas as instituições — do Judiciário, mas também do Parlamento (inclusive o chamado Centrão, que pode querer tudo, menos matar sua galinha dos ovos de ouro), da imprensa livre, das associações civis, dos militares legalistas e do novo governo que tomou posse em 2023 — que nunca foram favoráveis a um golpe de Estado à moda antiga, nem a trocar uma democracia (ainda que defeituosa) por uma ditadura de direita.
Convém repetir. Repetir a narrativa de que Alexandre de Moraes salvou a democracia brasileira é um desserviço à democracia. Não que ele não tivesse, como já foi dito, dado sua contribuição para defender a ordem democrática e sim porque cria um mito (a rigor antidemocrático) de que um herói com poder e convicções certas é capaz de substituir as instituições e a sociedade na defesa da democracia. E acaba encorajando um ator particular a se sentir suficientemente empoderado para atuar como corregedor-geral da sociedade, atropelando os ritos jurídicos e dispensando a contenção e o comedimento que cabem aos juízes em uma democracia. E, ao fazer isso, investe na erosão da nossa democracia.
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Comentários (4)
Vicente Neto
2024-05-28 16:32:12A maneira sistemática de implantar o socialismo a moda brasileira, vem sendo praticada desde os tempos do FHC (socialismo chic!), passando pelos governos Lula-Dilma (socialismo poor) e parando no Bolsonaro (direita atrapalhada!) e agora retomado pelo governo Lula metido a socialismo com protagonismo mundial, mas que não consegue nada além de gastos extraordinários em viagens inúteis mundo afora, e expondo uma politica externa sem rumo e sem nexo. Estamos a deriva!!!
ANDRÉ MIGUEL FEGYVERES
2024-05-27 15:40:46Precisamos de líderes focados na melhoria das nossas instituições democráticas. Estado mínimo. Privilégios para ninguém. Corruptos julgados e presos, com rapidez no judiciário e sem advogados pagos com dinheiro da corrupção. Aplicação de "Performance Bond" na contratação de obras públicas. Ótimo artigo Sr. Augusto de Franco!
Renata
2024-05-27 13:10:33Uma única observação: a tentativa de erosão democrática brasileira ocorreu no governo Bolsonaro como uma continuação do que já vinha de antes, não começou em 2019.
Amaury G Feitosa
2024-05-27 11:25:00Dá nojo ler semelhantes asneiras típicas da imbecilidade e do fanatismo medieval que grassa entre pseudo intelectuais iludidos, onde este idiota vive? golpe é o que está sendo dado neste país ridículo dividido entre ódio e ignorância e os ditadores acolitados prenderam ilegalmente e torturam mentalmente mais de 1500 inocentes o triplo havido no regime militar esta a triste e cruel realidade que fingem não ver ... no censor please.