Latitude#42: o resultado do experimento uruguaio com a maconha
O Uruguai legalizou o plantio, a distribuição e a venda de maconha em 2013. Desde então, habitantes do país foram autorizados a comparar a erva em farmácias, a plantar no próprio quintal ou a integrar clubes de maconha, podendo adquirir até 40 gramas de Cannabis por mês. Cerca de dez anos depois, a maconha vendida...
O Uruguai legalizou o plantio, a distribuição e a venda de maconha em 2013. Desde então, habitantes do país foram autorizados a comparar a erva em farmácias, a plantar no próprio quintal ou a integrar clubes de maconha, podendo adquirir até 40 gramas de Cannabis por mês.
Cerca de dez anos depois, a maconha vendida em farmácias precisou ser modificada. O plano inicial do governo era vender uma maconha com baixo teor de THC, para não estimular o vício e ajudar os usuários a abandoná-lo. Mais recentemente, foi preciso elevar o teor de THC, para competir com o mercado negro. "No último ano, o governo começou a vender um produto com mais efeitos psicoativos, e agora há mais pessoas comprando a maconha estatal nas farmácias", diz o jornalista uruguaio Guillermo Draper. "O argumento do governo é que eles querem roubar consumidores do mercado negro, e para isso é preciso oferecer um bom produto."
Draper é coautor do livro Marihuana Oficial: Crônica de un Experimento Uruguayo, que ele escreveu com Christian Muller Sienra.
No Uruguai, a lei da maconha foi introduzida com uma promessa de combater os crimes violentos, durante o governo de José Mujica (foto). O slogan principal era de que não era possível combater o narcotráfico com balas, porque essa era uma guerra perdida. Mas a redução de crimes não ocorreu. "Aqueles que promoviam a lei como uma solução ao crime, prometeram mais do que a lei poderia oferecer", diz Draper.
Em relação ao impacto no narcotráfico, Draper afirma que houve um aumento dos homicídios ligados ao crime organizado, mas que isso não teve relação com a legalização da maconha. Em toda a América Latina, houve um fortalecimento das organizações criminosas. "Não há dados que mostrem que essa lei diminuiu a taxa de homicídios associados ao narcotráfico, nem tampouco há argumentos de que o crescimento que estamos vendo é produto da lei", diz Draper.
Draper também comenta o fato de que o ex-presidente Mujica não acreditava na legalização. "Mujica sempre dizia que não estava de acordo com o fumo livre. No pacote inicial de medidas [contra a violência] ele até incluiu a internação compulsória de viciados, o que é algo um pouco contraditório com essa ideia de liberar o consumo. Mas essa era uma das contradições próprias do Mujica", diz Draper.
No podcast Latitude deste sábado, 9, Draper comentou os resultados da legalização no Uruguai.
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Comentários (1)
Mauro Santos
2023-09-10 21:40:15Tem um filme "Murder Mountain" no Netflix, que numa região da Califórnia as plantações da maconha sofrem disputas nas plantações e desaparecimento de trabalhadores. Será que o STF vai liberar seis plantas de maconha fêmea para decorações de ambientes?