O que a reportagem que ganhou o principal Pulitzer tem a nos dizer
O jornal The Washington Post foi premiado com o Pulitzer na categoria "serviço público", o mais importante dos prêmios, pela reportagem O Ataque, sobre o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por partidários do então presidente Donald Trump, que queriam interromper a sessão do colégio eleitoral americano que chancelaria a vitória nas...
O jornal The Washington Post foi premiado com o Pulitzer na categoria "serviço público", o mais importante dos prêmios, pela reportagem O Ataque, sobre o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, por partidários do então presidente Donald Trump, que queriam interromper a sessão do colégio eleitoral americano que chancelaria a vitória nas urnas de Joe Biden.
A reportagem, um primor jornalístico, é dividida em três capítulos -- antes, durante e depois --, com uma análise dos fatos que precederam a invasão (foto), da ocorrência em si e dos seus desdobramentos. O seu resumo está no subtítulo: "O cerco de 6 de janeiro ao Capitólio dos Estados Unidos não foi nem um ato espontâneo nem um evento isolado".
Neste momento em que o TSE enfrenta as investidas de Jair Bolsonaro, por meio de prepostos fardados, contra o sistema eleitoral brasileiro, é instrutivo ler, pelo menos, a introdução da reportagem premiada do Washington Post, para que fique ainda mais claro como está sendo preparada irresponsavelmente por aqui uma versão tropicalizada da farsa perpetrada nos Estados Unidos, depois da derrota de Donald Trump, num episódio que teve consequências trágicas e lançou uma sombra sobre a maior democracia do mundo.
Eis a introdução da reportagem do Washington Post:
"O assalto do Presidente Donald Trump à democracia americana começou na primavera de 2020, quando ele lançou uma torrente de ataques preventivos contra a integridade dos sistemas de votação do país. As dúvidas cultivadas por ele acabaram levando a um tumulto dentro do Capitólio dos Estados Unidos, quando uma turba pró-Trump esteve a segundos de encontrar o vice-presidente Mike Pence, emboscou parlamentares e vandalizou a sede do Congresso, na pior profanação do complexo desde que forças britânicas o queimaram em 1814. Cinco pessoas morreram no ataque ou logo depois, e 140 policiais foram agredidos.
As consequências daquele dia ainda estão vindo à tona, mas o que já está claro é que a insurreição não foi um ato espontâneo nem um evento isolado. Foi uma batalha em uma guerra mais ampla sobre a verdade e o futuro da democracia americana.
Desde então, as forças por trás do ataque permanecem potentes e crescentes. Trump emergiu encorajado, fortalecendo o seu domínio sobre o Partido Republicano, sustentando a sua mentira de fraude eleitoral e estimulando demandas por leis de votação mais restritivas e investigações sobre os resultados de 2020, mesmo que tenham sido repetidamente confirmados por análises de cédulas e tribunais. Uma profunda desconfiança no processo de votação se espalhou, abalando a base sobre a qual a experiência americana foi construída -- a crença compartilhada de que os líderes da nação são eleitos de forma livre e justa."
Eu ainda acho que a democracia americana saiu mais forte do episódio e resistirá às forças ocultas que contra ela atentam, mas é indubitável que a erosão dos seus pilares permanece visível. No caso do Brasil, onde a democracia não tem a mesma solidez da dos Estados Unidos, a erosão pode resultar não em golpe exitoso -- como já disse, as condições para um golpe não estão reunidas --, mas em marcas ainda mais profundas do que as americanas. Marcas pelas quais também poderemos pagar um preço alto cobrado por oportunistas que hoje militam do lado oposto ao de Jair Bolsonaro. No campo da liberdade de expressão, já estamos pagando, aliás.
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Comentários (10)
José Otávio Cesar Ramos
2022-05-12 07:08:29Ter ganho o Pullitzer não diz muito, além do que há fragilidades no sistema de votação, talvez não numa dimensão exagerada mas dizer que é perfeito? Acho que o Verdevaldo também ganhou esse prêmio, se Crusoe seguir essa lógica tudo que saiu sobre as transcrições da Lavajato era verdade
ATÍLIO DE SOUZA BORGES
2022-05-10 12:52:27O que mais entristece é a covardia e vulnerabilidade de nossa classe política, por falta de coragem de apoiar uma 3ª via para enfrentar as atuais alternativas desastrosas para o País. Não temos dúvidas de que a Democracia está em cheque! Sou contemporâneo do Regime Ditatorial e, ele não tão ruim quanto verbalizam, desde que dirigido por alguém consciente, responsável e justo. Não com estes incapacitados que estão pretendendo-a, descaradamente!
riqueta sarfatis dayan
2022-05-10 07:58:16Não é normal os juízes do supremo terem devolvido o Lula ao pobre povo brasileiro limpo e livre pra falar todas as asneiras possíveis e fazer propaganda política descarada antes da hora. Da pra acreditar em juízes dessa turma organizando eleições de forma imparcial ?
Paulo Ferreira
2022-05-10 07:41:56O parágrafo que vc mostra me faz pensar: “será que o jornalista me toma por idiota?” Trás o spoiler dos fatos que vai narrar sob a sua própria ótica. Confio mais no Miss Universo que no Pulitzer atual.
Delei
2022-05-10 06:24:05A junção da degeneração dos três poderes levam a uma crise que pode se aprofundar e muito ainda.
luiz antonio-rj
2022-05-10 06:18:52Não seria de todo mal uma revolta popular, já que não temos uma justiça decente em um congresso idem.
Sillvia2
2022-05-09 22:05:59Mário Sabino, vigiando, denunciando e recusando ofensas à Democracia, venham da esquerda ou da direita, como vocês da CRUSOÉ fazem o tempo todo!
MATEUS PEREIRA DA SILVA
2022-05-09 21:46:07Perfeito 👏👏
Daniela Freitas
2022-05-09 20:41:52Muito importante repercutir bom jornalismo, de onde quer que seja. E excelente análise, como sempre.
André
2022-05-09 20:28:18Se Bolsonaro forçar a barra, será preso e julgado, junto c/ seus filhos.