Emparedado, Bolsonaro quer mostrar quem manda: o significado das mudanças no governo
Fernando Azevedo e Silva chegou ao Ministério da Defesa com uma missão: funcionar como uma espécie de “garante” de que o governo de Jair Bolsonaro não atravessaria a linha vermelha, lançando-se em aventuras autoritárias. Antes de assumir o gabinete na Esplanada, o general era assessor de Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal. No...
Fernando Azevedo e Silva chegou ao Ministério da Defesa com uma missão: funcionar como uma espécie de “garante” de que o governo de Jair Bolsonaro não atravessaria a linha vermelha, lançando-se em aventuras autoritárias. Antes de assumir o gabinete na Esplanada, o general era assessor de Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal. No governo de Bolsonaro, ele assumiu o papel de elo confiável entre os poderes.
Discreto, o general resistia a embarcar no perigoso jogo de usar o poder do Exército, da Marinha e da Aeronáutica de acordo com conveniências políticas de momento. Bolsonaro, por seu turno, insistia no desejo de ver sinais eloquentes de apoio das Forças Armadas. Nos comandos das três forças, não havia disposição para isso, e Azevedo virou uma espécie de anteparo para as pretensões presidenciais.
Bolsonaro implicava, em especial, com o comandante do Exército, Edson Pujol, que já fez declarações públicas sobre a necessidade de manter a distância regulamentar entre os quartéis e a política. O presidente, volta e meia, insistia em ver Pujol fora. Azevedo resistia, sempre, porque entendia que era preciso manter sua condição de anteparo intacta.
À frente do Ministério da Defesa, ele havia conseguido um feito. Alinhou como nunca antes as três forças, e criou um ambiente de confiança mútua – a existência de um ministério acima dos comandantes era malvista nos quartéis desde os tempos em que a pasta foi criada e entregue a civis.
Até por esse papel de liderança, o presidente cobrava do ministro um alinhamento maior dos quartéis com ele próprio e com o governo. A pressão pela cabeça de Pujol prosseguiu. Bolsonaro e Azevedo chegaram, então, ao limite da relação. O general não manifestou qualquer interesse em ficar. Chamado ao palácio, ouviu o chefe dizer que queria a cadeira. Respondeu que, se o presidente estava descontente com o trabalho, a troca era absolutamente natural.
Azevedo voltou para seu gabinete, reuniu os auxiliares mais próximos e deu a notícia de que estava de saída. Nesse momento, ele já tinha à mão uma carta manuscrita que, logo depois, seria transformada na nota oficial em que comunicou sua saída. No fim da tarde, ainda havia dúvidas se os três comandantes seguirão nos cargos. Logo após o anúncio da demissão de Azevedo, o trio se reuniu para decidir o que fazer. Se seria o caso de sair já ou esperar a chegada do novo ministro para tomar a decisão.
A troca no Ministério da Defesa acabou por antecipar um movimento de Jair Bolsonaro para exibir poder. Há algo em comum em algumas das alterações anunciadas nesta segunda-feira no primeiro time do governo. Embora tenha feito uma concessão ao Centrão e a Arthur Lira entregando o comando do gabinete que atende às demandas de parlamentares, ele quer se cercar de aliados fiéis, que não questionem suas vontades. Quer se mostrar forte.
Emparedado pelo agravamento da pandemia, pelos desacertos na economia, pela popularidade em queda e pelo acirramento dos ânimos no Congresso, que já não trata mais como algo distante a possibilidade de apeá-lo do cargo caso o país siga perdido em meio à tragédia, o capitão da reserva quer mostrar que ainda pode – e pode muito. E quer manter no canto da sala o fantasma, sempre temido, de que o governo é capaz de endurecer. É um péssimo sinal.
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Comentários (10)
Ruy
2021-04-05 11:08:43Se a grande imprensa (sic) se preocupasse em noticiar, talvez conseguisse recuperar a credibilidade á muito perdida.
JORGE MANUEL DE OLIVEIRA
2021-03-30 19:33:14Enquanto Bolsonaro brincava de batalha naval, a covid matou mais 3.870 brasileiros nesta terça-feira.
Franco Rocha
2021-03-30 15:25:17Parece que habita a mente do PR grande trauma que vem desde a sua tumultuada passagem pelo Exército. Daí ter necessidade de estar sempre reafirmando sua autoridade perante os militares de alta patente, tipo, “quem manda sou eu” , mesmo que para tanto tenha que demiti-los sem justificativa, como ocorreu com o Gal. Azevedo e os comandantes das três forças e o Gal. Santos Cruz. Lamentável!
William
2021-03-30 11:47:19Tudo estava bom quando todos tiravam seu tostão. Parem com essa lacração, Bolsonaro foi eleito democraticamente.
João Arthur Bonorino filho
2021-03-30 11:46:48O povo não suporta mais este jogo perverso entre políticos, legisladores e julgadores corruptos que fazem qualquer coisa para se eternizar no poder e saquear os recursos do país. Este presidente vai entrar para a história como o pior presidente que o país já elegeu. Incompetente, egocêntrico e perigoso! Já está provado que o sistema presidencialista não funciona por aqui. Precisamos de reformas agudas e urgentes para o país não afundar de vez, mas sem este incompetente no poder...
Marcia
2021-03-30 10:53:55Até quando as Forças Armadas suportarão esse presidente ?
ANTÔNIO
2021-03-30 10:23:27Um presidente com muitos problemas psíquicos.
José
2021-03-30 09:33:37Temos visto constantemente os avanços do poder Judiciário sobre o poder Executivo. É preciso ter em mente, sempre, que o Presidente foi eleito em eleições livres. É evidente que acertos e erros são passíveis de avaliação e crítica por parte da sociedade e ações judiciais contra exageros são parte do sistema democrático, mas é querer "tapar o sol com a peneira" não ver que decisões monocráticas tem invadido a competência dos outros poderes. É o desequilíbrio do sistema, que gera ações de força
José
2021-03-30 09:11:32Realmente emparedado! sem força nenhuma!! totalmente na mão do Centrão!! bem feito. Todos nós sabíamos que isso iria acontecer!!
Renato
2021-03-30 00:11:29Em outras palavras, o sujeito não passa de uma criança psicologicamente instável. Está percebendo que o jogjunho está terminando, o time dele está perdendo e quer roubar a bola. Não vai funcionar. Simples assim.