Hamas em colapso
Grupo terrorista sofre com ofensiva de Israel, cisões internas e disputas com clãs em Gaza dois anos após os ataques de 7 de outubro

O massacre de 7 de outubro de 2023, cometido pelo Hamas no sul de Israel, desencadeou uma ofensiva sem precedentes contra as principais lideranças políticas e militares do grupo terrorista palestino.
Dois anos depois, o Hamas encontra-se visivelmente enfraquecido, com a perda do alto escalão, redução de efetivo militar e dificuldades para restabelecer sua nova estrutura de comando.
O Irã, principal financiador bélico do grupo terrorista, também teve sua capacidade reduzida após os ataques realizados por Israel e Estados Unidos durante a chamada Guerra dos 12 Dias, ocorrida em junho de 2025.
Apesar da fragilidade, o Hamas ainda reluta em aceitar completamente os termos do plano de paz proposto pelo governo dos EUA para a Faixa de Gaza, o que poderia significar a extinção do grupo.
Lideranças eliminadas
Em dois anos, as Forças de Defesa de Israel (FDI) eliminaram figuras-chave da cadeia de comando do Hamas.
Entre eles, o líder, Yahya Sinwar (foto), o vice-líder político, Saleh al-Arouri, além de chefes das Brigadas al-Qassam, e comandantes locais, como Muhammad Shabaneh, da Brigada de Rafah.
A liderança política agora está nas mãos de Khaled Mashal, que enfrenta dificuldades para unificar o grupo terrorista, já fragilizado e dividido.
O Hamas tenta se reorganizar, mas os novos comandantes carecem da experiência de guerra de seus antecessores.
As FDI estimam ter eliminado cerca de 25 mil combatentes do grupo terrorista desde o início da ofensiva, mas, segundo o analista militar Ricardo Cabral, impor a derrota total continua sendo um desafio.
"Grupos como o Hamas nascem como uma ideia, na população. Vem do ódio, da falta de esperança e do desejo de vingança. Como se mata uma ideia? É quase impossível. Como nasce no meio da população, você tem que cortar o vinculo entre o grupo terrorista e os civis. Tem que quebrar esse vínculo", afirma.

Apoio em xeque
Ao mesmo tempo, a capacidade do Irã de manter o apoio ao Hamas foi afetada nos últimos meses.
A teocracia comandada pelo aiatolá Ali Khamenei costumava fornecer armamentos ao grupo terrorista, enquanto a Guarda Revolucionária Iraniana (QIRGC, na sigla em inglês) promovia treinamentos militares para seus combatentes.
"Irã não financia um grupo político. Eles financiam o grupo terrorista para ficar lutando, enquanto tentam se fortalecer internamente", analisa Cabral.
Recados
Em 9 de setembro de 2025, Israel realizou um ataque aéreo em Doha, capital do Catar, onde os novos líderes do Hamas estariam reunidos para discutir uma proposta de cessar-fogo.
A ofensiva resultou na morte de um assessor de Khalil al-Hayya, negociador número 1 do grupo.
Os principais líderes, porém, sobreviveram. Ao contrário da população palestina, que vive sob o fogo cruzado, eles curtem a vida no exílio.
O ataque, apesar das críticas internacionais e do posterior pedido de desculpa de Netanyahu por telefone, enviou um recado direto aos países que abrigam o alto escalão do Hamas.
"Foi uma mensagem clara aos países que ainda abrigam as lideranças sobre os custos disso. Desde então, passou a haver uma pressão maior para que o grupo terrorista não apenas liberte os reféns, mas também entregue as armas e se renda, abrindo mão do controle da Faixa de Gaza. O apoio do Catar, Turquia e Egito ao plano de paz proposto por Trump é exemplo disso", afirma Igor Sabino, gerente de conteúdos do StandWithUS Brasil.
Em discurso gravado, Trump fez questão de agradecer aos países árabes pelo empenho e pela interlocução com os terroristas para viabilizar um acordo de paz.
Cisões internas
As cisões internas são um outro problema para o Hamas.
A unidade de elite tem se envolvido em conflito contra clãs locais em disputas por território e controle (leia mais em A guerra dos clãs de Gaza contra o Hamas).
O episódio mais recente ocorreu contra o clã Al-Mujaida, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
Como de costume, os combatentes do Hamas utilizaram crianças palestinas como escudo humano durante os confrontos.
Além disso, há um aparente racha entre as alas militar e política do grupo.
A ala militar defende a resistência armada e rejeita qualquer tipo de negociação.
Líderes políticos, que vivem no exílio, eventualmente pressionam por um acordo de cessar-fogo e por uma saída negociada.
Sem futuro?
O plano de paz de Trump para Gaza prevê a completa desmilitarização e o desmonte do Hamas, além da formação de um novo governo na Palestina sem a participação do grupo terrorista.
Na prática, isso significaria a extinção do Hamas.
Israel e os Estados Unidos não ofereceram ao grupo a possibilidade de transição para uma condição de entidade política.
O Hamas declarou aceitar alguns dos principais pontos do plano, entre eles a libertação dos reféns israelenses.
Mesmo enfraquecido, não quer abrir mão de sua sobrevivência como grupo.
"O Hamas se alimenta do ódio e do ressentimento. Eles não sabem fazer outra coisa. Quem vai querer receber terroristas altamente treinados em seu país? O Hamas só conhece a guerra. A profissão deles é guerra. O que eles têm para oferecer? Onde vão se inserir? Essa luta servia aos interesses dos grupos radicais, como o Irã, que os financia", analisa Cabral.
Apesar do evidente enfraquecimento do Hamas, o futuro da região dependerá não apenas de sua derrota militar, mas da reconstrução social e política do que vier depois.
"O caminho até um acordo ainda será longo e repleto de obstáculos, mas continua sendo o único possível, com todas as adaptações que certamente surgirão ao longo do percurso. Não há outra alternativa", afirma Revital Poleg, ex-diplomata do Ministério de Relações Exteriores de Israel.
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