Foto: Reprodução, TwitterNicolás Maduro preparado para disputar a Olimpíada do Ridículo, com agasalho nas cores da bandeira venezuelana

Toma, que o filho é teu

A farsa eleitoral de Maduro é tão grotesca que tem gente jurando que ele "não é de esquerda"; lamento, amigo esquerdinha, mas esse BO é todo seu
02.08.24

Existe neste momento uma Olimpíada correndo em paralelo à de Paris, caso vocês não tenham notado. Trata-se de uma espécie de Jogos Olímpicos do Ridículo, disputados nas modalidades Mentira Grotesca, Desculpa Esfarrapada e Argumento Patético pelo ditador Nicolás Maduro e seus aliados, na Venezuela ou fora dela — e asseguro que, nessa “Olimpíada”, há muito mais brasileiros com chance de ganhar medalha de ouro que na disputada às margens do Sena.

Não sei nem como começar a descrever os feitos dos candidatos a Katie Ledecky nessa Olimpíada do Ridículo, mas um bom ponto de partida é a fraude eleitoral mais mal-ajambrada da história: o tal Conselho Nacional Eleitoral, que está 100% no bolso do chavismo, decretou a “vitória” de Maduro antes de encerrar a contagem dos votos e, passados quatro dias da votação, não apresentou até agora as atas (deve ser para terem mais tempo de dar aquela ajeitada nos números, usando o Paint ou algum programa de sofisticação semelhante).

Sem falar nos percentuais do CNE para Maduro e seu adversário, Edmundo González, que têm cinco casas decimais idênticas: como no mundo real a chance de isso ocorrer é infinitesimal, ficou muito claro que os chavistas primeiro inventaram os percentuais e saíram deles para o “total de votos”. É um caso em que o velho dilema “burrice ou safadeza?” só pode ser respondido com “ambas!”.

O próprio Maduro é um recordista olímpico e mundial do ridículo: um caudilho latino-americano de opereta, que só não é mais risível porque seu governo tem sido bastante eficiente em prender e matar opositores. Mas e os brasileiros participando dessa empolgante competição? Ah, nós temos craques em todas as modalidades: Lula dizendo que não há nada de “anormal” ou “grave” na fraude escancarada. A Executiva Nacional do PT dando o maiorrrapoio e criticando a “ingerência externa” (expressão que só não vale para a Ucrânia — ali Vladimir Putin pode ingerir à vontade). O Itamaraty fingindo que está muito preocupado com a divulgação das atas venezuelanas e, logo depois, amarelando na hora de votar uma resolução da OEA que estava exigindo exatamente a mesma coisa.

Mas, se me coubesse distribuir medalhas de ouro nesse certame, meus favoritos seriam jornalistas, comentaristas e demais palpiteiros com microfone. Tem o time dos que caçam qualquer justificativa para dizer que, veja bem, González e María Corina Machado também não são santos, essa oposição aí tem um pezinho no fascismo (entenda “fascista”, no caso, como qualquer um que não grite vivas à revolução bolivariana). Eles até acham que fraude não é muito legal, atirar em manifestante é meio desagradável e tal, mas não tem jeito: para continuar agradando ao Painho daqui, têm de pegar leve ao falar do Painho de lá. E tem —por exemplo, na Jovem Pan do lulismo, também conhecida como GloboNews — aquela turma que garante que Maduro “não é de esquerda”, espectro político constituído exclusivamente por serafins, querubins e outros seres angelicais.

Todo mundo sabe que filho feio não tem pai, mas querer empurrar o ditador da Venezuela, presidente do Partido Socialista Unido venezuelano e herdeiro de Hugo Chávez (aquele do “socialismo do século 21”), para longe da esquerda estoura todos os limites na escala Richter do ridículo. É fato que a direita também tem grandes campeões no quesito ditaduras/regimes autoritários, mas esse filho hispanohablante, bigodudo e meio burrão, mesmo sem ter o charme e o veneno de Stálin, Pol Pot e Mao Tse-tung, é todo seu, esquerda. Nem vem que não tem.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Para continuar no tema olímpico: Marta (foto), maior nome do futebol feminino brasileiro, com 38 anos e seis Olimpíadas no currículo, fez uma falta violenta e completamente desnecessária no jogo em que o Brasil perdeu para a Espanha por 2 a 0. Ela levantou demais a perna, acertou a cabeça da espanhola Olga Carmona e recebeu — com justiça — cartão vermelho direto. Vocês acreditam que houve comentarista atribuindo “50% da culpa” pela expulsão ao técnico da seleção feminina, Arthur Elias? Não sei se ele é culpado por simplesmente escalar Marta (imagino a grita se não escalasse) ou se foi ele que meteu o manto da invisibilidade, entrou em campo e levantou a perna da camisa 10 até ela atingir a cabeça de Olga Carmona. Não importa: só pode ser homem fazendo homice.

 

Foto: Thais Magalhães/CBF

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  1. Maduro parece uma sátira do caudilho sul americano. Pena ser a autoridade máxima de um regime assassino, acaba com todo charme da sátira ao vivo.

  2. Fiquei muito surpreso e feliz quando vi o seu nome na edição desta semana. Estava quase cancelando a assinatura, mas ainda bem que já renovou. Como sempre, texto com altíssimo nível de ironia e lucidez, em estilo inconfundível. Obrigado!

  3. Feliz por ver você de volta, Rui Goyaba! As duas olimpíadas em paralelo só poderiam sair da tua cachola… mas o apoio do tal painho vai sair caro, se a final demorar a acontecer no sistema venezuelano, já que apodreceu de vez, vai sim, será caríssimo!

  4. Que prazer ter o Rui de volta. Precisei tentar inúmeras vêzes até conseguir abrir o artigo. Alguém de TI precisa resolver isso!

  5. Bem vindo de volta Ruy. Estava com saudades das suas crônicas. Um dos poucos momentos de relax na nossa realidade conturbada. Será que Natusa Neri vai ler também?

  6. Como sempre: novo governo socialista/comunista é saudado como o "verdadeiro socialismo/comunismo". O programa político invariavelmente leva o país à ruína. Vem a ditadura. Prisões e mortes. Aí a esquerda responde como clássico "não é o verdadeiro socialismo/comunismo". Ou (essa é nova): "é um governo de direita", como declarou o "militonto" valdo cruz, vergonhoso defensor de censura de memes (taxad mandou um abraço).

  7. Você é bom demais, Ruy! O texto sobre a Venezuela já nasce histórico e como democrata agradeço demais a você por tê-lo escrito.

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