Maria Paula Magalhães: “O Jogo do Tigrinho é um caça-níquel”

19.07.24

A psicóloga Maria Paula Magalhães de Oliveira, que coordena o programa ambulatorial Pro-Anjo do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, afirma que a disseminação de jogos de azar pela internet, como o Jogo do Tigrinho, aumentou a procura pelo atendimento de profissionais de saúde mental por viciados em jogos de azar.

Contudo, segundo ela, não há leis que proíbam as propagandas desses jogos nas redes sociais, e nem uma rede de profissionais grande o suficiente para socorrer tantas pessoas.

A situação atual mostra que a regularização dos jogos de azar, que está sendo debatida no Congresso, tende apenas a aumentar o problema.

Ainda que a lei tente criar mecanismos para coibir a propaganda e lidar com os viciados, essas políticas nunca foram eficientes no Brasil.

Infelizmente, não temos investimento em saúde no Brasil, nem para capacitar profissionais, nem para montar centros de atendimento e muito menos para prevenção. As pessoas não sabem o que é transtorno de jogo. Ninguém tem noção de que isso é uma doença e que merece tratamento“, diz Maria Paula Magalhes de Oliveira, em conversa para o Crusoé Entrevistas.

O “transtorno de jogo” foi classificado como doença em 1980. Antes, seu nome era “jogo patológico“.

Ele funciona de uma maneira muito diferente da dependência de drogas, inclusive agindo no sistema nervoso central“, diz a psicóloga.

Pessoas com transtorno de jogo têm vergonha do problema, e normalmente escondem seu vício.

A pessoa com transtorno de jogo quer parar e não consegue. Arrepende-se quando joga. Passa boa parte do dia preocupada em arrumar dinheiro para pagar as dívidas. Fica angustiada quando não pode jogar. Mente para esconder a extensão do problema, o que coloca em risco relacionamentos significativos, prejudica o indivíduo no estudo e no trabalho“, diz Maria Paula.

Conforme a pessoa vai perdendo dinheiro, ela tende a apostar mais, na esperança de reaver os valores que perdeu. “A grande armadilha é que, de vez em quando, a pessoa ganha“, afirma.

Maria Paula também critica a popularização dos jogos de azar na internet com uma roupagem infantil, para enganar as pessoas e esconcer os enormes riscos. “O Jogo do Tigrinho é um caça-níquel, mas que é lúdico, é colorido, como um desenho“, afirma ela.

 

Assista abaixo à entrevista com Maria Paula Magalhães:

 

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  1. Excelente e oportuna entrevista!! Ganância e capitalismo selvagem nos massacrando o tempo inteiro com jogos e apostas em todas as mídias, atingindo todos os níveis da sociedade. Virou epidemia! Hj tds temos algum parente, amigo ou conhecido viciado em apostas! Lamentável a postura dos nossos políticos!!

  2. É o mundo despencando ladeira abaixo direto para o precipício final, Kedma… e o nosso Brasil sendo conduzido por hordas de despreparados e irresponsáveis legislando, aplicando as leis e governando.

  3. Eu não entendo como ficam me enviando frequentemente propagandas da BLAZE, via SMS. Isso não poderia acontecer jamais!

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