Corinthians via InstagramParecia que não podia piorar, mas piorou de uma forma espantosa

O rebaixamento anunciado

É como se todo mundo soubesse que o maior campeão paulista vai cair mais uma vez para a Série B, e ninguém pudesse fazer nada para evitar
14.06.24

Escrevi sobre o provável rebaixamento do Corinthians para a Série B do Campeonato Brasileiro em 9 de fevereiro, na crônica O homem que foi segundona: um pesadelo corintiano. O Campeonato Paulista ainda não tinha terminado, e o time do Parque São Jorge ainda enfrentava o risco de cair no estadual. Não caiu, mas também não passou da fase de grupos, o que já foi humilhante o bastante. E quase nada melhorou desde então.

Àquela altura, a situação já era caótica. Parecia que não podia piorar, mas piorou de uma forma espantosa. O clube perdeu uma série de diretores após uma denúncia de irregularidade sobre o contrato com a nova patrocinadora, VaideBet, que tomou o lugar da PixBet com a pompa de maior patrocinador máster do Brasil.

Em 6 de junho, o Corinthians perdeu também o contrato com a própria VaideBet, que não quer o nome associado com corrupção. Não bastasse, depois de se livrar de seu maior ídolo, que garantiu alguns dos maiores triunfos do time e protegeu o gol nos piores momentos recentes da equipe, o clube também vê escapar o goleiro Carlos Miguel, que tem evitado resultados piores no lugar de Cássio.

Dentro de campo, os corintianos até conseguiram se virar na Copa Sul-Americana e na Copa do Brasil por enquanto, com atuações ruins, mas eficientes contra times mais humildes, e parecem ter encontrado um treinador que não vai tornar tudo ainda pior. No Brasileirão, contudo, as atuações ruins não são o bastante e os alvinegros encaram a realidade de lutar contra o rebaixamento.

O presidente do clube concedeu uma entrevista coletiva nesta semana que ajuda a entender a situação do clube. De peito aberto, Augusto Melo falou muito mais do que devia e, comprando brigas desnecessárias com repórteres, chegou a botar em risco outro patrocínio, da Ezze Seguros, ao insinuar que a antiga diretoria, de Duílio Monteiro Alves, tinha fechado um contrato irregular.

O Corinthians vive hoje entre dois grupos rivais: o antigo, que deixou muitas desconfianças, e o atual, que não parece capacitado para resolver os problemas plantados pelos antecessores. O clube tem uma dívida alta, muito por conta de um estádio erguido de forma irresponsável, está sem patrocinador e especula-se sobre o impeachment de seu presidente.

“O que nós queremos é um clube são, um clube estável, um clube onde existe a paz. Para nos transmitir também isso, essa segurança, essa estabilidade, para nós podermos desempenhar as nossas funções”, comentou o treinador António Oliveira após o empate com o Atlético Goianiense por 2×2, mais um jogo em que o Corinthians pontuou sem merecer — Yuri Alberto marcou os dois gols nas duas únicas chances do time na partida.

A situação do Corinthians é tão preocupante que obscurece até a situação do Vasco, outro gigante nacional que também flerta com o rebaixamento como consequência de confusão administrativa da dona de sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF), 777. É como se todo mundo soubesse que o maior campeão paulista vai cair mais uma vez para a Série B, e ninguém pudesse fazer nada para evitar.

“Muitos dos que estavam no porto sabiam que iam matar Santiago Nasar. Dom Lázaro Aponte, coronel de academia em gozo de boa reforma e prefeito municipal há onze anos, cumprimentou-o com os dedos. ‘Eu tinha razões muito fortes para acreditar que não corria mais nenhum perigo’, disse-me. O padre Carmen Amador também não se preocupou. ‘Quando o vi são e salvo pensei que tudo havia sido uma mentira’, disse-me. Ninguém perguntou sequer se Santiago Nasar estava prevenido, porque todos acharam impossível que não o estivesse”, diz um trecho de Crônica de uma Morte Anunciada.

A diferença para o clássico de García Márquez é que a crônica do rebaixamento anunciado do Corinthians parece já estar escrita, antes mesmo da confirmação da queda.

 

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