Alan Santos/PRLira em evento de distribuição de casas: poder reduzido

O vacilo de Lira

Superbloco formado por Podemos, MDB, PSD e Republicanos reduz o poder do Presidente da Câmara
30.03.23

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), passou as últimas semanas em uma cruzada contra o Senado. Na guerra das medidas provisórias, as MPs, ele fez frente à decisão do presidente da Casa vizinha, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de retomar as comissões mistas, tirando dos deputados o poder de iniciar a tramitação desses textos. Lira foi bastante resoluto nessa disputa, mas deixou passar despercebida a consolidação de um superbloco, cujo posicionamento no xadrez político ainda é uma incógnita, tanto para Lira, quanto para o próprio governo.

Era quarta-feira (28), cerca de 15h, quando Podemos, MDB, PSD e Republicanos protocolaram a criação de um grupo partidário reunindo 142 deputados. O anúncio pegou Lira de surpresa, conforme relataram congressistas próximos ao deputado alagoano. E ele deve ser um dos principais prejudicados.

O Lira perde porque fica com menos poder de negociação. O superbloco representa uma coisa nova na cena política e Lira vai ter de negociar mais para as votações”, diz o cientista político André Pereira César.

Para o governo, que busca avançar votações como da reforma tributária e do arcabouço fiscal, além de querer evitar qualquer processo de impeachment, o superbloco também deve exigir mais trabalho.

Isso demandará um esforço extra, porque o Lira era uma figura toda-poderosa. Então o governo poderá até falar mais grosso com o Lira, mas também terá mais dificuldade para negociar com esse novo ator, o superbloco”, diz Pereira César, lembrando que a briga das MPs ainda não está concluída e os desdobramentos seguem em aberto.

A construção do superbloco foi orquestrada pelos presidentes do MDB, Baleia Rossi, e do PSD, Gilberto Kassab, em conversas que iniciaram há pouco menos de um mês, logo após PP e União Brasil anunciarem a intenção de formalizar um bloco com 109 deputados. A promessa era de que esse seria o maior grupo partidário da Câmara.

Kassab e Baleia empreenderam, então, uma corrida contra o tempo, em articulações silenciosas. Em uma Casa que opera pela proporcionalidade, eles precisavam reunir um número suficiente de aliados para não serem engolidos pelo possível grupo de Lira, nem por núcleos bolsonaristas que seguem operantes no Legislativo.

MDB e PSD integram o governo Lula (PT), inclusive com ministérios. São siglas conhecidas, entretanto, pelo fisiologismo. O objetivo de Kassab e Baleia era, assim, atrair siglas de tamanho semelhante e de perfil tão pragmático quanto o deles.

Alijados da Esplanada, Podemos e Republicanos abrigam oposicionistas ferrenhos à gestão Lula (PT), nomes outrora aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mas hoje “independentes”, e até personagens com inserção no Palácio do Planalto. No grupo estão, por exemplo, integrantes da bancada evangélica, o lajavatista Deltan Dellagnol (PR) e o deputado Silvio Costa Filho (PE), um dos interlocutores do Republicanos junto ao governo petista.

O escolhido para liderar o grupo é Fabio Macedo (Podemos-MA). Ele integra o núcleo-duro do ministro da Justiça, Flávio Dino, no Congresso. Macedo está no primeiro mandato na Câmara e era deputado estadual da base quando Dino governava o Maranhão. “Fui deputado com Dino. Na época eu era do PDT”, diz ele a Crusoé.

Nós vamos trabalhar unidos no bloco. Setenta por cento dos membros é da base governista, mas os demais não são e isso será respeitado, porque a oposição é importante. Temos de saber o que é importante para o Brasil”, diz o líder recém-empossado no cargo, indicando que o grupo rejeitará a pecha de independente, mas também de governo ou oposição. “Eu sou governo, mas cada posição será respeitada”, diz Macedo.

O que se sabe até o momento é que o grupo vai procurar manter distância da pauta de costumes e irá apostar em um viés de centro-direita, isto é, liberal nas questões econômicas. Com uma composição eclética e um histórico de fisiologismo, é melhor não botar tanta fé na perseguição desses objetivos. O certo é que as negociações que o governo terá de empreender no Congresso deverão ficar mais complexas — e talvez mais caras.

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  1. Infelizmente ainda é pequeno, mas se fosse grande o Novo* seria um contraponto a todas essas armações … *novo.org.br

  2. Consolida-se mais um bloco fisiológico de Deputados Feudais, ops, digo, Deputados Federais. Todos juntos e misturados, incluindo o governo do senil, em nome dos pobres e desamparados desse país. E dá-lhe imposto, que é roubo, para sustentar a corja.

  3. Pois é... O tabuleiro político ainda está em fase de consolidação. O Lira vai ter que falar mais fino se quiser manter o seu poder.

  4. O Brasil nunca pára de surpreender. Temos partidos sem compromisso ideológico, alianças pontuais entre opositores ferrenhos e, agora, um bloco que não tem coesão sequer na postura ante o governo. Não se pode esperar nada que não seja empunhar poder de barganha para mamar no fisiologismo habitual

    1. As peças do Tabuleiro da Cleptocracia se movendo $$$

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